sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Jejum, penitência, oração

Em nossos relacionamentos com as pessoas, existe um ritual que nós realizamos naturalmente, sem perceber. Por exemplo, quando queremos agradar uma pessoa a quem amamos, fazemos-lhe carinho, dizemos-lhe palavras boas, damos a ela alguma coisa, um objeto, um presente, que é nosso, de que nós gostamos, mas que queremos dar a ela como gesto de amizade.
De outras vezes, quando magoamos alguém, queremos fazer de tudo para apagar aquele gesto impensado: pedimos desculpas, lastimamos o nosso procedimento, até que sentimos que aquilo ficou esquecido. Nós nos penitenciamos diante das pessoas que amamos. Penitência é um ato de amor.
No nosso relacionamento com Deus, a penitência torna-se premente para nós. Temos necessidade de mostrar a Ele nosso amor porque tudo o que temos vem d’Ele e é d’Ele. Devemos mostrar-nos humildes diante d’Ele porque, sem a sua providência, nada somos. A recepção das cinzas na fronte, durante a missa da quarta-feira de cinzas, se feita com convicção, é um gesto de humildade muito agradável a Deus. Precisamos também nos penitenciar ainda mais porque erramos muito, pecamos e não correspondemos à magnitude do amor divino.
Mas Ele é misericordioso e basta um pequeno gesto nosso em sua direção que Ele se consome de piedade por nós.
A penitência implica em arrependimento, dor por causa de nossas falhas e propósito de evitá-las e confiança na ajuda de Deus. Nutre-se da esperança na sua misericórdia. Ela se exprime de formas muito variadas, em particular, com o jejum, a oração e a esmola. Essas e muitas outras formas de penitência podem ser praticadas na vida cotidiana do cristão, em particular no tempo da quaresma e no dia penitencial da sexta-feira.
A penitência interior é o dinamismo do “coração contrito”, movido pela graça divina a responder ao amor misericordioso de Deus.
A prática do jejum é uma forma de penitência. A Igreja nos pede o jejum durante a quaresma, mas podemos praticá-lo em várias situações. A propósito diz a legislação complementar do Código de Direito Canônico que: “Quanto aos cânn. 1251: 1. Toda sexta-feira do ano é dia de penitência, a não ser que coincida com solenidade do calendário litúrgico. Os fiéis nesse dia se abstenham de carne ou outro alimento, ou pratiquem alguma forma de penitência, principalmente obra de caridade ou exercício de piedade.” Conhecemos pessoas que se privam de guloseimas agradáveis ao paladar, colocando esse sacrifício como uma alavanca por intenção de um ente querido.
Há também o jejum da palavra ferina. Muitas vezes temos ímpetos de dar uma resposta ofensiva a alguém. Mas, se nos abstemos disto, estamos praticando jejum. Somos convidados, por fim, a jejuar de todos os sentidos como maus pensamentos, maus olhares, maus desejos, más palavras, uso indevido de nossas mãos e de nossos pés na busca desenfreada das paixões desordenadas.
O repartir os nossos bens com outras pessoas é também uma maneira de jejuar. Neste mundo consumista, queremos sempre ter e nos esquecemos de dar. É um jejum admirável quando a pessoa se desprende do que gosta em detrimento do outro que necessita daquilo.
Enfim, uma penitência maravilhosa, prodigiosa é a oração. Assim como, no nosso dia-a-dia é necessário conviver com as pessoas, falar-lhes e escutá-las, mais ainda é preciso praticar a oração com Deus, falar com Ele e escutar o que Ele nos diz. Não podemos limitar nossas orações a pedidos. Só queremos falar com Deus pedindo, pedindo, pedindo...
Primeiro, nós O louvamos pela sua grandeza e majestade infinita. Em seguida, nós devemos agradecer a Ele tudo o que temos e somos. Depois disto, então, pedimos uma graça, uma bênção, uma providência, um socorro. Alguém já disse que "a oração é à força do homem e a fraqueza de Deus", porque Ele é que nos amou primeiro e quer que sejamos felizes. Importante, muito mais importante ainda, é que nós saibamos escutar o que Deus tem a nos dizer. Nós, na maioria das vezes, queremos só falar, mas, como num diálogo, precisamos aprender a escutar a Palavra de Deus.
E Deus, na sua insondável misericórdia, nos fala de várias maneiras: através da Bíblia, através dos acontecimentos, através da palavra de um amigo e até de um estranho. A nossa vida é uma constante palavra de Deus. A nossa própria consciência é a presença de Deus nos alertando sobre alguma coisa, tanto quando praticamos um gesto nobre como quando erramos.
Até em pensamentos podemos conversar com Deus. Ele nos deu vários caminhos para chegar a Ele, que está de mãos estendidas para nós. Só falta abrirmos o coração.

São Sérgio

24 de fevereiro

Sérgio, mártir da Cesarea, na Capadócia, por muito pouco não se manteve totalmente ignorado na história do cristianismo. Nada foi escrito sobre ele nos registros gregos e bizantinos da Igreja dos primeiros tempos. Entretanto, ele passou a ter popularidade no Ocidente, graças a uma página latina, datada da época do imperador romano Diocleciano, onde se descreve todo seu martírio e o lugar onde foi sepultado.
O texto diz que no ano 304, vigorava a mais violenta perseguição já decretada contra os cristãos, ordenada pelo imperador Diocleciano. Todos os governadores dos domínios romanos, sob pena do confisco dos bens da família e de morte, tinham de executá-la. Entretanto alguns, já simpatizantes dos cristãos, tentavam em algum momento amenizar as investidas. Não era assim que agia Sapricio, um homem bajulador, oportunista e cruel que administrava a Armênia e a Capadócia, atual Turquia.
A narrativa seguiu dizendo que durante as celebrações anuais em honra do deus Júpiter, Sapricio, estava na cidade de Cesarea da Capadócia, junto com um importante senador romano. Num gesto de extrema lealdade, ordenou que todos os cristãos da cidade fossem levados para diante do templo pagão, onde seriam prestadas as homenagens àquele deus, considerado o mais poderoso de todos, pelos pagãos. Caso não comparecessem e fossem denunciados seriam presos e condenados à morte.
Poucos conseguiram fugir, a maioria foi ao local indicado, que ficou tomado pela multidão de cristãos, à qual se juntou Sérgio. Ele era um velho magistrado, que há muito tempo havia abandonado a lucrativa profissão para se retirar à vida monástica, no deserto. Foi para Cesarea, seguindo um forte impulso interior, pois ninguém o havia denunciado, o povo da cidade não se lembrava mais dele, podia continuar na sua vida de reclusão consagrada, rezando pelos irmãos expostos aos martírios. A sua chegada causou grande surpresa e euforia, os cristãos desviaram toda a atenção para o respeitado monge, gerando confusão. O sacerdote pagão que preparava o culto ficou irado. Precisava fazer com que todos participassem do culto à Júpiter, o qual, segundo ele, estava insatisfeito e não atendia as necessidades do povo. Desta forma, o imperador seria informado pelo seu senador e o cargo de governador continuaria com Sapricio. Mas, a presença do monge produziu o efeito surpreendente de apagar os fogos preparados para os sacrifícios. Os pagãos atribuíram imediatamente a causa do estranho fenômeno aos cristãos, que com suas recusas haviam irritado ainda mais o seu deus.
Sérgio, então se colocou à frente e explicou que a razão da impotência dos deuses pagãos era que estavam ocupando um lugar indevido e que só existia um único e verdadeiro Deus onipotente, o venerado pelos cristãos. Imediatamente foi preso, conduzido diante do governador, que o obrigou a prestar o culto à Júpiter. Sérgio não renegou a Fé, por isto morreu decapitado naquele mesmo instante. Era o dia 24 de fevereiro. O corpo do mártir, recolhido pelos cristãos, foi sepultado na casa de uma senhora muito religiosa. De lá as relíquias foram transportadas para a cidade andaluza de Ubeda, na Espanha.

Evangelho do Dia

Ano B - Dia: 24/02/2012

Clima de festa

Leitura Orante
Mt 9,14-15
Então os discípulos de João Batista chegaram perto de Jesus e perguntaram:
- Por que é que nós e os fariseus jejuamos muitas vezes, mas os discípulos do senhor não jejuam?
Jesus respondeu:
- Vocês acham que os convidados de um casamento podem estar tristes enquanto o noivo está com eles? Claro que não! Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar!