Fenômeno nos anos 1990, igreja perdeu mais de 10% do seu público
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Duas novas igrejas são a maior ameaça à Universal: a Mundial do Poder de Deus e a Graça de Deus
O mundo evangélico pentecostal sofreu mudanças significativas na última década. Fenômeno dos anos 90, a Igreja Universal do Reino de Deus perdeu quase 230 mil fiéis em dez anos, passando de 2,101 milhões para 1,873 milhão. Uma queda de mais de 10%.
No universo chamado neopentecostal (que exclui a Assembleia de Deus, mais tradicional), duas novas igrejas são a maior ameaça à Universal. Segundo técnicos do IBGE, os microdados mostram que a Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago, já arrebanhou 315 mil fiéis. A outra grande dissidência é a Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R.R.Soares. Ainda não há dados disponíveis sobre o número de fiéis da Igreja Internacional.
Somadas ao fenômeno do crescimento dos evangélicos sem vínculo com igrejas, as novas denominações fizeram diminuir também o número de fiéis de outras igrejas, como a Nova Vida e a Congregação Cristã do Brasil.
Universal perdeu 10% dos fiéis em 10 anos
Outras igrejas evangélicas enfraqueceram a de Edir Macedo; fiel é mais independente
RIO - O Estado de S.Paulo
Um novo tipo de evangélico, mais "independente", e a multiplicação de novas igrejas causaram forte impacto na Igreja Universal do Reino de Deus, fenômeno religioso dos anos 1980 e 1990, fundada por Edir Macedo. Entre 2000 e 2010, a Universal perdeu 228 mil fiéis, ou 10% de seus adeptos. Os 2,1 milhões de frequentadores em 2000 caíram para 1,8 milhão em 2010.
No sentido oposto, os números do Censo 2010 mostram a explosão de fiéis que se dizem apenas evangélicos, mas não estão vinculados a nenhuma igreja. Segundo técnicos do IBGE, eles tanto podem não frequentar cultos como podem circular entre várias igrejas diferentes e por isso preferem não citar nenhuma específica.
Considerados no Censo como integrantes de religiões "evangélicas não determinadas", esses fiéis saltaram de menos de 1,7 milhão em 2000 para 9,2 milhões em 2010. Eles equivaliam a apenas 1% da população, mas hoje são 4,8% e estão acima dos espíritas (2%) e dos adeptos de outras religiões (2,7%).
"O evangélico não determinado comunga do ritual, da música, que é um fator de grande atração, mas não vai dizer 'eu sou de tal igreja'. Ele comunga de um tipo de crença que existe no universo evangélico, mas não quer vínculo institucional", resume a professora Sílvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Pequenas igrejas. Outro fenômeno que se intensifica e ainda está em estudo pelos pesquisadores é a profusão de pequenas igrejas pentecostais pelas quais os evangélicos circulam. "A gente nem tem nome para classificar essas igrejas ainda", diz Sílvia. "Pode ser de um pastor que toca funk na garagem, um fiel filma, vira um sucesso no YouTube. Ou a pastora que faz um reggae com duas palavras e lota a igreja. O grande salto é essa intensificação do pluralismo. O que o catolicismo viveu com a Universal no passado a Universal vive agora com as novas denominações."
Essas novas igrejas estão divididas em dois tipos. De um lado, as menores, mais festivas, que atraem jovens. De outro estão as igrejas inspiradas na Universal, com um grande líder, templos enormes e cultos temáticos.
Fundada em 1998 por um ex-fiel da Universal, Valdemiro Santiago, a Igreja Mundial do Poder de Deus é uma das ameaças ao poderio da Universal. Segundo o Censo, ela já tem 351,4 mil fiéis. Aproxima-se de outra concorrente da igreja de Macedo, a Internacional da Graça de Deus, fundada por R .R. Soares, também oriundo da Universal, em 1980. A Igreja Internacional tinha 356 mil adeptos em 2010, segundo o Censo.
"Essas igrejas estão na linha dos eventos de massa, agregam muitas pessoas em busca de cura, estão menos voltadas para a sociabilidade e mais para a solução de problemas. Elas recolhem demandas para ver as mais comuns e criar cultos voltados para esses problemas. As pequenas igrejas não são tão estratégicas", diz Sílvia Fernandes.
No meio evangélico, somando pentecostal e tradicional, a Assembleia de Deus se firma como a maior e mais sólida igreja. Ela ganhou quase 4 milhões de novos adeptos, um crescimento de 46%, e tem 12,3 milhões de fiéis. "É uma igreja pentecostal clássica e cresce porque se diversifica. Existe uma parte mais radical e outra mais renovada", diz Sílvia.
A bióloga Myrian Duarte, de 28 anos, confirma a explicação da professora. Após 15 anos frequentando os cultos da Assembleia de Deus "tradicional", ela mudou para a Assembleia de Deus - Vitória em Cristo, que, segundo ela, é um pouco mais liberal. "Na outra não podia usar calça, brinco, camisa regata", comenta. "Além disso, lá tinha muita disputa. As pessoas falavam 'eu canto mais que você, eu rezo mais que você' e isso me deixava muito chateada."
No caso da bibliotecária Gabrielly Costa, de 23 anos, a troca de igreja aconteceu por causa de uma paixão. Aos 19 anos, ela se interessou por um jovem que não queria frequentar a Assembleia de Deus. Então ela sugeriu que os dois passassem a assistir aos cultos da Bola de Neve Church, conhecida por atrair o público jovem. "Mudar de igreja eu não queria, porque meus amigos estavam na Assembleia, mas valeu a pena. Vou me casar em 2013", afirma. Outro que está feliz com a troca da Assembleia pela Bola de Neve é o administrador de empresas Jean Santos, de 25 anos. "Eu queria um pastor como amigo, para desabafar, não para me julgar", diz.
C.T. e L.N.L. COLABOROU LUIS CARRASCO