O Brasil aparece mal em um novo “indicador de riqueza inclusiva” que será apresentado oficialmente na Conferência Rio+20, em junho, no Rio de Janeiro. O motivo: o país estaria consumindo sua “riqueza natural” praticamente no mesmo ritmo que aumenta sua riqueza humana e econômica. A conclusão implícita é que o crescimento do PIB brasileiro nas últimas duas décadas se deu à custa da diminuição de seu estoque de florestas, reservas minerais e de combustíveis fósseis.
Entre 1990 e 2008, período a que se refere o novo indicador, o PIB do Brasil cresceu 34%. Ao mesmo tempo, a soma das riquezas naturais brasileiras teria decaído 46%, segundo os autores do estudo, cuja prévia foi apresentada nesta quarta-feira, em Londres, durante a conferência “Planet Under Pressure” (planeta sob pressão). Como resultado, a evolução da “riqueza inclusiva” brasileira foi pífia: apenas 3% em 18 anos.
Uma visão detalhada da evolução dos indicadores que compõem o novo índice pode ser vista no gráfico abaixo. Todos os ganhos de “capital humano” são praticamente anulados pela perda de “capital natural”. O período compreende os governos Collor, Itamar, FHC e Lula.
O novo indicador foi criado pelo “International Human Dimensions Programme on Global Environment Change” (UNU-IHDP), ligado à Universidade das Nações Unidas. Seu diretor-executivo, Anantha Duraiappah, pretende apresentar o primeiro relatório mundial de “riqueza inclusiva” durante a Rio+20, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Nessa primeira versão, o relatório deverá analisar o crescimento de 20 países sob a ótica do novo indicador: Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Equador, França, Alemanha, Índia, Japão, Quênia, Nigéria, Noruega, Rússia, Arábia Saudita, EUA, Reino Unido e Venezuela. Juntos, eles produzem 72% do PIB mundial e abrigam 56% da sua população.
Embora ainda não se conheça em detalhes a metodologia do novo indicador nem o seu resultado para todos esses países, não é difícil imaginar que as nações em desenvolvimento apresentem um resultado pior do que as desenvolvidas. Por uma razão simples: elas ainda têm capital natural para gastar, enquanto os países ricos já consumiram suas florestas e boa parte de seus recursos naturais enquanto estavam se desenvolvendo.
A Índia também aparece mal no novo indicador, embora melhor do que o Brasil: seu PIB cresceu 120% no período analisado, enquanto seu capital natural diminuiu 31%. Na média, a “riqueza inclusiva” indiana teria crescido 9% entre 1990 e 2008.
“A pesquisa sobre o Brasil e a Índia ilustra a razão pela qual o Produto Interno Bruto (PIB) é inadequado e enganador enquanto indicador de progresso econômico em uma perspectiva de longo prazo”, diz Anantha Duraiappah, do UNU-IHDP. E acrescenta: “Um país pode exaurir completamente todos os seus recursos naturais ao mesmo tempo que seu PIB cresce.”
A “riqueza inclusiva” não é o primeiro indicador apresentado por um braço da ONU para substituir o PIB como parâmetro de desenvolvimento. Há mais de 20 anos o PNUD lança, anualmente, seu relatório de desenvolvimento humano, no qual as nações são classificadas segundo um índice composto, o IDH, que soma indicadores de educação e longevidade ao PIB.
Resta saber se o “indicador de riqueza inclusiva” vai ganhar destaque e relevância ou se vai ser apenas mais um índice na selva estatística que cresce a cada ano. Também será curioso observar a reação do governo brasileiro ao lançamento oficial do novo índice durante a Rio+20. O anfitrião vai virar vidraça.