Kimiko de Freytas-Tamura
Repórter de Negócios, BBC News
No rescaldo da crise financeira global, países como Alemanha, China e Brasil foram os motores que mantiveram a economia global em expansão. Mas, dados recentes de seu desempenho sugerem que eles estão perdendo força.
O Banco Mundial prevê uma recuperação econômica branda, com um crescimento global médio na casa de 2,5%.
Mas dentro desse cenário há uma clara diferença entre países em desenvolvimento, que devem crescer cerca de 5,3%, e economias desenvolvidas, onde a taxa média deve ser de 1,4%.
Já o FMI espera um crescimento global na casa dos 3,5%. Para o órgão, economias em desenvolvimento devem crescer 5,6% enquanto os países desenvolvidos devem atingir taxas de 1,4%.
Leia abaixo uma seleção de condições e perspectivas para as principais economias do mundo. Qual deverá ser a nação capaz de puxar a recuperação da economia global?
China
- No segundo trimestre deste ano, seu crescimento diminuiu para 7,6%.
- A meta de crescimento anual caiu para menos de 8% pela primeira vez nos últimos dez anos.
China tenta escorar economia após anos de crescimento descontrolado
O crescimento do PIB no segundo trimestre aponta para continuidade da desaceleração da potência asiática.
O crescimento caiu para 7,6% no período entre abril e junho - seu pior ritmo desde o início da crise global e abaixo da expectativa anual do governo e do FMI (Fundo Monetário Internacional), de 8%.
O país é considerado o maior mercado de exportação para muitas empresas - como BMW, Carrefour e Burberry - e a desaceleração deve prejudicá-las.
O arrefecimento do crescimento na China e na Índia indica que os países de toda região asiática devem seguir pelo mesmo caminho de desaceleração (exceto pela Tailândia e pelas Filipinas, que se beneficiam de custos mais baixos de mão de obra e atraíram empresas estrangeiras).
Em março, Pequim reduziu sua meta de crescimento anual para 7,5% - sendo que desde 2004 o índice não caía para um patamar menor que 8%.
Além disso, recentemente, o Banco Central da China cortou as taxas de juros duas vezes em menos de um mês - com o objetivo de sustentar o crescimento.
A China gozava de um superaquecimento de sua economia impulsionado por uma bolha imobiliária e por investimentos do governo em projetos de infra-estrutura.
A economia chinesa está agora sobrecarregada com excesso de capacidade, aumento da dívida e acúmulo de estoques nos armazéns.
Zona do euro
- Taxa de desemprego: 11,1%
- Mais de 3 milhões de de pessoas com idades entre 15 e 24 anos estão desempregadas
- A economia da zona do euro deve retrair 0,3% neste ano
- O PIB da Alemanha deve crescer 1% neste ano, segundo o FMI
Economia da zona do euro deve retrair 0,3% neste ano; taxa de desemprego chega a 11,1%
A zona do euro está dividida entre os países nortistas relativamente mais ricos (Alemanha, Holanda, Finlândia e França) e os sulistas atolados em crises (Grécia, Itália, Portugal e Espanha).
O euro atingiu seu patamar mais baixo em dois anos em relação ao dólar. Os investidores se preocupam com resultados fracos e planos de resgate para países em crise - incluindo o mais recente, que pretende salvar os bancos da Espanha.
O Banco Central Europeu pela primeira vez reduziu valores de taxas para menos de 1%, em uma tentativa de incentivar empréstimos corporativos e domésticos.
Para tranquilizar investidores, a Espanha anunciou uma nova rodada de medidas de austeridade que incluem aumento de impostos e cortes de gastos.
Até a Alemanha, que gozou de baixos índices de desemprego graças à sua competente indústria manufatureira, foi incapaz de se manter longe da crise da dívida que assola a região.
Atualmente, até seu mercado de trabalho vem demonstrando desenvolvimento mais lento. O índice de desemprego aumentou por três meses consecutivos, atingindo 6,8% em junho.
Enquanto isso, as exportações alemãs para a China, que atingiam dois dígitos, agora estão em 6%.
Estados Unidos
- Os EUA enfrentam um "abismo fiscal" com o fim das reduções fiscais
- A taxa de desemprego está em 2%
- O PIB deve crescer 2% em 2012
EUA sofrem com divergências sobre criação de plano para evitar resultados ruins na economia
A economia dos EUA teve um crescimento de apenas 80 mil empregos em junho - o que indica uma fraqueza persistente no mercado de trabalho, fator que pode prejudicar as chances de reeleição do presidente Barack Obama.
A taxa de desemprego ficou presa em 8,2% (para os negros chegou a 14,4%).
Como os países europeus, os EUA acumulam dívidas que chegam a 70% de seu PIB.
O país também se aproxima de um "abismo", na medida em que combina aumento de impostos e cortes de gastos programados para o próximo ano.
O resultado deve ser uma recessão provocada pela austeridade. Segundo o senador democrata Max Baucus, essa política pode levar a uma crise fiscal semelhante à vivenciada pela Europa.
Além disso, semelhante às divergências que ocorrem na zona do euro, republicanos e democratas têm sido incapazes de chegar a acordo sobre um plano para evitar o resultado desanimador.
Segundo projeção do FMI, a economia americana deve crescer 2% neste ano - índice mais baixo que o esperado em outras economias desenvolvidas, como o Japão (2,4%) e o Canadá (2,1%).
Para estimular o crescimento, os EUA têm tomado medidas pouco ortodoxas como a operação Twist, um programa de compra de títulos que visa derrubar o valor das hipotecas e das taxas de empréstimo.
Brasil
- O FMI prevê crescimento do PIB de 2,5% em 2012
- A inadimplência de empréstimos aumentou para 6% em maio
Fabricante de aviões Embraer é símbolo do crescimento econômico brasileiro
Gastos governamentais e exportação de commodities, como soja e minérios, para países da Ásia impulsionaram o Brasil para a posição de 6º economia do mundo.
Mas o alto ritmo de crescimento, que chegou a atingir 7,5% em 2010, parece ter perdido a força.
A economia estagnou em maio, após uma queda inesperada de vendas no varejo - tornando o desempenho do Brasil o pior entre os Brics.
O FMI prevê para o país um crescimento de 2,5% neste ano - índice inferior à média mundial de 3,5%. O Banco do Brasil espera um resultado abaixo de 2,5%.
A queda nas vendas do varejo deu origem a temores sobre o modelo de crescimento puxado pelo consumo interno, que vem sendo incentivado por rendas maiores e crédito fácil.
A quantidade de empréstimos não pagos atingiu um pico em maio, mostrando como os brasileiros estão lutando cada vez mais para manter suas dívidas sob controle.
Isso levou o Bando Central a reduzir a taxa de juros para 8% (a oitava queda consecutiva).
Índia
- A inflação atingiu o patamar mais alto entre os Brics
- A produção industrial cresceu 2,4% em maio
Lidar com a inflação crônica é um dos maiores desafios da economia indiana atualmente
A economia da Índia cresceu a uma taxa anual de 5,3% entre janeiro e março, seu ritmo mais lento em nove anos.
A inflação tem sido uma das maiores preocupações dos formuladores de políticas da Índia nos últimos dois anos.
O Banco Central indiano tomou várias medidas na tentativa de controlar o aumento dos preços, incluindo treze aumentos da taxa de juros desde março de 2010.
De acordo com dados divulgados na semana passada, o índice de preços no atacado da Índia (a principal medida de preços ao consumidor no país) subiu 7,55% em maio em relação ao ano anterior - o índice mais elevado entre os Brics.
Analistas afirmam que a combinação de desaceleração do crescimento e alta inflação tornou difícil para o Banco Central do país formular suas políticas. Cortes nas taxas de juros poderiam estimular o crescimento, mas devem tornar a inflação pior.
O PIB do país crescerá 6,1% em 2012, segundo o FMI. O governo se comprometeu a atrair mais investimento estrangeiro e acelerar projetos de infra-estrutura e energia.
Japão
- O país está se recuperando das grandes catástrofes do ano passado
- Os exportadores estão preocupados com os problemas da zona do euro e com a desaceleração da economia americana
- O crescimento do país neste ano deve chegar a 2,4%, segundo FMI
Aumento massivo das importações é desafio para a segunda economia do mundo
O Japão, que chegou a ser a segunda economia do mundo, está se recuperando do terremoto seguido de tsunami e da crise nuclear do ano passado.
Dados recentes mostraram que o Japão, um dos principais exportadores do mundo, não estava exportando tanto quanto costumava.
Na verdade, estava importando massivamente - incluindo um gasto adicional com energia devido à paralisação das centrais nucleares.
A moeda forte também prejudicou os exportadores, pois tornou seus produtos mais caros para compradores estrangeiros.
Porém, o ânimo do país está melhorando. A pesquisa Takan mostrou que a indústria manufatureira está menos pessimista em relação aos negócios.
O FMI prevê um crescimento de 2,4% para o país em 2012 e 1,5% em 2013.
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