Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro
Em Finados recordamos nossos mortos, todos os que partiram desta vida. O desaparecimento de um parente, de um amigo, atinge em profundidade o ser humano.
Esta comemoração religiosa lembrando dos fiéis defuntos é salutar e milenar na tradição cristã. A Igreja traz à memória e de forma eficaz, esses momentos de dor. Ensina-nos o Concílio Ecumênico Vaticano II: “Diante da morte, o enigma da condição humana atinge o seu ponto alto. O homem não se aflige somente com a dor e a progressiva dissolução do corpo, mas também, e muito mais, com o temor da destruição completa” (“Gaudium et Spes”, nº 18). A afirmativa nos leva a uma reflexão com consequências positivas em nossa maneira de ser e agir.
O Santo Padre Bento XVI nos exorta a pensarmos profundamente sobre esse tema quando diz: “Gostaria de convidar a viver esta data segundo o autêntico espírito cristão, isto é, na luz que provém do Mistério pascal. Cristo morreu e ressuscitou e abriu-nos a passagem para a casa do Pai, o Reino da vida e da paz. Quem segue Jesus nesta vida é recebido onde Ele nos precedeu. Portanto, enquanto visitamos os cemitérios, recordemo-nos que ali, nos túmulos, repousam só os despojos dos nossos entes queridos na expectativa da ressurreição final. As suas almas – como diz a Escritura – já ‘estão nas mãos de Deus’(Sb 3, 1). Portanto, o modo mais justo e eficaz de os honrar é rezar por eles, oferecendo atos de fé, de esperança e de caridade (...) em união ao Sacrifício Eucarístico” (“Angelus”, 01 de novembro de 2009).
Há uma dimensão pessoal e comunitária da morte, que tem no pecado uma raiz comum. Somente no mistério da Cruz e da Ressurreição no Senhor encontraremos o adequado e eficaz remédio. Todavia, a verdadeira esperança, fundamento e elemento integrante da vida cristã, surge, contra todas as expectativas, da palavra de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25). A certeza de que a atual existência perdura na eternidade é um elemento insubstituível para o momento atual. E nos conduz à compreensão do contexto em que nos inserimos, dá explicação às dúvidas que surgem em nosso íntimo. Sem elas surge o desespero e a revolta.
O Salvador ilumina o mistério da dor, quer pessoal, quer social: “Sabemos hoje que o Cristo morto ressuscitou e que sua ressurreição foi uma vitória sobre o pecado, sobre a morte e sobre o demônio. Assim sendo, a morte não é mais temível, visto ser a entrada para a vida” (Santo Ambrósio, “Sobre a Encarnação”, 27).
A Igreja, por sua missão específica, está não apenas presente ao mundo, mas participa dos dramas que envolvem, angustiam e por vezes aniquilam os indivíduos e a coletividade, como as guerras, as enchentes e os terremotos desta semana. Ela, na verdade, é Mãe e Mestra.
O sacrifício do Redentor foi o triunfo sobre a própria morte. “Ele (Cristo) não só destruiu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade pelo evangelho” (2Cor 1,10). Assim, a Fé abre novas perspectivas, pois a aparente derrota que cada um sofre ao perder a existência terrena se transforma em vitória na medida em que a Salvação nos foi restituída por Cristo (Rom 5,17; 1Cor 15,20-22). Como o parto é a via dolorosa para o ingresso neste mundo, o Redentor nos leva pela porta estreita do sofrimento de uma separação momentânea, a participar da comunhão eterna “da incorruptível vida divina” (“Gaudium et Spes”).
Visitando os túmulos dos entes queridos ou ajudando-os com nossas preces, temos a certeza de que o Senhor os há de ressuscitar: “Se nos tornamos o mesmo ser com Ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição” (Rom 6,5). Restaura-se assim a unidade da carne e do espírito, pois ambos, conforme o plano inicial do Criador, são destinados à eterna bem-aventurança. Deus fará das cinzas “sementes da ressurreição, ressurgindo pelo Seu poder o homem inteiro” (São Gregório de Nissa).
Sabemos que a comunidade doméstica é desfeita, não só por casos de divórcio, assassinato no aborto, separação dos pais ou o abandono dos filhos, o esquecimento lançado sobre os anciãos, mas primordialmente como consequência do pecado, separação de Deus. Por isso, os ser humano, criado só para viver, deve um dia morrer. Então a dor dessa violência pela convicção do encontro futuro de todos os entes queridos cessa no seio do Pai.
Estas verdades, repetidas e vividas, contêm os fundamentos de uma conversão e geram uma grande paz e tranquilidade. Abrem uma nova dimensão na existência humana.
A Igreja se esforça por transmitir essa mensagem evangélica. Aproveita de oportunidade onde possa ser melhor acolhida e sua compreensão facilitada. Assim, os cemitérios, especialmente no Dia de Finados, as missas de exéquias, os velórios e mesmo a devoção das velas, purificadas de elementos estranhos a seu verdadeiro simbolismo, são ocasiões para a semeadura da Palavra de Deus.
Sacerdotes, religiosas e leigos devidamente preparados veiculam o ensino salvífico, proporcionam consolo na dor e suavizam a tristeza. Confortam com a esperança cristã. Sem ela, os eventos cruciantes da nossa vida tornam-se insuportáveis. Somente uma perspectiva eterna dá sentido ao caminhar terreno. Interessa a todos os mortais aprender a viver essa lição, a verdadeira ensinada por Jesus Cristo. Rezemos pelos nossos mortos e peçamos que “descansem em paz”.
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro
Em Finados recordamos nossos mortos, todos os que partiram desta vida. O desaparecimento de um parente, de um amigo, atinge em profundidade o ser humano.
Esta comemoração religiosa lembrando dos fiéis defuntos é salutar e milenar na tradição cristã. A Igreja traz à memória e de forma eficaz, esses momentos de dor. Ensina-nos o Concílio Ecumênico Vaticano II: “Diante da morte, o enigma da condição humana atinge o seu ponto alto. O homem não se aflige somente com a dor e a progressiva dissolução do corpo, mas também, e muito mais, com o temor da destruição completa” (“Gaudium et Spes”, nº 18). A afirmativa nos leva a uma reflexão com consequências positivas em nossa maneira de ser e agir.
O Santo Padre Bento XVI nos exorta a pensarmos profundamente sobre esse tema quando diz: “Gostaria de convidar a viver esta data segundo o autêntico espírito cristão, isto é, na luz que provém do Mistério pascal. Cristo morreu e ressuscitou e abriu-nos a passagem para a casa do Pai, o Reino da vida e da paz. Quem segue Jesus nesta vida é recebido onde Ele nos precedeu. Portanto, enquanto visitamos os cemitérios, recordemo-nos que ali, nos túmulos, repousam só os despojos dos nossos entes queridos na expectativa da ressurreição final. As suas almas – como diz a Escritura – já ‘estão nas mãos de Deus’(Sb 3, 1). Portanto, o modo mais justo e eficaz de os honrar é rezar por eles, oferecendo atos de fé, de esperança e de caridade (...) em união ao Sacrifício Eucarístico” (“Angelus”, 01 de novembro de 2009).
Há uma dimensão pessoal e comunitária da morte, que tem no pecado uma raiz comum. Somente no mistério da Cruz e da Ressurreição no Senhor encontraremos o adequado e eficaz remédio. Todavia, a verdadeira esperança, fundamento e elemento integrante da vida cristã, surge, contra todas as expectativas, da palavra de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25). A certeza de que a atual existência perdura na eternidade é um elemento insubstituível para o momento atual. E nos conduz à compreensão do contexto em que nos inserimos, dá explicação às dúvidas que surgem em nosso íntimo. Sem elas surge o desespero e a revolta.
O Salvador ilumina o mistério da dor, quer pessoal, quer social: “Sabemos hoje que o Cristo morto ressuscitou e que sua ressurreição foi uma vitória sobre o pecado, sobre a morte e sobre o demônio. Assim sendo, a morte não é mais temível, visto ser a entrada para a vida” (Santo Ambrósio, “Sobre a Encarnação”, 27).
A Igreja, por sua missão específica, está não apenas presente ao mundo, mas participa dos dramas que envolvem, angustiam e por vezes aniquilam os indivíduos e a coletividade, como as guerras, as enchentes e os terremotos desta semana. Ela, na verdade, é Mãe e Mestra.
O sacrifício do Redentor foi o triunfo sobre a própria morte. “Ele (Cristo) não só destruiu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade pelo evangelho” (2Cor 1,10). Assim, a Fé abre novas perspectivas, pois a aparente derrota que cada um sofre ao perder a existência terrena se transforma em vitória na medida em que a Salvação nos foi restituída por Cristo (Rom 5,17; 1Cor 15,20-22). Como o parto é a via dolorosa para o ingresso neste mundo, o Redentor nos leva pela porta estreita do sofrimento de uma separação momentânea, a participar da comunhão eterna “da incorruptível vida divina” (“Gaudium et Spes”).
Visitando os túmulos dos entes queridos ou ajudando-os com nossas preces, temos a certeza de que o Senhor os há de ressuscitar: “Se nos tornamos o mesmo ser com Ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição” (Rom 6,5). Restaura-se assim a unidade da carne e do espírito, pois ambos, conforme o plano inicial do Criador, são destinados à eterna bem-aventurança. Deus fará das cinzas “sementes da ressurreição, ressurgindo pelo Seu poder o homem inteiro” (São Gregório de Nissa).
Sabemos que a comunidade doméstica é desfeita, não só por casos de divórcio, assassinato no aborto, separação dos pais ou o abandono dos filhos, o esquecimento lançado sobre os anciãos, mas primordialmente como consequência do pecado, separação de Deus. Por isso, os ser humano, criado só para viver, deve um dia morrer. Então a dor dessa violência pela convicção do encontro futuro de todos os entes queridos cessa no seio do Pai.
Estas verdades, repetidas e vividas, contêm os fundamentos de uma conversão e geram uma grande paz e tranquilidade. Abrem uma nova dimensão na existência humana.
A Igreja se esforça por transmitir essa mensagem evangélica. Aproveita de oportunidade onde possa ser melhor acolhida e sua compreensão facilitada. Assim, os cemitérios, especialmente no Dia de Finados, as missas de exéquias, os velórios e mesmo a devoção das velas, purificadas de elementos estranhos a seu verdadeiro simbolismo, são ocasiões para a semeadura da Palavra de Deus.
Sacerdotes, religiosas e leigos devidamente preparados veiculam o ensino salvífico, proporcionam consolo na dor e suavizam a tristeza. Confortam com a esperança cristã. Sem ela, os eventos cruciantes da nossa vida tornam-se insuportáveis. Somente uma perspectiva eterna dá sentido ao caminhar terreno. Interessa a todos os mortais aprender a viver essa lição, a verdadeira ensinada por Jesus Cristo. Rezemos pelos nossos mortos e peçamos que “descansem em paz”.
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