Deus próximo
Artigo escrito por D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei, por ocasião do quinto aniversário da eleição de Bento XVI (publicado no jornal Folha de São Paulo).
COMPLETAM-SE cinco anos da eleição do cardeal Joseph Ratzinger como sucessor de são Pedro à frente da Igreja Católica.
Dentre os motivos de agradecimento a Bento 16, gostaria de ressaltar a sua constante ação por dar a conhecer o Deus próximo. Essa expressão -extraída do título de um livro seu sobre a eucaristia- é um modo afetuoso de falar do Criador, que a fé nos mostra amoroso e próximo, interessado pelas suas criaturas, como afirmava um santo dos nossos dias.
De fato, são Josemaria recordava com frequência que, em meio à agitação cotidiana, às vezes "vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um pai amoroso -quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos-, ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando... e perdoando" ("Caminho", 267).
Deus, que não está sujeito ao tempo, assume o tempo em Jesus Cristo e entrega-se à humanidade. Como relembra frequentemente o papa, Deus fez-se homem para que pudéssemos mais facilmente acolhê-lo e amá-lo.
E, ao longo desses anos, mostrou, de modo incisivo, incansavelmente, que Deus é amor e que ninguém começa a ser cristão em razão de uma decisão ética ou de uma grande ideia, mas pelo encontro com uma pessoa -Jesus de Nazaré- que abre um horizonte novo à vida ("Deus Caritas Est", 1).
Jesus percorre os caminhos da Palestina e nota a dor dos seus contemporâneos. Por isso, quando se conhece e se ama ao "Deus próximo", o cristão não fica indiferente à sorte dos demais. É o "círculo virtuoso" da caridade: a proximidade com Deus alimenta a proximidade com os homens, provoca a "disponibilidade para os irmãos e para uma vida entendida como tarefa solidária e jubilosa" ("Caritas in Veritate", 78).
Como Bento 16 entende a sua missão de cabeça da Igreja universal?
Na missa do início do pontificado, explicava que a missão do pastor poderia parecer pesada, mas na verdade apresentava-se como uma tarefa "bela e grande, porque é um serviço à alegria, à alegria de Deus que quer entrar no mundo".
Naquela mesma ocasião, afirmava que "não há nada mais belo do que ser alcançados, surpreendidos, pelo Evangelho, por Cristo", e que "não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar com os outros a Sua amizade" (Homilia, 24/4/2005).
Assim vê o papa a sua missão: comunicar aos demais a alegria que procede de Deus. Despertar no mundo um novo dinamismo de compromisso na resposta humana ao amor de Deus.
Nesses cinco anos de pontificado, não faltaram ao papa ataques promovidos por quem está empenhado em arrancar o Criador do horizonte da sociedade civil; também não estiveram ausentes os sofrimentos diante da incoerência e dos pecados de algumas pessoas chamadas a ser "sal da terra" e "luz do mundo" (Mt 5, 14-16).
Nada disso nos deve assustar, pois as dificuldades fazem parte do itinerário normal do cristão, já que não é o discípulo maior que o mestre, como afirmou Jesus Cristo: "Se me perseguiram, também vos perseguirão""(Jo 15, 20). Ao mesmo tempo, não esqueçamos que o Senhor acrescentou: "Se guardaram a minha doutrina, também guardarão a vossa" (ibidem).
Aqui reside o otimismo indestrutível do cristão, sustentado pelo Espírito Santo, que nunca desampara a Igreja. "Historia docet": quantas vezes, ao longo de 20 séculos, levantaram-se vozes agoureiras, anunciando o fim da Igreja!
No entanto, sob o impulso do Paráclito, tão logo se superaram as dificuldades, ela se mostrou mais jovem e mais bela, mais cheia de energias para conduzir os homens pelos caminhos da salvação.
Constatamo-lo nesses anos: a autoridade moral e intelectual do papa, a sua proximidade e o seu interesse por aqueles que sofrem, a sua perseverança na defesa da verdade e do bem, sempre com caridade, fortaleceu homens e mulheres de todas as crenças.
O romano pontífice continua sendo um foco que ilumina as complexas vicissitudes terrenas.
No exercício da minha tarefa episcopal, milhares de pessoas -católicos, não católicos e também numerosos não cristãos- testemunharam-me que as respostas sólidas e cheias de esperança de Bento 16 diante dos diversos dramas da humanidade significaram para eles confirmação no Evangelho ou motivo para aproximarem-se da Igreja e, sobretudo, um renovado interesse por descobrir o "Deus próximo" que o papa proclama.
Somos muitos os que nos sentimos diariamente enriquecidos por esse anúncio alegre de Bento 16, enriquecido pela luz da fé, exposto com todos os recursos da inteligência, com uma linguagem clara e com o testemunho da sua relação pessoal com Jesus Cristo. Que o Senhor o conserve por muitos anos como guia da Igreja, para o bem da humanidade inteira.