sábado, 19 de maio de 2012

A terceira crise do capitalismo


        A atual crise econômica  do capitalismo manifestou seus primeiros sinais nos EUA em 2007 e já faz  despontar no Brasil sinais de incertezas.
           O sistema é um gato  de sete fôlegos. No século passado, enfrentou duas grandes crises. A  primeira, no início do século XX, nos primórdios do imperialismo, ao passar  do laissez-faire (liberalismo econômico) à concentração do capital  por parte dos monopólios. A guerra econômica por conquista de mercados  ensejou a bélica: a Primeira Guerra Mundial. Resultou numa “saída” à  esquerda: a Revolução Russa de 1917.
           Em 1929, nova crise,  a Grande Depressão. Da noite para o dia milhares de pessoas perderam seus  empregos, a Bolsa de Nova York quebrou, a recessão se estendeu por longo  período, com reflexos em todo o mundo. Desta vez a “saída” veio pela  direita: o nazismo. E, em consequência, a Segunda Guerra Mundial.
           E agora,  José?
           Essa terceira  crise difere das anteriores. E surpreende em alguns aspectos: os países que  antes compunham a periferia do sistema (Brasil, China, Índia, Indonésia),  por enquanto estão melhor que os metropolitanos. Neste ano, o crescimento  dos países latino-americanos deve superar o dos EUA e da Europa. Deste lado  do mundo são melhores as condições para o crescimento da economia: salários  em elevação, desemprego em queda, crédito farto e redução das taxas de  juros. 
           Nos países  ricos se acentuam o déficit fiscal, o desemprego (24,3 milhões de  desempregados na União Europeia), o endividamento dos Estados. E, na Europa,  parece que a história – para quem já viu este filme na América Latina – está  sendo rebobinada: o FMI passa a administrar as finanças dos países, intervém  na Grécia e na Itália e, em breve, em Portugal, e a Alemanha consegue, como  credora, o que Hitler tentou pelas armas – impor aos países da zona do euro  as regras do  jogo.
           Até agora não  há saída para esta terceira crise. Todas as medidas tomadas pelos EUA são  paliativas e a Europa não vê luz no fim do túnel. E tudo pode se agravar com  a já anunciada desaceleração do crescimento de China e consequente redução  de suas importações. Para a economia brasileira será  drástico.
           O comércio  mundial já despencou 20%. Há progressiva desindustrialização da economia,  que já afeta o Brasil. O que sustenta, por enquanto, o lucro das empresas é  que elas operam, hoje, tanto na produção quanto na especulação. E, via  bancos, promovem a financeirização do consumo. Haja crédito! Até que a bolha  estoure e a inadimplência se propague como  peste.
           A “saída”  dessa terceira crise será pela esquerda ou pela direita? Temo que a  humanidade esteja sob dois graves riscos. O primeiro, já é óbvio: as  mudanças climáticas. Produzidas inclusive pela perda do valor de uso dos  alimentos, agora sujeitos ao valor de compra estabelecido pelo mercado  financeiro.
           Há uma  crescente reprimarização das economias dos chamados emergentes. Países, como  o Brasil, regridem no tempo e voltam a depender das exportações de  commodities (produtos agrícolas, petróleo e minério de ferro, cujos preços  são determinados pelas transnacionais e pelo mercado financeiro).
           Neste esquema  global, diante do poder das gigantescas corporações transnacionais, que  controlam das sementes transgênicas aos venenos agrícolas, o latifúndio  brasileiro passa a ser o elo mais  fraco.
           O segundo  risco é a guerra nuclear. As duas crises anteriores tiveram nas grandes  guerras suas válvulas de escape. Diante do desemprego massivo, nada como a  indústria bélica para empregar trabalhadores desocupados. Hoje, milhares de  artefatos nucleares estão estocados mundo afora. E há inclusive minibombas  nucleares, com precisão para destruições localizadas, como em Hiroshima e  Nagasaki.
           É hora de  rejeitar a antecipação do apocalipse e reagir. Buscar uma saída ao sistema  capitalista, intrinsecamente perverso, a ponto de destinar trilhões para  salvar o mercado financeiro e dar as costas aos bilhões de serem humanos que  padecem entre a pobreza e a miséria.
           Resta, pois,  organizar a esperança e criar, a partir de ampla mobilização, alternativas  viáveis que conduzam a humanidade, como se reza na celebração eucarística,  “a repartir os bens da Terra e os frutos do trabalho  humano”.

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