domingo, 19 de abril de 2009

Tudo e um - Frei Betto

Diógenes Laércio disse um dia a Platão: “Posso ver uma mesa e uma xícara; mas não isto a que você se refere, a mesidade e a xicaridade.” O fundador da Academia retrucou: “Para ver uma mesa e uma xícara você precisa de olhos, e você os tem. Para ver mesidade e xicaridade precisa de inteligência, e você não a tem.”

Inteligência deriva de intro legere, ser capaz de ler dentro, de captar com acuidade o que há atrás das aparências, de alcançar a essência, pois todos sabemos ou ao menos intuímos que a realidade percebida por nossos sentidos é apenas a ponta do iceberg.

Há uma íntima conexão entre todas as coisas. O primeiro a percebê-la foi Tales de Mileto, filósofo grego do século VI a.C. Suas obras não chegaram até nós, mas há quem lhe atribua a autoria do Guia de navegação pelas estrelas, suspeita que ele divide com Focos de Samos.

As idéias de Tales de Mileto nos são conhecidas graças aos comentários de Platão, Aristóteles, Teofrato, Simplício, Diógenes e Eudemo. Para aquele que é considerado o primeiro filósofo, “todas as coisas estão cheias de deuses.” Há uma sacralidade inerente a todo o criado. Proposição que, com certeza, era conhecida pelo apóstolo Paulo, que a cristianizou ao afirmar: "Ele não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dentre os poetas de vocês disseram: 'Somos da raça do próprio Deus'" (Atos dos Apóstolos, 17, 27-28).

Tales reconhecia na água a matéria-prima da natureza, o sustentáculo da Terra. Não se equivocou de todo, se considerarmos que a fórmula da água – H2O – indica que ela se compõe de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio. E, na escala atômica, o hidrogênio está na origem de toda matéria.Encantado com as idéias de Tales, Nietzsche sublinha que a água, como “útero materno de todas as coisas”, nos remete à origem do Universo, e a proposição contém “em gérmen a idéia de que Tudo é Um.” No Gênesis, o autor bíblico inclui a água como elemento primordial, citado já no segundo versículo: ”Javé pairava sobre as águas” (1,2).

No século XX, a ciência comprovou que tudo que existe pré-existe, subsiste e coexiste. Todos os seres da natureza, incluídos o homem e a mulher, são feitos dos mesmos 92 átomos resultantes da explosão inicial do Universo, o Big Bang, há cerca de 14 bilhões de anos.

Átomos e moléculas de nosso organismo sabem contar a história do que foram antes, desde que a vida emergiu do fundo dos mares e evoluiu através dos reinos mineral, vegetal e animal. Por isso, viver é dar um beijo na boca da natureza. Nossas células se alimentam do gás que ingerimos pela boca e nariz, o oxigênio, produzido pelos plânctons e pelas plantas; ao expirar retribuímos a plânctons e plantas o nutriente que os sustenta, o gás carbônico.

Nossa vida se mantém graças à capacidade de reciclar a natureza num gesto cotidianamente eucarístico. Os alimentos ingeridos no almoço eram vegetais que estavam vivos e morreram para nos dar vida, na forma de salada; grãos que estavam vivos, o arroz e o feijão, morreram para nos dar vida; animais que estavam vivos – a carne de peixe, frango ou gado – morreram para nos dar vida.

Teilhard de Chardin afirma que todas as coisas são impelidas rumo à completa sinergia, o Ponto Ômega, que a fé identifica com Cristo Ressuscitado, no qual no futuro seremos todos unificados, sem no entanto perder a nossa individualidade. Mistério que só encontra analogia na união da Santíssima Trindade, três pessoas distintas em eterna comunhão amorosa.

Se fôssemos capazes de seguir o conselho de Platão e perceber essa unidade entre todos os seres, a cosmofraternura que nos une, a energia vital que faz da vida esse maravilhoso milagre, com certeza seríamos menos insensíveis perante a miserável situação em que sobrevivem tantos de nossos semelhantes.

- Frei Betto é escritor, autor de “Sinfonia Universal – a cosmovisão de Teilhard de Chardin” (Ática), entre outros livros.

O Caminho Mais Curto para o Fracasso - Leonardo Boff

Das muitas reflexões acerca do colapso do sistema neoliberal, três despontam com claridade. A primeira é que para salvar o Titanic afundando não bastam correções e regulações no sistema em naufrágio. Precisa-se de uma outra rota que evite o choque com o iceberg: uma proução que não se reja só pela ganância nem por um consumo ilimitado e excludente.

A segunda, não valem rupturas bruscas na ilusão de que já nos transportariam para um outro mundo possível, pois seguramente implicariam no colapso total do sistema de convivência, com vitimas sem conta, sem a certeza de que das ruínas nasceria uma nova ordem melhor.

A terceira, a categoria sustentabilidade é axial em qualquer intento de solução. Isso significa: o desenvolvimento necessário para a manutenção da vida humana e para a preservação da vitalidade da Terra não pode seguir as pautas do crescimento até agora vigentes (olho no PAC de Dilma Rouseff).

Ele é demasiado depredador do capital natural e parco em solidariedade generacional presente e futura. Importa encontrar um sutil equilíbrio entre a capacidade de suporte e regeneração da Terra com seus diferentes ecossistemas e o pretendido desenvolvimento necessário para assegurar o bem viver humano e a continuidade do projeto planetário em curso que representa a nova e irreversível fase da história. Esta diligência precisa acolher a estratégia da transição do paradigma atual que não garante um futuro sustentável para um novo paradigma a ser construído pela cooperação intercultural que signifique um novo acerto entre economia e ecologia na perspectiva da manutenção da vida na Terra.

Onde vejo o grande gargalo? É na questão ecológica. Ela é citada apenas en passant nas agendas políticas visando a superação da crise. Na reunião dos G-20 no dia 2 de abril em Londres, o tema não influiu na formulação dos instrumentos para ordenar o caos sistêmico. Não se trata apenas do mais grave de todos, o aquecimento global, mas também do degelo, da acidez dos oceanos, da crescente desertificação, do desflorentamento de grandes zonas tropicais e do surgimento do planeta-favela em razão da urbanização selvagem e do desemprego estrutural. E mais ainda: a revelação dos dados que mostram a insustenbilidade geral da própria Terra, cujo consumo humano ultrapassou em 30% sua capacidade de reposição. Uma natureza devastada e um tecido social mundial dilacerado pela fome e pela exclusão anulam as condições para a reprodução do projeto do capital dentro de um novo ciclo.

Tudo indica que os limites da Terra são os limites terminais deste sistema que imperou por vários séculos. O caminho mais curto para o fracasso de todas as iniciativas visando sair da crise sistêmica é esta desconsideração do fator ecológico. Ele não é uma “externalidade” que se pode tolerar por ser inevitável. Ou lhe conferimos centralidade em qualquer solução possível ou então teremos que aceitar o eventual colapso da espécie humana.

A bomba ecológica é mais perigosa que todas as bombas letais já construídas e armazenadas. Desta vez teremos que ser coletivamente humildes e escutar o que a própria natureza, aos gritos, nos está pedindo: renunciar à agressão que o modelo de produção e consumo implica.

Não somos deuses nem donos da Terra mas suas criaturas e seus inquilinos. Belamente termina Rose Marie Muraro um livro a sair em breve pela Vozes”Querendo ser Deus, por quê? “Quando tivermos desistido de ser deuses, poderemos ser plenamente humanos o que ainda não sabemos o que é, mas que já intuíamos desde sempre”.

Leonardo Boff é autor de “Virtudes para um outro mundo possível”, Vozes 2008

Símbolos Franciscanos - O Tau

Tau

Símbolos e significados

Há certos sinais que revelam uma escolha de vida. O TAU, um dos mais famosos símbolos franciscanos, hoje está presente no peito das pessoas num cordão, num broche, enfeitando paredes numa escultura expressiva de madeira, num pôster ou pintura. Que escolha de vida revela o TAU?

Ele é um símbolo antigo, misterioso e vital que recorda tempo e eternidade. A grande busca do humano querendo tocar sempre o divino e este vindo expressar-se na condição humana. Horizontalidade e verticalidade.

As duas linhas: Céu e Terra!

Temos o símbolo do TAU riscado nas cavernas do humano primitivo. Nos objetos do Faraó Achenaton no antigo Egito e na arte da civilização Maia. Francisco de Assis o atualizou e imortalizou. Não criou o TAU, mas o herdou como um símbolo seu de busca do Divino e Salvação Universal.


TAU, SINAL BÍBLICO

Existe somente um texto bíblico que menciona explicitamente o TAU, última letra do alfabeto hebraico, Ezequiel 9, 1-7: "Passa pela cidade, por Jerusalém, e marca com um TAU a fronte dos homens que gemem e choram por todas as práticas abomináveis que se cometem". O TAU é a mais antiga grafia em forma de cruz. Na Bíblia é usado como ato de assinalar. Marcar com um sinal é muito familiar na Bíblia. Assinalar significa lacrar, fechar dentro de um segredo, uma ação. É confirmar um testemunho e comprometer aquele que possui o segredo. O TAU é selo de Deus; significa estar sob o domínio do Senhor, é a garantia de ser reconhecido por Ele e ter a sua proteção. É segurança e redenção, voltar-se para o Divino, sopro criador animando nossa vida como aspiração e inspiração.


O TAU NA IDADE MÉDIA

Vimos o significado salvífico que a letra hebraica do TAU recebe na Bíblia. Mas o TAU tem também um significado extrabíblico, bastante divulgado na Idade Média: perfeição, meta, finalidade última, santo propósito, vitória, ponto de equilíbrio entre forças contrárias. A sua linha vertical significa o superior, o espiritual, o absoluto, o celeste. A sua linha horizontal lembra a expansão da terra, o material, a carne. O TAU lembra a imagem do sustentáculo da serpente bíblica: clavada numa estaca como sinal da vitória sobre a morte. Uma vitória mística, isto é, nascer para uma vida superior perfeita e acabada. É cruz vitoriosa, perfeição, salvação, exorcismo. Um poder sobre as forças hostis, um talismã de fé, um amuleto de esperança usado por gente devota sensível.


O TAU DO PENITENTE

Francisco de Assis viveu em um ambiente no qual o TAU estava carregado de uma grande riqueza simbólica e tradicional. Assumiu para si a marca do TAU como sinal de sua conversão e da dura batalha que travou para vencer-se. Não era tão fácil para o jovem renunciar seus sonhos de cavalaria para chegar ao despojamento do Crucificado que o fascinou. Escolhe ser um cavaleiro penitente: eliminar os excessos, os vícios e viver a transparência simples das virtudes. Na sua luta interior chegou a uma vitória interior. Um homem que viveu a solidão e o desafio da comunhão fraterna; que viveu o silêncio e a canção universal das criaturas; que experimentou incompreensão e sucesso, que vestiu o hábito da penitência, que atraiu vidas, encontrou um modo de marcar as paredes de Santa Maria Madalena em Fontecolombo, de assinar cartas com este sinal. De lembrar a todos que o Senhor nos possui e nos salva sob o signo do TAU.


O TAU FRANCISCANO

O TAU franciscano atravessa oito séculos sendo usado e apreciado. É a materialização de uma intuição. Francisco de Assis é um humano que se move bem no universo dos símbolos. O que é o TAU franciscano? É Verdade, Palavra, Luz, Poder e Força da mente direcionada para um grande bem. Significa lutar e discernir o verdadeiro e o falso. É curar e vivificar. É eliminar o erro, a mentira e todo o elemento discordante que nega a paz. É unidade e reconciliação. Francisco de Assis está penetrado e iluminado, apaixonado e informado pela Palavra de Deus, a Palavra da Verdade. É um batalhador incansável da Paz, o Profeta da Harmonia e Simplicidade. É a encarnação do discernimento: pobre no material, vencedor no espiritual. Marcou-se com este sinal da luz, vida e sabedoria.


O TAU COMO IDEAL

No mês de novembro de 1215, o Papa Inocêncio III presidia um Concílio na Igreja Constantiniana de Roma. Lá estavam presentes 1.200 prelados, 412 bipos, 800 abades e priores. Entre os participantes estavam São Domingos e São Francisco. Na sessão inaugural do Concílio, no dia 11 de novembro, o Papa falou com energia, apresentou um projeto de reforma para uma Igreja ferida pela heresia, pelo clero imerso no luxo e no poder temporal. Então, o Papa Inocêncio III recordou e lançou novamente o signo do TAU de Ezequiel 9, 1-7. Queria honrar novamente a cristandade com um projeto eclesial de motivação e superação. Era preciso uma reforma de costumes. Uma vida vivida numa dimensão missionária mais vigorosa sob o dinamismo de uma contínua conversão pessoal. São Francisco saiu do Concílio disposto a aceitar a convocação papal e andou marcando os irmãos com o TAU, vibrante de cuidado, ternura e misericórdia aprendida de seu Senhor.


O TAU NAS FONTES FRANCISCANAS

Os biógrafos franciscanos nos dão testemunhos da importância que São Francisco dava ao TAU: "O Santo venerava com grande afeto este sinal", "O sinal do TAU era preferido sobre qualquer outro sinal", "O recomendava, freqüentemente, em suas palavras e o traçava com as próprias mãos no rodapé das breves cartas que escrevia, como se todo o seu cuidado fosse gravar o sinal do TAU, segundo o dito profético, sobre as fontes dos homens que gemem e lutam, convertidamente a Jesus", "O traçava no início de todas as suas ações", "Com ele selava as cartas e marcava as paredes das pequenas celas" (cf. LM 4,9; 2,9; 3Cel 3). Assim Francisco vestia-se da túnica e do TAU na total investidura de um ideal que abriu muitos caminhos.


TAU, SINAL DA CRUZ VITORIOSA

Cruz não é morte nem finitude, mas é força transformante; é radicalidade de um Amor capaz de tudo, até de morrer pelo que se ama. O TAU, conhecido como a Cruz Franciscana, lembra para nós esta deslumbrante plenitude da Beleza divina: amor e paz. O Deus da Cruz é um Deus vivo, que se entrega seguro e serenamente à mais bela oferenda de Amor. Para São Francisco, o TAU lembra a missão do Senhor: reconciliadora e configuradora, sinal de salvação e de imortalidade; o TAU é uma fonte da mística franciscana da cruz: quem mais ama, mais sofre, porque muito ama, mais salva. Um poeta dos primeiros tempos do franciscanismo conta no "Sacrum Comercium", a entrega do sinal do TAU à Dama Pobreza pelo Senhor Ressuscitado, que o chama de "selo do reino dos céus". À Dama Pobreza clamam os menores: "Eia, pois, Senhora, tem compaixão de nós e marca-nos com o sinal da tua graça!" (SC 21,22).

O TAU E A BÊNÇÃOFrancisco se apropriou da bênção deuteronômica, transcreveu-a com o próprio punho e deu a Frei Leão: "Que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o Senhor mostre a tua face e se compadeça de ti. Que o Senhor volva o teu rosto para ti e te dê a paz. Irmão Leão; o Senhor te abençoe!" Sob o texto da bênção, o próprio Frei Leão fez a seguinte anotação: "São Francisco escreveu esta bênção para mim, Irmão Leão, com seu próprio punho e letra, e do mesmo modo fez a letra TAU como base". Assim, Francisco, num profundo momento de comunicação divina, com delicadeza paternal e maternal, abençoa seu filho, irmão, amigo e confidente. Abençoar é marcar com a presença, é transmitir energias que vêm da profundidade da vida. O Senhor te abençoe!


O TAU E A CURA DOS ENFERMOS

No relato de alguns milagres, conta-se que Francisco fazia o sinal da cruz sobre a parte enferma dos doentes. Após ter recebido os estigmas no Monte Alverne, Francisco traz em seu corpo as marcas do Senhor Crucificado e Ressuscitado. Marcado pelo Senhor, imprime a marca do Senhor que salva em tudo o que faz. Conta-nos um trecho das Fontes Franciscanas que um enfermo padecia de fortes dores; invoca Francisco e o santo lhe aparece e diz que veio para responder ao seu chamado, que traz o remédio para curá-lo. Em seguida, toca-lhe no lugar da dor com um pequeno bastão arrematado com o sinal do TAU, que traz consigo. O enfermo ficou curado e permaneceu em sua pele, no lugar da dor, o sinal do TAU (cf. 3Cel159). O Senhor identifica-se com o sofrimento de seu povo. Toma a paixão do humano e do mundo sobre si. Afasta a dor e deixa o sinal de Amor.


A COR DO TAU

O TAU, freqüentemente, é reproduzido em madeira, mas quando, pintado, sempre vem com a cor vermelha. O Mestre Nicolau Verdun, num quadro do século XII, representa o Anjo Exterminador que passa enquanto um israelita marca sobre a porta de sua casa um TAU com o Sangue do Cordeiro Pascal que se derrama num cálice. O Vermelho representa o sangue do Cordeiro que se imola para salvar. Sangue do Salvador, cálice da vida! Em Fontecolombo, Francisco deixou o TAU grafado em vermelho. O TAU pintado na casula de Frei Leão no mural de Greccio também é vermelho. O pergaminho escrito para Frei Leão no Monte Alverne, marca em vermelho o Tau que assina a bênção. O Vermelho é símbolo da vida que transcende, porque se imola pelos outros. Caminho de configuração com Jesus Crucificado para nascer na manhã da Ressurreição.


O TAU NA LINGUAGEM

O TAU é a última letra do alfabeto judaico e a décima nona letra do alfabeto grego. Não está aí por acaso; um código de linguagem reflete a vivência das palavras. O mundo judaico e, conseqüentemente, a linguagem bíblica mostram a busca do transcendente. É preciso colocar o Deus da Vida como centro da história. É a nossa verticalidade, isto é, o nosso voltar-se para o Alto. O mundo grego nos ensinou a pensar e perguntar pelo sentido da vida, do humano e das coisas. Descobrir o significado de tudo é pisar melhor o chão, saber enraizar-se. É a nossa horizontalidade. A Teologia e a Filosofia são servas da fé e do pensamento. Quem sabe onde está parte para vôos mais altos. É como o galho de pessegueiro, cortado em forma de tau é usado para buscar veios d'água. Ele vibra quando a fonte aparece cheia de energia. Coloquemos o tau na fonte de nossas palavras!


O TAU, O CORDÃO E OS TRÊS NÓS

Em geral, o Tau pendurado no pescoço por um cordão com três nós. Esse cordão significa o elo que une a forma de nossa vida. O fio condutor do Evangelho. A síntese da Boa Nova são os três conselhos evangélicos=obediência, pobreza, pureza de coração. Obediência significa acolhida para escutar o valor maior. Quem abre os sentidos para perceber o maior e o melhor não tem medo de obedecer e mostra lealdade a um grande projeto. Pobreza não é categoria econômica de quem não tem, mas é valor de quem sabe colocar tudo em comum. Ser pobre, no sentido bíblico-franciscano, é a coragem da partilha. Ser puro de coração é ser transparente, casto, verdadeiro. É revelar o melhor de si. Os três nós significam que o obediente é fiel a seus princípios; o pobre vive na gratuidade da convivência; o casto cuida da beleza do seu coração e de seus afetos. Tudo isto está no Tau da existência!


USAR O TAU É LEMBRAR O SENHOR

Muita gente usa o Tau. Não é um amuleto, mas um sacramental que nos recorda um caminho de salvação que vai sendo feito ao seguir, progressivamente, o Evangelho. Usar o TAU é colocar a vida no dinamismo da conversão: Cada dia devo me abandonar na Graça do Senhor, ser um reconciliado com toda a criatura, saudar a todos com a Paz e o Bem. Usar o TAU é configurar-se com aquele que um dia ilumina as trevas do nosso coração para levar-nos à caridade perfeita. Usar o TAU é transformar a vida pela Simplicidade, pela Luz e pelo Amor. É exigência de missão e serviço aos outros, porque o próprio Senhor se fez servo até a morte e morte de Cruz.

Por Frei Vitório Mazzuco, OFM