Carta Mensal Novembro/2009 - 01/11/2009
Carta MCC Nov/09 – (123ª)
“Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. Pois está na Escritura: “Sereis santos porque eu sou santo” (1Pd 1,15-16).
Meus muito amados leitores e leitoras, sempre presentes na minha oração e na Eucaristia cotidiana: Motivado pelo tema sobre o qual os convido a refletir nesta carta, permitam-me estender, fraternalmente, a cada um e a cada uma de vocês a mesma saudação de São Paulo quando, ainda na Grécia (Corinto), cheio de uma santa ansiedade, desejava ardentemente (cf. Rm 1,15) visitar a comunidade cristã de Roma: “A vós todos que estais em Roma, amados de Deus e santos por vocação: graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor, Jesus Cristo” (Rm 1,7). A celebração litúrgica de Todos os Santos no dia primeiro de novembro convida-nos a refletir sobre uma realidade de nossa fé à qual, talvez nem sempre, damos a devida atenção não obstante ser ela fundamental para a nossa vivência cristã. Por isto, esta nossa reflexão, embora breve, poderá ocupar-nos todos os dias deste mês de novembro. Trata-se da santidade. Acompanhemos atentamente alguns pontos que, sem dúvida, tornarão mais acessível a nossa peregrinação rumo à santidade.
1. O que podemos entender por santidade? Santidade nada mais é do que caminhar para a busca da perfeição, guiados pelo Espírito Santo de Deus na prática do Evangelho, da Boa Notícia que Jesus veio anunciar à humanidade. E onde podemos encontrar a raiz da santidade? A raiz da santidade está no batismo: “A condição do discípulo brota de Jesus Cristo como de sua fonte pela fé e pelo batismo e cresce na Igreja, comunidade onde todos os seus membros adquirem igual dignidade e participam de diversos ministérios e carismas. Deste modo, realiza-se na Igreja a forma própria e específica de viver a santidade batismal a serviço do Reino de Deus” (Doc.de Aparecida 184). No texto “Sou católico – Vivo minha fé” da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – encontramos a seguinte pergunta: “Que significa ser santo?”. E esclarece: “Pelo Batismo, recebemos a graça de Deus e a Santíssima Trindade vem habitar em nós. Somos templos do Espírito Santo e devemos conservar sempre Deus em nós, abrindo-nos sempre mais a Ele, deixando que sua graça nos transforme (cf. 2Cor 6,16). Assim, vamos nos assemelhando cada vez mais ao Deus Santo. Isto é certamente fruto dos nossos esforços, mas é, sobretudo, dom da graça do Espírito Santo” (pag. 146). Creio serem palavras estas suficientes para uma correta compreensão do termo e santidade e, sobretudo, de sua prática.
2. A santidade é privilégio de alguns ou de algumas? Ai está uma conquista ao alcance de todos os batizados pois é o próprio Deus que nos chama à santidade: “Deus, que é Santo e nos ama, nos chama por meio de Jesus a sermos santos (cf.Ef 1,4-5). O texto de São Pedro lá encima é suficientemente claro no que diz respeito ao chamado de Deus, isto é, à vocação de todos os batizados para a santidade. E a motivação não poderia ser mais forte e convincente: “Sereis santos porque eu sou santo”. Aliás, este chamado já está presente no Antigo Testamento (Levítico, 11,44s.). Com outras palavras Jesus nos diz a mesma coisa: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Uma certa tradição católica mal interpretada tem-nos insinuado que santo ou santa é somente aquele ou aquela que está colocado sobre os altares por terem alcançado o heroísmo das virtudes. De fato, eles levaram até as últimas conseqüências sua resposta ao chamado de Jesus. Portanto, como eles puderam alcançar a santidade cada um de nós também pode. E pode quando, fortalecido pelo Espírito Santo e cheio de coragem, você responde “sim, eu quero, eu posso”! Ao dizer-nos “Sede perfeitos” Jesus nos está mostrando um novo projeto de vida que, pouco a pouco, devemos levar á perfeição, à mesma “perfeição do Pai celeste”. Não há, pois, que desanimar, sejam quais forem os obstáculos e os desafios. O Documento de Aparecida (DA), citando também palavras do Papa Bento XVI, lembra aos que “vivem em Cristo”, isto é, a todos os seus discípulos missionários: “Dos que vivem em Cristo se espera um testemunho muito crível de santidade e de compromisso. Desejando e procurando essa santidade não vivemos menos, mas melhor, porque, quando Deus pede mais, é porque está oferecendo muito mais: “Não tenham medo de Cristo! Ele não tira nada e nos dá tudo!” (DA 352).
3. É possível ser santo nos dias de hoje? Quase tudo na sociedade do nosso tempo sinaliza a anti-santidade: a injustiça que já entrou na mentalidade das pessoas, o consumismo exagerado e, até, irracional, a violência sem fronteiras, a vingança, o ódio, a discriminação, a quase absoluta ausência do perdão, etc.. Em muitos pontos do DA os nossos Pastores, os Bispos da América Latina e do Caribe, insistem sobre a urgência da santidade para todos os que desejam ser seguidores de Jesus, seus discípulos missionários. Todo o Capítulo IV do DA é dedicado à “Vocação dos discípulos missionários à santidade”. Em todas as circunstâncias de sua vida (social, profissional, familiar, política ou religiosa), mesmo nas mais adversas, o seguidor de Jesus – leigos, leigas e consagrados - encontramos abertas as possibilidades para alcançarmos a santidade. São Pedro nos adverte: “tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder”. Cito apenas um dos pontos do DA quando, no parágrafo 148, ao referir-se à missão do cristão no mundo, assim se expressa: “Ao participar desta missão, o discípulo caminha para a santidade. Vive-la na missão o conduz ao coração do mundo. Por isso, a santidade não é uma fuga para o intimismo ou para o individualismo religioso, muito menos um abandono da realidade urgente dos grandes problemas econômicos, sociais e políticos da América Latina e do mundo e, muito menos, uma fuga da realidade para um mundo exclusivamente espiritual”. Ser santo ou santa é aspirar, respirar, transpirar e partilhar uma espiritualidade encarnada em todos os momentos da vida e durante a vida inteira.
4. Que caminhos conduzem à santidade e que critérios devem ser utilizados para sermos santos? Chegar à santidade é um projeto de vida, isto é, se quisermos ser santos, é necessário traçar planos para a caminhada assumindo este compromisso com determinação e sem desanimar, aceitando desafios e empregando todos os esforços a fim de alcançar o objetivo. Jesus nos adverte que “Quem perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10,22b; 24,13; Mc 13,13). O itinerário é o próprio Jesus que nos facilita ao anunciar as bem-aventuranças que, ao mesmo tempo, são critérios para avaliar se algum discípulo missionário está caminhando de verdade para a santidade. Portanto, meu irmão, minha irmã, consulte a “tabela” das bem-aventuranças e confira, passo a passo, se você está no caminho certo para a santidade: felizes os pobres, os aflitos, os mansos de coração, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os perseguidos por causa da justiça... Já descobriu quanto você já percorreu nesta peregrinação e em que estágio desta “bem-aventurada tabela” você se encontra?
Concluo lembrando que a busca da santidade, o esforço e a dedicação para alcançá-la traz para todos os verdadeiros discípulos missionários de Jesus a indescritível alegria de poder conviver com o maior mistério da nossa fé que é conviver com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, a alegria de ser um santo peregrino em busca da pátria definitiva (cf.Hb 13,14). E, meu irmão, minha irmã, não esqueça o velho e sempre oportuno e estimulante provérbio: “Um santo triste é um triste santo!”. Que Maria, Aquela em quem “o Senhor fez maravilhas” de santidade, acompanhe nossos passos guiando-nos pela mão até o abraço definitivo do Pai, o Justo e Santo! Abraça-os com carinho, o irmão e amigo,
Pe. Jose Gilberto Beraldo
Assessor Eclesiástico Nacional