quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Drama de vítimas retrata crise de segurança em SP

 

Luis Kawaguti

Da BBC Brasil em São Paulo

 

Homem passa por policiais durante operação no bairro de Brasilândia, São Paulo (Foto: Reuters)

Polícia vem realizando operações em áreas de São Paulo, incluindo a Brasilândia

O aposentado J. viu um grupo de homens mascarados em um carro descendo a rua em direção à padaria onde seu filho de 18 anos comia pizza com os amigos em Guarulhos, na Grande São Paulo. Segundos depois ouviu tiros e, ao correr para o local, achou o rapaz e três de seus colegas baleados.

"Encontrei meu filho caído no chão, atingido na barriga e no tórax. Estava com os olhos abertos, mas não deu para conversarmos porque ele não conseguia respirar", disse J. O crime aconteceu na noite de domingo.

O filho dele, Ezequiel Cruz, foi levado para o hospital, mas morreu. Dois dos quatro amigos baleados sobreviveram. Os homens mascarados ainda teriam promovido um segundo ataque semelhante em outro bairro de Guarulhos na mesma noite.

Cruz foi uma das cerca de 260 pessoas assassinadas nos últimos 40 dias em um pico de violência que se alastrou pela capital e pela região metropolitana de São Paulo.

As mortes teriam tido início em um conflito entre membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e a Polícia Militar. Desde o início do ano, 92 policiais também foram assassinados.

Porém, entre as vítimas, não estão apenas criminosos e policiais. Testemunhas e pessoas que estavam no lugar errado e na hora errada têm engrossado essa estatística mórbida.

"Meu filho não era criminoso, trabalhava em um supermercado na Vila Maria (um bairro da zona norte de São Paulo). Todos falavam para que nós não saíssemos de casa depois das 22h, mas não pensei que aconteceria com a gente", disse J à BBC Brasil.

"Os filhos da gente estão morrendo e não vejo solução nenhuma do governo. Meu filho não era bandido, estava começando a viver", disse, também sob anonimato, o pai de Thiago Oliveira, de 22 anos, que morreu junto com Cruz.

No Instituto Médico Legal, onde se reuniam na segunda-feira parentes de Cruz e de outros cinco rapazes mortos nos dois ataques, circulavam rumores sobre uma suposta participação de policiais militares não fardados nas execuções.

Parte desses boatos era influenciada por um outro caso, o assassinato do servente Paulo Batista do Nascimento, no sábado.

Um cinegrafista amador flagrou o momento em que Nascimento teria sido preso, arrastado para fora de uma casa e depois supostamente executado por cinco policiais militares uniformizados, dentro do porta-malas de um carro da polícia.

As imagens mostram a vítima dominada, um policial de arma em punho e o som dos tiros.

A gravação e a posterior prisão dos policiais envolvidos vinha sendo exibida à exaustão pelas emissoras de TV na mesma ocasião das mortes em Guarulhos.

 

Vinganças

"Neste momento, está ocorrendo uma situação de revanche em São Paulo. A polícia está matando e os criminosos também. É uma guerra a que estamos assistindo todos os dias pela TV", disse Marcos Fuchs, diretor da ONG Conectas Direitos Humanos.

"E quem sofre com tudo isso é a população", afirmou.

Segundo analistas e membros do Ministério Público ouvidos pela BBC Brasil, a origem do pico de violência vivenciado por São Paulo é uma ação mais dura da Polícia Militar.

Membros do PCC teriam sido assassinados em ações de força e até em operações supostamente organizadas como emboscadas letais pela PM - especialmente por sua controversa unidade de elite Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar).

Para se ter ideia, o índice de letalidade dessa unidade cresceu quase 25% só neste ano. Foram 77 casos entre janeiro e setembro de 2012 contra 62 no mesmo período de 2011.

A cúpula da facção criminosa - que cumpre penas em presídios de segurança máxima de São Paulo e controla a facção por meio de telefones celulares e recados passados por visitas - teria então ordenado a seus comparsas em liberdade que atacassem policiais em retaliação a tais ações.

Haveria indícios ainda, segundo promotores públicos, de que policiais militares tenham se organizado em grupos de extermínio para agir sem fardas para não prejudicar a imagem da PM.

Esses grupos estariam realizando ações para matar indiscriminadamente criminosos, usuários de drogas e pessoas que frequentam os mesmos ambientes que os criminosos - em um ciclo de retaliação às mortes de colegas.

Em ao menos uma das chacinas deste ano, que deixou seis mortos em julho no município de Osasco, a Polícia Civil tem fortes indícios da participação de ao menos um ex-policial militar. Porém, a investigação ainda não foi concluída pois depende de laudos técnicos ainda em produção.

Já as investigações sobre o assassinato de Nascimento, flagrado pelo cinegrafista, continuam após a decretação da prisão provisória de cinco policiais envolvidos no caso na quarta-feira.

 

Comando da PM

Para o comandante da PM, Roberval França, "o movimento atípico de mortes em São Paulo que surgiu nos últimos três meses" é motivado por disputas de quadrilhas por pontos de venda de drogas e cobrança de dívidas.

Segundo ele, as opiniões de analistas e promotores são "especulações, hipóteses ou boatos".

"Não temos ainda dados conclusivos que apontem para a participação efetiva de policiais. Então, é necessário que as investigações caminhem", disse.

Para França, os ataques contra policiais deste ano são uma reação do crime organizado às ações de combate ao narcotráfico feitas pela polícia.

"Tivemos neste ano três policiais mortos em serviço e um número muito grande de policiais mortos fora de serviço. Os criminosos adotaram como estratégia buscar atingir policiais fora do horário de serviço quando estão mais vulneráveis", disse.

Papel do jovem na construção da paz é tema de Romaria



Jovens, artífices da paz. Este é o tema da 4ª Romaria Nacional da Juventude, promovida pelo Santuário Nacional de Aparecida, que acontece nesta quinta-feira, 15, reunindo jovens de todas as regiões do Brasil.
O evento também é uma preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Rio2013. De acordo com a organização, a Romaria tem a missão de ajudar o jovem a refletir e se preparar para este grande evento da juventude, levando-o a sentir-se jovem, a pensar na vida e assumir-se como instrumento construtor da paz que vem de Cristo.
Jovens, artífices da paz
A responsabilidade de serem artífices da paz foi confiada aos jovens pelo Papa Bento XVI em um dos seus encontros com a juventude. Diante desta árdua missão, fica o questionamento: como o jovem pode ser artífice da paz?
Para Irmão João Batista de Viveiros, Prefeito de Igreja no Santuário Nacional de Aparecida e membro da comissão organizadora da Romaria Nacional da Juventude, o jovem caminha para a paz quando ele toma consciência da sua dignidade, dos seus valores; quando ele busca colocar na sua vida e relacionamentos valores que edificam.
Maldades, guerras e violências
Ao analisar as realidades violentas que se estabeleceram na sociedade, é possível que muitos se perguntem: de onde vem a maldade? Deus permite que hajam guerras e violência no mundo?
Segundo Irmão Viveiros, a maldade parte da escolha que as pessoas fazem para suas vidas. "Quando o homem deixa de escolher o caminho de Deus para buscar o caminho do mal, do prazer que o leva a satisfações imediatas, este homem deixa de ser o artífice e construtor da paz e torna-se um instrumento construtor da violência e das maldades."
O religioso afirma que a violência, as guerras e as maldades não estão no projeto de Deus. "Pelo contrário, Deus tem em seu projeto a paz e a vida. Mas, quando o homem se desvia deste projeto ele passa a gerar em si toda espécie de maldades e pecado."
O jovem, como artífice, construtor da paz, deve manter, sobre todas essas realidades de violência, um olhar de esperança e jamais pensar ser impossível contemplar a paz no mundo, diz o religioso.
Para Irmão Viveiros, o jovem renova a esperança, a confiança e a fé quando olha para a cruz de Cristo e opta por seguir seus ensinamentos. Assim, ele passará a olhar o mundo de forma diferente.

A violência em São Paulo e o jovem, artífice da paz
Os meios de comunicação têm noticiado massivamente a onda de violência na região metropolitana de São Paulo onde dezenas de pessoas morreram. O jovem, cuja missão é ser artífice da paz, tem um papel a desempenhar também nesta realidade.
Para o religioso, os jovens que estão na Igreja precisam estabelecer uma aproximação com esses jovens que de alguma forma se tornaram vítimas do sistema violento afixado na sociedade.
"O jovem escuta o jovem. Precisa se aproximar daqueles que são vítimas, com essa abertura de ser no meio da juventude instrumento e tomar a consciência de que ele é artífice da paz e responsável por convidar e convocar a paz. O jovem deve ser uma presença da Igreja no meio dos outros jovens."
Segundo o religioso, cabe aos jovens cristãos serem sinal de luz nesses ambientes de trevas e de sofrimento. "É necessário sair do ambiente cristão e ir ao encontro da juventude que é vítima do mundo e se comprometer com a vida dos outros jovens que estão correndo riscos."
A Romaria
De acordo com Irmão Viveiros, a romaria contribui para uma civilização de paz. "Este é um grande momento de refletir sobre a vida. Jovens, artífices da paz são jovens que querem construir a suas vidas a partir de valores. Toda a programação da romaria quer levar o jovem a tomar consciência do seu papel de profeta no mundo de hoje."
Com as romarias anteriores, o religioso afirma ter constatado que o jovem gosta de desafios e não é possível parar um jovem bem motivado pela possibilidade de participação, de envolvimento da juventude e de crescimento. “Nada segura um jovem motivado”, ressaltou Irmão Viveiros.
A Romaria Nacional da Juventude, que está em sua 4ª edição, também quer preparar os jovens para o Hallel Aparecida Internacional que acontecerá em abril de 2013 em diferentes espaços do Santuário Nacional.


Fonte: Canção Nova

Dom Damasceno pede que a juventude seja protagonista da construção da paz

 

 

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Cardeal pede empenho na preparação para a Jornada Mundial da Juventude

Jovens de todas as partes do Brasil lotaram os corredores do Santuário Nacional nesta quinta-feira (15), feriado da Proclamação da República, durante a 4ª Romaria Nacional da Juventude.

O Cardeal arcebispo de Aparecida e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Raymundo Damasceno Assis presidiu a Celebração Eucarística, às 11h30 no Altar Central, especialmente dedicada à juventude.

Pelas quatro naves do Santuário, jovens entraram com bandeiras brancas remetendo ao tema da Romaria Nacional da Juventude ‘Jovens: Artífices da paz’ e com cartazes, que juntos, formaram o logo da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontece em 2013 no Rio de Janeiro.

Em sua homilia, Dom Damasceno ressaltou que a  Romaria Nacional da Juventude tem caráter de preparação para JMJ.

“As dioceses de todo o Brasil tem se empenhado na preparação da Jornada Mundial da Juventude, através da peregrinação dos ícones da JMJ”, afirmou Dom Damasceno.

O Cardeal ressaltou que a JMJ será um momento forte de encontro dos jovens no Rio de Janeiro.

“Este é o momento propício para conviver e aprofundar a experiência de um encontro mais profundo com Deus. Os jovens são aqueles que devem ser os primeiros apóstolos missionários dos próprios jovens”, acrescentou.

Dom Damasceno falou ainda que a preparação mais imediata será na Semana Missionária, que acontecerá  nas diversas dioceses do Brasil, para acolher os jovens de todas as partes do Brasil e do mundo inteiro.

“Queridos jovens, empenhemo-nos nessa preparação para a Jornada Mundial da Juventude. Vocês são chamados a construírem um mundo onde todos tenham condições dignas de vida, sejam respeitados nas suas diferenças, tenham direito a vida como presente de Deus”.

Mencionando o tema da Romaria da Juventude ‘Jovens: Artífices da Paz’, o Cardeal pediu que a juventude seja protagonista de um mundo de paz.

“Jovens, vocês são chamados a serem protagonistas da construção da paz”, finalizou.

Convite


Conforme tem sido divulgado, ao longo deste mês, pelo nosso Pároco, o padre Toninho, a imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens, além de todo seu inestimável valor religioso, tem também importante valor histórico. Data dos idos de 1750 e é uma belíssima obra de arte, representante de sua época.
A cada ano, o esforço empreendido em sua descida do altar principal da nossa Matriz, para as festividades de Nossa Senhora Mãe dos Homens, tem causado sério temor de avaria em sua frágil estrutura.
Por isso, visando preservar a imagem de fundamental importância para nossa comunidade, foi esculpida uma nova imagem - inspirada na tradicional - para o fim específico de utilização nas procissões.
Por isso, a fim de acolhermos esta nova imagem em nossa Matriz, será realizada uma procissão no próximo dia 15 de novembro. Logo após, será realizada a tradicional Missa Votiva de Nossa Senhora Mãe dos Homens.
Assim, convidamos toda a comunidade em geral a se concentrar em nossa Matriz, às 18h.
Já os festeiros de Nossa Senhora Mãe dos Homens - de todas as épocas - estão convidados a se reunir na Igreja de São Benedito, no mesmo horário, para a partida da procissão.
Para maior abrangência deste ato de fé e gratidão à nossa Mãe, contamos com a colaboração de todos no sentido de divulgar este convite entre todos os membros de nossa comunidade.


Pascom Sul 1 realiza Encontro Regional de Comunicação

A Pastoral da Comunicação, do Regional Sul 1 da CNBB, realizará o 18º Encontro Estadual de Comunicação, de 23 a 25 de novembro, na casa de acolhida Pio XI, na Arquidiocese de São Paulo, na capital.


Durante reunião realizada na sede do Regional no dia 27 de agosto foram divulgados o cartaz, a programação e outros detalhes sobre a décima oitava edição do encontro. Destinado aos agentes de comunicação e profissionais da mídia católica das Arquidioceses e Dioceses do Estado de São Paulo, o encontro terá como tema “Mídias digitais: Desafios e possibilidades para a evangelização”. Os assessores serão a professora Polyana Ferrari da PUC-SP, especialista em Mídias digitais e o padre Gildásio Mendes dos Santos, salesiano, de Campo Grande, com especialização e experiência no uso das Mídias Digitais na evangelização.
Para esta edição do Encontro de Comunicação, padre Gildásio propôs uma dinâmica diferente. Ele irá trabalhar com “cases” nos diversos segmentos pastorais, que representem o uso e o impacto nas mídias digitais e nas redes sociais. Segundo padre Gildásio, a metodologia de trabalho será uma oportunidade de mostrar o que está sendo feito nas comunidades e lançar um olhar sobre cada um para relevar os desafios e apresentar propostas práticas. Participantes irão apresentar cases com temas como Pastoral Vocacional, Catequese, formação de lideranças, Liturgia, Juventude, entre outros, que serão analisados e servirão de exemplos concretos de utilização dos meios para a evangelização.
Outro atrativo será a Noite Cultural, na qual os participantes irão conhecer o Museu de Arte Sacra de São Paulo e o Mosteiro de São Bento, que ficarão abertos, exclusivamente, para receber o grupo.
De acordo com a coordenadora regional irmã Maria Celeste Ghislandi o "objetivo do encontro é mostrar o fenômeno das Mídias Digitais e seu impacto na sociedade e na evangelização”. Além disso, o evento se propõe em reunir agentes da pastoral da Comunicação e profissionais da área da comunicação em geral. A coordenadora destaca ainda que o encontro “pretende não só informar, mas oferecer pistas e apoio para que as novas tecnologias virtuais sejam utilizadas na pastoral como forças integradoras para a formação, comunhão e comunicação da vida e ação da Igreja”, concluiu irmã Celeste.
As inscrições devem ser feitas no site do Regional Sul 1, por meio de preenchimento da ficha on lin. Clique AQUI para preencher

Investimento:
R$ 180,00 para participação completa, com hospedagem e alimentação.
R$ 120,00, sem hospedagem.
O pagamento deverá ser feito por depósito bancário até o dia 10 de novembro. (Todos os dados estão na ficha de inscrição on line).


Mais informações no site e na fan page da Pascom do Sul 1:
www.facebook.com/PascomSul1.


Veja a programação:


23 de novembro, sexta-feira
10h00 – Reunião da equipe central
14h00 -  Credenciamento
18h00 -  Jantar
20h00 -  Abertura Oficial
22h00- Coquetel


24 de novembro, sábado
07h00 – Levantar
07h30 -  Celebração eucarística
08h15 -  Café
09h00 -  Palestra: A explosão das Mídias Digitais - Professora  Polyana Ferrari – PUC- SP
10h00-  Café
10h30-  Cont. Professora Polyana – Debate
12h00 –Almoço
14h00 –Palestra do Pe. Gildásio Mendes – Mídias Digitais: desafios e possibilidades para a      evangelização
15h30 – Café
16h00 -  Cont. Pe. Gildasio Mendes
17h30 -  Tempo livre
18h00 -  Jantar
19h00 – Saída - Noite cultural


25 de novembro, domingo
7h00  - Levantar
07h30  - Celebração Eucarística presidida pelo cardeal Arcebispo de São Paulo Dom Odilo Pedro Scherer
08h30  - Café
09h00  - Palestra Pe. Gildasio – Como trabalhar com a Mídias Digitais   Evangelização. Propostas concretas
10h30 -  Café
11h00 -  Encontro por Sub Regiões
11h30 -  Encerramento
12h00 – Almoço - Despedida.


Mais informações no e-mail
cnbbs1@cnbbsul1.org.br ou através do telefone (11) 3253-6788

A fome: desafio ético e político


Por causa da retração econômica provocada pela atual crise financeira, o número de famintos, segundo a FAO, saltou de 860 milhões para um bilhão e duzentos milhões. Tal fato perverso impõe um desafio ético e político. Como atender às necessidades vitais destes tantos milhões e milhões?

Historicamente, este desafio sempre foi grande, pois a necessidade de satisfazer demandas por alimento nunca pôde ser plenamente atendida, seja por razões de clima, de fertilidade dos solos ou  de desorganização social. À exceção da primeira fase do paleolítico, quando havia pouca população e superabundância de meios de vida, sempre houve fome na história. A distribuição dos alimentos foi quase sempre desigual.

O flagelo da fome não constitui, propriamente, um problema técnico. Existem técnicas de produção de extraordinária eficácia. A produção de alimentos é superior ao crescimento da população mundial. Mas eles estão pessimamente distribuídos. Cerca de 20% da humanidade dispõem para seu desfrute de 80% dos meios de vida. E 80% da humanidade devem se contentar com apenas 20% deles. Aqui reside a injustiça.

O que ocasiona esta situação perversa é a falta de sensibilidade ética dos seres humanos para com seus coiguais. É como se tivéssemos esquecido totalmente nossas origens ancestrais, aquela da cooperação originária que nos permitiu sermos humanos.  Esse déficit em humanidade resulta de um tipo de sociedade que privilegia o indivíduo sobre a sociedade, valoriza mais a apropriação privada  do que a coparticipação solidária, mais a  competição do que a cooperação, dá mais centralidade aos valores ligados ao masculino (no homem e na mulher) como  a racionalidade, o poder, o uso da força do que aos valores ligados ao feminino (também no homem e na mulher) como a sensibilidade aos processos da vida, o cuidado e a disposição à cooperação.

Como se depreende, a ética vigente é egoísta e excludente. Não se coloca a serviço da vida de todos e de seu necessário cuidado. Mas está a serviço dos interesses de indivíduos ou de grupos com exclusão de outros.

Uma desumanidade básica se encontra na raiz do flagelo da fome. Se não vigorar uma ética da solidariedade, do cuidado de uns para com os outros, não haverá superação nenhuma.

Importa considerar que  o desastre humano da fome é também de ordem política. A política tem a ver com a organização da sociedade, com  o exercício do poder e com o bem comum.  Já há séculos, no Ocidente, e hoje de forma globalizada, o poder político é refém do poder econômico, articulado na forma capitalista de produção. O ganho não é democratizado em benefício de todos mas privatizado por aqueles que detêm o ter, o poder e o saber; só secundariamente beneficia os demais. Portanto, o poder político não serve ao bem comum. Cria desigualdades que representam real injustiça social e hoje mundial. Em consequência disso,  para milhões e milhões de pessoas, sobram apenas migalhas sem poderem atender a suas necessidades vitais. Ou, simplesmente, morrem em consequência das doenças da fome, em maior número, inocentes crianças.

Se não houver uma inversão de valores, se não se instaurar uma economia submetida à política, e uma política orientada pela ética e uma ética inspirada numa solidariedade  básica, não haverá possibilidade de solução para a fome e subnutrição mundial. Gritos caninos de milhões de famintos sobem continuamente aos céus sem que respostas eficazes lhes venham de algum lugar e façam calar este clamor.

Por fim, cabe reconhecer que a fome resulta também do desconhecimento da função das mulheres na agricultura. Segundo avaliação da FAO, são elas que produzem grande parte do que é consumido no mundo: de 80% - 98% na África subsaariana, de 50%-80% na Ásia e 30% na Europa central e  do Leste. Não haverá seguridade alimentar sem as mulheres agricultoras, caso não lhes for conferido  mais poder de decisão sobre os destinos da vida na Terra. Elas representam 60% da humanidade. Por sua natureza de mulheres, elas são as mais ligadas à vida e à sua reprodução. É absolutamente inaceitável que, a pretexto de serem mulheres, se lhes neguem os títulos de propriedade de terras e o acesso aos créditos e a outros bens culturais. Seus direitos reprodutivos não são reconhecidos, e se lhes impede o acesso aos conhecimentos técnicos concernentes à melhoria da produção alimentar.

Sem estas medidas continua válida a crítica de Gandhi: ”A fome é um insulto; ela avilta, desumaniza e destrói o corpo e o espírito…se não a própria alma; é a forma de violência mais assassina que existe”.

Autor: Leonardo Boff