No debate organizado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) nesta quinta-feira (23), os presidenciáveis baixaram o tom das críticas das últimas semanas e evocaram valores cristãos diante do público católico. Na morna discussão, o destaque dos blocos iniciais se deu quando a líder nas pesquisas, Dilma Rousseff (PT) prometeu não ter em seu governo, se eleita, políticos sem “ficha limpa”.
O encontro reúne Dilma, José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio em Brasília. O tucano e o socialista militam em organizações católicas há décadas; a presidenciável verde trocou o catolicismo pelo protestantismo e a petista, que estudou em colégio católico, assumiu a fé em sua pré-campanha, depois de dizer que se equilibra na questão sobre a existência de Deus.
Serra, que acirrou as críticas contra a gestão petista após denúncias envolvendo a Casa Civil e o vazamento de dados sigilosos da Receita Federal, evitou ataques mais duros à principal rival, ao contrário do que fez nos debates anteriores. Marina buscou se distanciar dos dois líderes nas pesquisas e fez críticas pontuais aos dois. Plínio novamente se portou como franco-atirador no encontro.
O tucano, que tenta evitar a vitória de Dilma já no primeiro turno, como indicam as pesquisas de intenção de voto, deixou as alfinetadas para o início do debate. Mas não citou a petista nenhuma vez. “Compartilho dos princípios cristãos do ponto da minha vida pessoal e da minha vida política. Não sou cristão de véspera de eleição nem de boca de urna para agradar eleitores”, disse.
“Se estivesse a política brasileira embebida nesse conceito de justiça e ética, não teríamos tanta mentira, tanta enrolação”, afirmou Serra. Mesmo quando comentou uma das respostas de Dilma no encontro, o tucano evitou críticas mais duras. No domingo (25), os presidenciáveis voltam a se reunir na TV Record, que deve dar a eles audiência maior do que a do debate desta quinta-feira.
Única candidata a avançar nas últimas sondagens, Marina não teve trocas de ataques entre os principais rivais para justificar com mais ênfase um dos seus bordões. “Está havendo retrocesso na política. É só olhar para o que está acontecendo”, disse ela, a presidenciável mais aplaudida pelo barulhento grupo que acompanha o debate no local.
Mesmo nos temas espinhosos, como aborto, os presidenciáveis se limitaram a repetir posições declaradas anteriormente, condenando a prática pessoalmente, mas admitindo a hipótese por “questão de saúde pública”. Marina, que defende um plebiscito sobre o assunto, voltou a discordar de Serra. Dilma repetiu que o “aborto é uma violência final”
Ficha limpa
Na noite em que o STF (Supremo Tribunal Federal) julga a Lei da Ficha Limpa, Dilma se comprometeu a não ter nenhum político nessa condição em seu governo, caso seja eleita. Questionada por um aluno, respondeu: “Não, eu não permitirei. Além disso, eu considero que essa questão é muito séria. Principalmente neste momento, porque sei que as entidades que participam aqui são responsáveis pelo projeto”.
“Acho muito oportuno reafirmar que é um avanço da democracia essa questão sobre a ficha suja”, afirmou a presidenciável, que recebeu a única pergunta sobre corrupção no debate. Ao tratar do tema, ela aproveitou para alfinetar Serra, referindo-se ao apelido que adversários davam ao procurador-geral da República do governo Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Brindeiro.
“Não tivemos engavetador-geral da República. Tivemos procurador-geral da república, que investigou todos os casos que teve conhecimento”, disse ela, que repetiu avanços da Polícia Federal no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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