quinta-feira, 29 de março de 2012

Cidade cresce 364%, mas rodoviária segue a mesma

 

Prédio foi inaugurado em 1973 e, segundo usuários e motoristas, está defasado e tem serviço estrangulado

O prédio de oito mil metros quadrados de área construída foi apresentado pela Sociedade Comercial e Administração Ltda (Sócia) - Por: Aldo V. Silva

 

Notícia publicada na edição de 25/03/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 006 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

Carlos Araújo

carlos.araujo@jcruzeiro.com.br

A Estação Rodoviária de Sorocaba (Rodo Center) perdeu o bonde da história, não acompanhou o crescimento de Sorocaba e as últimas administrações municipais também não conseguiram viabilizar uma alternativa de terminal rodoviário para a cidade - que tem hoje população estimada em 620 mil habitantes, comemora índices de desenvolvimento, consolida sua vocação com a criação do Parque Tecnológico e atrai grandes empresas como a multinacional Toyota e a Embraer.

Quando a Rodoviária foi inaugurada, em 1973, Sorocaba tinha aproximadamente 170 mil habitantes (o crescimento é de pouco mais de 364%). O prédio de oito mil metros quadrados de área construída foi apresentado pela Sociedade Comercial e Administração Ltda (Sócia), a empresa que obteve a concessão dos serviços, como exemplo de edificação arrojada, gigantesca, moderna. Perto de completar 40 anos (o que ocorrerá em 2013), a Rodoviária é atualmente um empreendimento defasado e que tem seu serviço estrangulado pelas mudanças da cidade e os efeitos na região onde ela está localizada, em área de 13 mil metros quadrados no quarteirão de esquina de duas importantes avenidas, a Comendador Pereira Inácio e a Juscelino Kubitschek.

Esse diagnóstico é compartilhado pelo vereador Paulo Mendes (PSDB), que foi prefeito em dois mandatos (1987/1988 e 1993/1996), passageiros e motoristas de ônibus. "Pelo tamanho da cidade, ela é pequena", disse a aposentada Odila de Oliveira Souza, de 56 anos, que esteve no início da noite da última quarta-feira na Rodoviária para esperar um cunhado.

"Ela está num ponto desfavorável", afirmou o engenheiro de segurança e arquiteto Carlos Alberto Venturelli, de 67 anos, que foi diretor do Departamento do Controle de Uso de Imóveis (Contru) de São Paulo e trabalha em Sorocaba na área da construção civil. Referindo-se à Rodoviária e seu entorno, Venturelli descreveu assim: "Ela está num ponto crítico. No final da tarde vira um tumulto, o trânsito não anda mais. São ônibus entrando, saindo. Ela acaba estrangulando o trânsito em vez de favorecer. Isso aqui vira um caos, principalmente quando chove. Aqui é um centro nervoso de Sorocaba."

O aposentado Rolando de Paula, de 61 anos, encontrou uma vaga para estacionar o carro na rua Pandiá Calógeras, ao lado da Rodoviária, e esperou um parente que chegaria de viagem. Perguntado se encontrou dificuldade para estacionar, ele respondeu: "Sempre houve dificuldade. Eu dei quatro voltas para parar aqui." E fez fortes críticas: "A começar pela própria Rodoviária, que é um lixo. Local mal frequentado, sujeira, pessoas com cara de drogado. Isso é um galinheiro, um lixo, um chiqueiro." Rolando de Paula disse que há pessoas que se aproximam do motorista e, mesmo que ele esteja dentro do carro, cobram pelo uso da vaga. Quando quem dirige é uma mulher, a situação é pior: "Qualquer moça, mulher, vai se assustar." Segundo ele, as pessoas a que se refere "têm olhos vermelhos, sujos, a gente percebe que são drogas".

Os motoristas Pedro Bacarin, de 42 anos, da Cometa, e José Maria da Silva, da Transpen, disseram que as dificuldades são de estacionamento para os ônibus enquanto aguardam os horários de partida. "Tenho que sair da garagem calculando calculando chegar (na plataforma) 10 minutos antes, e aqui em Sorocaba está complicado calcular tempo por causa do trânsito", disse Alaor da Silva Marques, de 35 anos, também da Cometa.

"Está muito pequenininho esse desembarque, principalmente nos fins de semana e feriados", disse Bacarin. "Já fiquei parado três, quatro minutos antes de entrar no desembarque." Os motoristas usam a rua Joubert Wey para estacionar os ônibus, mas ela é insuficiente porque ali também disputam vagas com os automóveis.

O comerciante Orlando Pasqualini, de 70 anos, que tem uma loja de roupas na Rodoviária, disse que não há como modernizar o local: "Modernizar seria fazer outra." Segundo ele, a direção tem feito melhorias constantes na infraestrutura. "Estão trocando cadeiras, substituíram todo o encanamento, fiação, tudo novo", disse. Pasqualini vê vantagens na atual localização: "Estamos perto do Conjunto Hospitalar, do Hospital Oftalmológico, vem gente do Brasil todo aqui. Estamos perto da marginal, Raposo Tavares, o acesso é fácil." Sobre o trânsito complicado no entorno, afirmou: "Horário de pico é (difícil) na cidade toda."

Direção da Rodoviária

O gerente operacional da Rodoviária, Julio Cabral, de 37 anos, informou que quem poderia falar sobre as críticas de defasagem do prédio seria o diretor Sérgio Sorrentino, um dos sócios da Sociedade Comercial e Administração Ltda, mas ele está em viagem ao exterior e deve voltar em duas semanas. Outro sócio, Guido Cussiol Filho, também está em viagem. Cabral falou sobre os outros aspectos, a começar por rebater as críticas de Rolando de Paula: "Eu não vejo que a Rodoviária em si é um lixo. Esse problema de pessoas com olhar avermelhado ou até morador de rua no perímetro da Rodoviária, já é um problema social", afirmou.

Ele lembrou que a Rodoviária oferece o serviço do Centro de Triagem, onde a Prefeitura mantém atendimento para pessoas que precisam de ajuda. Quem precisa é encaminhado para o albergue do Serviço de Obras Sociais (SOS). No albergue ela tem banho, alimentação e lugar para dormir por até três dias. A perua Kombi do SOS passa na Rodoviária para recolher pessoas e as devolve no dia seguinte às 9h30.

Segundo Cabral, em 2011 a Rodoviária recebeu pintura externa e banheiros receberam melhorias. O local oferece banheiros gratuitos, masculino e feminino, e também há opção para banheiros para homem e mulher com pagamento a R$ 1,00 por pessoa.

Cabral admitiu que a Rodoviária se torna "pequena" mas isso ocorre em dias de movimento intenso, como vésperas de feriado prolongado. "O Tietê (em São Paulo), em dia de véspera de feriado, você não consegue andar", exemplificou.

Administradores

Sobre o perfil da Rodoviária em relação à área que ela ocupa, o vereador Paulo Mendes afirmou: "Sem nenhuma dúvida que já se encontra há bastante tempo defasado, até pelo crescimento de Sorocaba e pela demanda diária de ônibus que atendem não só a região, mas a macrorregião. Existe uma demanda crescente, ali está estrangulado o serviço, está num recinto onde a gente sente que está defasado."

"A localização da Rodoviária se revela cada dia pior", afirmou Caldini Crespo.

Consciente de que já era necessário planejar alternativa, em 1987 a Prefeitura já tinha estudo para a construção de uma nova rodoviária, segundo informou na época o arquiteto Antonio Carlos Ribeiro Abib, da administração municipal. Em 1990, quando Crespo era presidente da Urbes, a Prefeitura apresentou o projeto da nova Rodoviária e o local onde ela seria construída, no entroncamento com a alça que liga a rodovia José Ermírio de Moraes, a Castelinho, com a avenida Dom Aguirre. Este local, até hoje desocupado, fica do lado direito de quem entra na alça, procedente de São Paulo, para entrar na avenida Dom Aguirre.

Naquela época, a Prefeitura abriu licitação para atrair a iniciativa privada, mas nenhuma empresa se interessou pelo projeto. Os detalhes do projeto chegaram a orçá-lo em Cr$ 536 milhões (em moeda do período, o cruzeiro), sendo Cr$ 450 milhões na construção civil e Cr$ 86 milhões em pagamento de indenizações. Crespo descreveu o projeto para a área de 38 mil metros quadrados como um terminal simples em seu aspecto funcional, mas de arquitetura moderna e semelhante aos terminais Tietê e Barra Funda de São Paulo.

Outro local que entrou nos planos da Prefeitura para a construção da nova Rodoviária estava localizado no Jardim Iguatemi, próximo à avenida 15 de Agosto, espaço ocupado atualmente por galpões industriais. Moradores de Santa Rosália e do Jardim Iguatemi não concordaram com a escolha dos bairros para receber a nova Rodoviária. "A gente poderia encarar o problema político, mas o crítico foi que não apareceu interessado para investir e depois receber ao longo do tempo", recordou Crespo.

A reportagem encaminhou na última quarta-feira perguntas sobre todos esses assuntos à administração do prefeito Vitor Lippi, mas até sexta-feira não houve resposta.

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