Em busca de liberdade, Ana Paula vai sozinha ao trabalho, na Vila Angélica
Trocar os pés pelos joelhos foi a única alternativa que Ana Paula Fernandes, 37 anos, teve para se locomover sozinha e ser mais independente. Ela nasceu com paralisia cerebral e teve apenas a coordenação motora afetada. Estudou até o 4° ano do ensino fundamental e nunca foi lhe oferecido um emprego.
As dificuldades que a vida lhe apresentou não acabaram com sonho de ter uma cadeira de rodas motorizada. A família humilde, composta por cinco pessoas que sobrevivem com menos de R$ 1.500 por mês, nunca pode comprar o equipamento, que custa R$ 10 mil.
Decidida a conquistar esse objetivo, Ana Paula começou a trabalhar cuidando de veículos no estacionamento de uma agência bancária na avenida Ipanema, próximo ao Pronto-Atendimento da Zona Norte.
Já faz dez anos que a guardadora de carros fica debaixo do sol ou de chuva das 9h às 16h. Ela mora cerca de 200 metros do serviço. Quem estaciona no local sempre lhe dá algumas moedas. “Até tentamos impedi-la de trabalhar porque as pessoas acham que a obrigamos, mas ela sempre quis conquistar sua independência, ter a própria renda”, conta a mãe, a cozinheira Maria de Fátima Fernandes, 54.
Com o salário, a guardadora comprou roupas, televisor, DVDs, ajuda em casa e economiza para comprar a cadeira motorizada. “Outro sonho é casar e ter filhos”, revela a mãe.
Garra/ Quem passa pela avenida Ipanema e a vê de joelhos fica curioso para conhecer mais dessa pessoa tão determinada, disposta a viver e a buscar a felicidade.
A musculatura da articulação das pernas está enfraquecida e, por isso, não há forças para manter-se em pé. Ana Paula tentou diversas vezes andar. Passou por 15 cirurgias, usou órtese e fez fisioterapia. Ela se locomove de joelhos, pois o braço esquerdo é atrofiado, impedindo que empurre a própria cadeira de rodas.
Para não machucar os membros ela utiliza uma joelheira de esportista como se fosse o par de calçados. “Compro uma joelheira por mês. Rasga fácil e pago R$ 35, o par”, relata. A cadeira foi comprada em uma loja de usados por R$ 30 e o assento é um pedaço de tábua.
A guardadora trabalha próxima à uma clínica de fisioterapia. “Nunca me ofereceram ajuda. Parei o tratamento porque dependo de alguém para me levar”, conta.
A mãe de Ana Paula diz que sempre tentou tratamento próximo de casa, mas nunca conseguiu. “Pessoas para ajudar são poucas. Quando ela ganhou a órtese, há 20 anos, teve de ajustar e uma vereadora da época disse que faria isso, pegou o aparelho e sumiu”, conta a mãe, emocionada com as dificuldades que a filha teve de enfrentar.
Maria de Fátima relata que carregou a filha no colo até os 14 anos. “Não havia condições de carregá-la e a coloquei na cadeira.” Ela complementa: “As barreiras que encontramos para que ela continuasse a fisioterapia impediu o tratamento. A desistência foi uma atitude errada, as pernas ficaram mais atrofiadas”.
Paralisia cerebral/A causa da doença pode ter ocorrido durante a gravidez, o parto, no desenvolvimento da criança ou até mesmo por genética.
Fisioterapeuta traz esperança: ‘Você pode conseguir andar’
O caso de Ana Paula Fernandes chamou a atenção dos fisioterapeutas Nelson e Anderson Nolé. Ao examiná-la, eles descobriram que as pernas não têm flexibilidade, mas que com sessões de fisioterapia a musculatura poderá ser fortalecida e o auxílio de órtese poderá dar a liberdade tão sonhada pela guardadora de carros. “Você pode caminhar”, atesta Nelson. “É tudo o que quero. Poder andar, ir para onde quiser, trabalhar e voltar a estudar”, responde Ana Paula, com imenso sorriso no rosto.
Enquanto o tratamento não é iniciado, uma campanha será realizada pelos empresários para doar uma cadeira motorizada à ela. “Ela terá de voltar à fisioterapia para a órtese ser feita depois e sob medida, o que lhe dará estabilidade para caminhar”, explica Nelson. “A cadeira motorizada é a indicação mais apropriada para o momento”, complementa.
Anderson destaca a importancia da fisioterapia. “As pernas, os pés e o braço ficaram atrofiados por causa da interrupção do tratamento”, diz. “Quem faz um ano de fisioterapia, se parar por dois meses, perderá tudo o que alcançou”, acrescenta.
Ana Paula deve fazer fisioterapia na Unip, onde há atendimento de graça à população. Lá são oferecidas sessões de fisioterapia em geral, como hidroterapia, neuroterapia e ortopedia.
O interessado deve passar por consulta médica. O especialista encaminha carta, que deve ser entregue pessoalmente na universidade – que fica na avenida Independência, 210 – para marcar a avaliação. A lista de espera costuma ter até dez pessoas e são cerca de 60 vagas.
A Aderes também atende pessoas portadoras de deficiência. Sessões de fisioterapia, hidroterapia e fonoaudiologia são oferecidas. Para ser associado, uma taxa de contribuição é cobrada. A associação fica na rua Francisca Bueno, 180, Vila Ana Maria.
Acidente de trânsito
Entre dez amputações de membros, oito são por acidente de moto e as vítimas são jovens.
Doença
A diabetes e o cigarro são as causas que levam sete pessoas, entre dez, perder um membro.
Diferenças
A prótese substitui um membro amputado. Já a órtese é encaixada, seja na perna ou braço, para auxiliar os movimentos.
Campanha
Para ajudar na doação da cadeira de rodas motorizada, basta entrar em contato com a Conforpés, pelo telefone (15) 3229-2929.
http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/9859/Mulher+com+paralisia+cerebral+da+licao+de+vida
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