quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sorocaba: chuvas

A chuva intensa que caiu em Sorocaba na madrugada de hoje (19) causou dezenas de alagamentos e provocou a interdição da linha férrea que corta a cidade. A força das águas arrancou dormentes que sustentavam os trilhos no bairro Inhaíba. A linha cedeu e o tráfego de trens foi interrompido.

Em outra parte da linha férrea, a passagem de trens ficou interrompida durante toda a manhã. No km 91,5 mais um desmoronamento de terra prejudicou o tráfego. Técnicos da ALL trabalharam durante toda a manhã para liberar o trecho.

De acordo com a ALL, a circulação de trens não foi prejudicada porque a ferrovia dispõe de uma segunda linha no trecho. No mesmo bairro, duas casas foram alagadas pela enxurrada e uma delas ruiu parcialmente. Devido às chuvas, muros desabaram em Brigadeiro Tobias e uma casa, em risco de ruir, foi interditada na Vila Astúrias. (AE)

Fábio Rogério


A região de Brigadeiro Tobias foi a que mais sofreu com os estragos causados pela forte tempestade que voltou a atingir Sorocaba na noite de segunda-feira (18). No total, foram 15 milímetros de chuva registrados e, nos últimos três dias, o índice pluviométrico acumulado já chega a 65 milímetros. O caso mais grave aconteceu no bairro Inhaíba, onde a queda de uma barreira na lateral da linha férrea provocou o represamento de água e, com a força, a derrubada do muro de uma residência. A América Latina Logística (ALL) diz que a causa foi uma área desmatada próxima.

Na mesma região, casas foram alagadas e durante todo o dia de ontem os moradores não conseguiram limpar a sujeira, pois o rompimento de uma tubulação da rede de água suspendeu o fornecimento. Na Vila Astúrias, um barranco desmoronou e interrompeu o acesso a uma creche, cujo prédio foi interditado, pela Defesa Civil, por conta do risco de novos desmoronamentos. Ninguém ficou ferido, porém, os prejuízos financeiros foram grandes.

O aposentado Francisco Vieira Luz contou que nunca havia visto de perto tanta destruição. Ele mora há 50 anos no bairro Inhaíba e, há pelo menos 20 anos, havia levantado o muro que foi destruído pelas águas. O acidente aconteceu por volta das 22h30, quando toda a família - o casal, um filho solteiro, uma filha casada, seu marido e uma criança - estava na residência localizada na rua Rita Maria Rosa, 804. “De repente a água começou a entrar e a parede, que tinha uma janela, estourou”, relembra o dono da casa. O desepero foi grande, pois havia muita água, que subiu rapidamente.

Para escoá-la foi necessário abrir buracos nos outros muros. “Essa água ficou represada. Se estivesse tudo em ordem, poderia ter sido um simples acidente. Mas sei que tem coisa errada lá em cima”, falou, referindo-se ao topo de pequeno barranco, por onde passa a linha férrea administrada pela América Latina Logística (ALL), na altura do km 89. Mesmo correndo riscos, Francisco enfrentou a água para salvar seus documentos, um dos poucos pertences que não foram destruídos.

“Para mim, os documentos valem mais que dinheiro. Temos que agradecer a Deus por ninguém ter morrido”, falou o aposentado. Até a tarde de ontem, a família não havia recebido nenhuma informação da ALL sobre o ressarcimento dos danos materiais. “Eles só disseram que têm uma tábuas novas para fazermos armários. A gente tenta não se desesperar, mas a hora vai passando. Infelizmente, a gente se sente abandonado pelo Poder Público”, falou Orlando Juca da Silva, genro de Francisco. Às 16h30 de ontem, eles ainda estavam com a casa toda revirada. “Tiramos o barro mais grosso, mas precisamos de água. A Defesa Civil disse que mandará um caminhão-pipa, mas, até agora, nada”, completou.

Mais prejuízo

Em outra parte da linha férrea, também no Inhaíba, a passagem de trens ficou interrompida durante toda a manhã. No km 91,5 mais um desmoronamento de terra prejudicou o tráfego. Técnicos da ALL trabalharam durante toda a manhã para liberar o trecho. Na estrada de terra que dá acesso ao bairro era fácil perceber, em vários pontos, pequenos deslizamentos de terra. Na chácara da família Edamatsu, localizada ao lado da conhecida “represinha” do Inhaíba, o estrago também foi grande.

A força da água, que subiu até quase um metro de altura, destruiu alambrados e levou muita terra para toda a área de lazer do terreno. A piscina ficou cheia de lama e, por pouco, a parte interna da casa não foi atingida. “Moro por aqui há muitos anos e nunca havia visto uma destruição como esta”, contou o caseiro Jaime Nunes da Silva, que logo chamou os patrões, que moram em São Paulo, para ver de perto os estragos.

Numa área próxima, na Vila Astúrias, o desmoronamento de um barranco assustou os voluntários da Creche Jardim Ecológico. A terra cedeu durante a madrugada e os funcionários só perceberam o acidente quando chegaram pela manhã. Felizmente, as 40 crianças atendidas, com idade entre 2 e 5 anos, ainda estão em férias. Nenhuma construção foi afetada, porém, o acesso ao local foi interrompido e a Defesa Civil interditou o prédio principal, pois constatou que ainda há risco de desmoronamento de terra.

“Depois do que vimos em Angra dos Reis ficamos com medo do que pode acontecer. Nosso trabalho é essencial pois recebemos crianças que não são atendidas pela Prefeitura”, falou Adriana Sapiras, diretora da creche. Em Brigadeiro Tobias, um muro de arrimo de aproximadamente sete metros caiu na rua Joaquim Roque Oliveira, 259. No bairro Genebra, uma ponte cedeu com a força da água que também atingiu uma casa, na altura do número 880 da estrada da Querência. Em outro ponto da cidade, na região de Aparecidinha, chácaras ficaram ilhadas devido ao alagamento registrado na rua Leônidas Amaral.

Problema de desmatamento

Por meio de uma nota, a empresa América Latina Logística (ALL) informou que “o bueiro e a canaleta de escoamento da ferrovia ficaram intactos. O que causou essa enxurrada foi um desmatamento próximo a malha que não pertence a ALL, nesse caso, a empresa, assim como os moradores foram prejudicados”.

A nota diz ainda: “Vale lembrar que a malha recebe vistorias diárias dos rondantes e dos autos de linha, justamente para avaliar os pontos criticos e realizar a manutenção imediatamente. Aliás, a ALL já estava com trabalhos de infraestrutura em toda a região de Sorocaba até Mairinque. Mesmo não sendo de sua responsabilidade a ALL utilizará seus equipamentos para auxiliar na limpeza da área que inclui a casa do morador”.

E finaliza: “Mais de 30 homens trabalham ao longo do trecho de Sorocaba para corrigir a malha afetada pela chuva. O fluxo de trens não foi comprometido por haver na cidade duas linhas. A linha que foi atingida pela água da chuva foi liberada por volta das 13h”.

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