Cidades da região estariam encaminhando essas pessoas sob alegação de que em Sorocaba há estrutura para atendê-los
Algumas cidades da região, como Itu, Itapetininga e São Roque, estão enviando moradores de rua para Sorocaba, alegando que a cidade possui mais estrutura para prestar os atendimentos devidos a eles, conforme denunciam a equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) de Sorocaba e a secretária de Cidadania, Maria José Lima. Na casa de passagem do Creas-Pop, a assistente social Lúcia Aparecida de Souza Silva diz que sempre ouve os trecheiros (como são conhecidas as pessoas que vagam de cidade em cidade, sem possuir moradia fixa) dizendo que passaram por essa situação. "Eles falam: 'Lá em Sorocaba eles têm condições de mandar você embora, têm a possibilidade de fornecer a passagem para você voltar para casa, e nós não temos. O máximo que podemos fazer por você é dar alimentação e uma passagem para Sorocaba'. O destino é sempre Sorocaba", relata o trecheiro Ezequias Teixeira, 37 anos, que nasceu no Estado do Paraná e agora fixou-se em Sorocaba. As prefeituras de Itu, Itapetininga e São Roque negam as acusações, afirmando que realizam um estudo social para decidir se darão a passagem a quem requisita, como forma de descobrir o destino correto para essas pessoas (leia abaixo).
Nessa época do ano, em que ocorrem as festividades de Natal e revéillon, Lúcia diz que a presença de trecheiros em Sorocaba aumenta muito, chegando a ser o dobro do número registrado em meses anteriores. "Tivemos em novembro, no atendimento social, 250 pessoas passadas pelo serviço", especifica. De acordo com ela, todos os dias, entre 5 e 10 pessoas que passam pela casa do Creas-Pop relatam que receberam uma passagem de ônibus para Sorocaba, já que a cidade possui toda uma estrutura que pode prestar os atendimentos necessários a essas pessoas. "Todos os dias chega alguém, falando que veio de cidades da região, porque é aqui que dá passagem. Sorocaba tem essa fama, e não é assim. Existe um limite de verba, por isso é preciso fazer uma análise socioeconômica, descobrindo se a família do cidadão realmente é do local que ele pede a passagem", explica.
Trecheiros confirmam
Essa informação foi confirmada pelos trecheiros que sempre passam pela casa do Creas-Pop, onde recebem alimentação, fazem sua higiene pessoal e ainda participam de oficinas, como a de artesanato. "O pessoal das cidades de Itu, Itapetininga e São Roque manda a gente para Sorocaba. Já passei por essas cidades várias vezes, não foi nem uma ou duas", relata Ezequias. "Eles não querem a gente lá. Se você chega lá e eles já te dão um passe para você ir embora, é porque eles não te aceitam na cidade", opina.
A mesma situação foi vivenciada por Leandro Luís Antão, 27, quando passou por São Roque nos últimos tempos. "Lá eles não têm nada, é feia a situação, eles tratam a gente mal, não tem albergue. Então, todo mundo que chega lá é mandado para Sorocaba", revela. Ele considera a cidade de Sorocaba como uma "mãe", pois diz que todo o atendimento que necessita é encontrado no município. "Estou aqui agora para procurar serviço, já estou correndo atrás, e as pessoas estão me ajudando. O pessoal daqui dessa casa (Creas-Pop) é uma mãe, a gente aprende de tudo e é bem tratado."
O trecheiro Cristiano Andrade dos Santos, 25, que há 11 anos perambula de cidade em cidade, afirma que isso aconteceu com ele em Itu e a alegação para oferecer passagem de ônibus para Sorocaba era de que a cidade é a referência para o atendimento social na região. "Eles falam que aqui tem mais estrutura para nos atender", enfatiza, dizendo, ainda, que os municípios de destino sempre são Sorocaba ou São Paulo, porém os assistentes sociais dizem aos trecheiros, segundo Santos, que Sorocaba é uma cidade "melhor" e "menos violenta".
"Cidade solidária"
A secretária de Cidadania, Mazé Lima - como é conhecida -, acredita que isso ocorre por Sorocaba possuir uma fama de "cidade solidária", pois diversos munícipes ainda dão dinheiro aos pedintes, ignorando as campanhas que já foram realizadas na cidade, como a "Esmola Não Dá Futuro", lançada em 2005. "Isso atrapalha nosso trabalho. Se as pessoas, em vez de dar esmola, informassem onde tem atendimento para os pedintes seria muito melhor. Eles não pedem dinheiro para comer e sim para beber e se drogar, e assim eles passam a oferecer perigo", ressalta Mazé.
Para resolver essa situação, a assistente social Lúcia revela que, criminalmente, não há como fazer nada, já que está previsto na Constituição brasileira que todo o cidadão tem o direito de ir e vir, a qualquer lugar que lhe interesse. Ela acredita que se todas as cidades tivessem uma estrutura adequada para atender os moradores de rua que aparecem em seu território, esse problema poderia caminhar para uma solução mais concreta. "Não adianta o outro município achar que Sorocaba é grande e pega o indivíduo e fala: 'Vai para Sorocaba' ". A gente tem que procurar é amenizar essa situação, trabalhando com políticas públicas para os moradores de rua existentes e suas demandas", relata, lembrando do Creas-Pop, que é organizado com verbas federais.
Já a secretária Mazé Lima informa que pretende marcar uma reunião com os assistentes sociais de Itu, Itapetininga e São Roque, como forma de esclarecer essa situação.
Fonte, Jornal Cruzeiro do Sul
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