quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Mercado da fé movimenta mais de R$ 12 bilhões por ano no Brasil

 

Livros, CDs, DVDs e até artesanato contribuem para esse crescimento.
Assunto é abordado em série de reportagem exibida pela TV Tem.

Do G1 Itapetininga e Região

O mercado da fé é um dos setores que mais cresce no Brasil. Segundo pesquisa feita na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em 2012 a fé movimentou aproximadamente R$ 12 bilhões no país.

A dinâmica desse mercado e os destaques dele são assuntos abordados na quarta reportagem da Série ‘FÉ’ exibida nesta quinta-feira (3) pela TV Tem, emissora afiliada da Rede Globo no interior de São Paulo.

De acordo com o professor de Ciências do Consumo, Mário René, responsável pela pesquisa, o crescimento do mercado duplicou em relação à última década. A Câmara Brasileira do Livro comprova o crescimento apontado no estudo. Somente no mercado editorial, em 2012, o segmento de livros evangélicos teve aumento de aproximadamente 14% em relação ao ano anterior. As publicações faturaram R$ 479 milhões.

Outra pesquisa, ‘Retrato da Leitura no Brail’, apontou que os evangélicos são os que mais leem. O estudo ainda mostrou que os cristãos leem o dobro em relação a população em geral. O livro mais lido pelos brasileiros é a Bíblia. Por ano, são produzidos em média 8,5 milhões exemplares, o que corresponde uma Bíblia a cada três segundos. O Brasil ainda é responsável pela exportação delas para 105 países.

Ainda no mercado editorial, um dos livros recorde de vendas no mercado da fé é ‘Ágape’, escrito pelo padre Marcelo Rossi. A obra já teve mais de 8 milhões de exemplares comercializados e está na lista dos mais lidos em todo o país. Para o autor do livro, o fenômeno ocorre porque as pessoas ficam curiosas. “Primeiro pelo título: o que é Ágape? A palavra vem do grego, que é este amor incondicional, este amor divino. Depois da leitura, as pessoas passam a compreender que Deus as ama, que Deus nos ama e que este amor leva a fé”, diz Rossi.

O padre afirma que se surpreende com as vendas. Em dias de autógrafo já arrastou milhares de pessoas para as livrarias. “Com o ‘Ágape’ e o ‘Agapinho', a versão infantil de 'Ágape', foram 70 cidades visitadas. Um dia que marcou correu em Brasília (DF) quando passaram pela loja 23.583 pessoas. Eu tenho certeza do número porque era uma livraria que registrava o número de pessoas quando elas saiam com o livro. Eu não consegui dedicar, autografar todos os livros. Chegou uma hora em que eu abençoava e tirava a foto. Foram horas de atendimento ao leitores. Era para ter saído da biblioteca às 20h, mas só fui sair na madrugada, quase à1h”, relembra.

Outro religioso que se lançou nesse mercado em ascensão é o padre Adriano Zandoná. Ele já foi capa de uma importante revista brasileira por despontar nesse mercado. No livro ‘Construindo a felicidade’, busca se comunicar com o jovem por meio de uma linguagem simples. “Eu percebo que o jovem é movido por desafio. O jovem tem sede de ir além, de transcender, e a fé, o imperativo de crer no nosso mundo, na nossa atual sociedade, é um desafio. O jovem se lança em busca da fé. Ele vive essa vida de desafio, essa vida de desbravar a si mesmo através de Deus, de seguir a Deus e expor essa mensagem de esperança a tantas pessoas que precisam. Eu acho que isso completa o jovem, a sua sede existencial”, comenta.

Livros sobre a fé liberam a lsita dos mais vendidos no
Brasil.

Outras obras que também fizeram sucesso foram os livros de Chico Xavier. O médium mineiro não se reconhecia autor as obras. Dizia que os textos foram ditados por espíritos que o acompanhavam. Ele psicografou 426 livros. Toda a renda das vendas, doou para instituições de caridade.

De acordo com o filho adotivo do espiritualista, Eurípedes Higino, Chico Xavier era uma pessoa muito fácil de conviver, mas se dedicava a escrever o que recebia. "Ele escrevia até as 3h todos os dias”, comenta.

As obras espíritas também viraram sucesso de bilheteria no cinema. Em 2008, foi lançado o filme ‘Bezerra de Menezes. Dois anos depois vieram ‘Chico Xavier e nosso lar’, que ficou entre os dez mais vistos em 2010, e no seguinte o filme baseado no livro dos espíritos, de Alan Kardec.

Uma das produções que mais fizeram sucesso foi ‘As mães de Chico Xavier. Mais de 500 mil pessoas foram aos cinemas assistir à história que foi destaque no festival de Los Angeles, que divulga o cinema brasileiro.

Música
A música cristã também tem um boa fatia desse bolo econômico. Na velocidade do som está a procura por CDs religiosos. Nunca o setor fonográfico viu um crescimento como este. Dos 20 CDs mais vendidos em 2011, sete são de cantores que em suas letras falam de fé. Isso significa muito se comparado aos anos anteriores. Segundo o produtor musical, Flávio Reis de Camargo, a procura é muito alta. “Tem crescido bastante e pelo jeito não vai parar de crescer não”, comenta.

E esse crescimento tem um fator especial. De acordo com Camargo, quem compra produtos religiosos raramente se rende à pirataria. “O público gospel, os fãs de gospel, são fãs fiéis. Eles querem justamente comprar o disco para ajudar o artista, para incentivar a palavra de Deus nas pessoas. As grandes gravadoras acabam olhando e vendo uma oportunidade boa porque acabam vendendo muitos discos, sem pirataria. As pessoas não baixam as músicas, elas compram o CD. Isso, para as gravadoras, para nós que trabalhamos com produção, é excelente”, ressalta.

Um dos recordes de público é a cantora Ana Paula Valadão. Ela está entre os cantores que mais fazem sucesso no mundo gospel. À frente da banda ‘Diante do Trono’, gravou 15 CDs e DVDs. “Pessoas dizem muito para mim que as nossas músicas expressam exatamente o que elas queriam dizer para Deus. Que as nossas músicas são a trilha sonora da vida delas, que acompanham no dia a dia nos momentos de alegria e nos momentos de dificuldade. Elas se identificam”, diz.

Por onde passa, a cantora, que também é pastora, atrai muitos seguidores. Nos shows, a música potencializa a fé. O som contagia o público e não tem como não se envolver. E se a fé é acreditar naquilo que não se vê, durante as apresentações as pessoas afirmam que sentem a presença de Deus. “Não precisar ser evangélico para gostar.  Essa moça é ungida pelo Espírito Santo. Ela passa uma energia positiva para todo mundo”, diz a estudante Juliana Alves da Silva, fá de Ana Paula Valadão.

A cantora também é a inspiração de novos cantores, talentos revelados dentro de igrejas. A cantora Julia Regina de Castro Fabri Rodrigues e o cantor Otávio Leal Júnior se preparam para gravar o primeiro CD com músicas religiosas. Rodrigues conta que os dois cantavam juntos há aproximadamente seis anos dentro de uma igreja. No fim de 2012, ambos decidiram gravar um trabalho. “Decidimos colocar para fora toda essa bagagem e no começo de 2013 ainda, iremos gravar o nosso primeiro CD, se Deus quiser”, comenta a cantora.

LeaL Júnior está otimista com a nova fase. “Tenho muita fé na minha carreira. Acredito que através da música, que Deus me deu, vou alcançar muitas pessoas, com certeza”, afirma.

Aparecida
No maior santuário católico da América Latina, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), os dias não são só de orações, mas também de compras. O mês de outubro, quando é comemorado o dia de Nossa Senhora, padroeira do Brasil, é o mais importante para o movimento da cidade. Entre os dias 11 e 13 de outubro, cerca de 300 mil pessoas circulam pelo santuário.

Mas a peregrinação também se dá em outras épocas do ano e assim, a cidade que nasceu depois que a imagem da santa foi encontrada, tem a economia voltada para a fé. De acordo com o comerciante Renato Chad, toda a cidade vive exclusivamente desse mercado. “Não temos outra articulação que possa gerar renda. Não temos agropecuária, agronegócio ou indústrias. Não temos nada dessa parte que poderia avançar. Somente a fé”, diz.

As lojas em Aparecida estão sempre cheias. São pessoas de várias partes do Brasil em busca de bíblias, terços e imagens. Lembranças que falem de fé. A professora Verúsia Maira Silva dos Santos afirma que consegue encontrar presente para toda a família. “Tem presente para todos os gostos e bolsos. Tem imagens caríssimas, presentes caros e também de R$ 1. Pode-se levar um imã de geladeira ou qualquer outra coisa. Tudo isso é válido de lembrança”, diz.

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