domingo, 31 de outubro de 2010

A responsabilidade moral dos católicos diante da injustiça


A responsabilidade moral dos católicos diante da injustiça
Taiguara Sousa


Ressoa a voz do Princípe dos Apóstolos. Caminha pelos ares, retumbante, o verbo do Pastor Angélico. É o Sucessor de Pedro, Pai e Mestre de todos os cristãos, a dizer-nos agora: os católicos, mormente os pastores, têm a responsabilidade moral de denunciarem e contrariarem toda injustiça, todo atentado à dignidade do homem e aos direitos de Deus e da Igreja.

No discurso aos Bispos do Regional Nordeste 2, proferido na manhã da última quinta-feira, Sua Santidade deu um recado claro aos Bispos e aos fiéis brasileiros diante do momento tenebroso que se aproxima: não podemos nos omitir; mais que isso, não podemos ser cúmplices da cultura de morte e do ódio a Nosso Senhor Jesus Cristo, que se quer implantar nesta Terra de Santa Cruz.

Em seu discurso, é desejo do Papa

falar de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.

Para ódio dos laicistas e intolerantes - aqueles que pedem tolerância para todos e, quando se trata dos cristãos, impõem mordaças; aquela paradoxal intolerância dos tolerantes - diz o Papa que a Igreja deve fecundar e fermentar a sociedade. Essa é a missão que o próprio Cristo nos confiou, ao dizer que o Seu Reino cresce como a massa fermentada: é o compromisso com o Reinado Social de Nosso Senhor que nos impele a falar e a denunciar as injustiças contra os mais indefesos e fracos, contra os filhos de Cristo e da Igreja. Bento XVI relembra o que já dissera ao ateu Paolo Flores D'Arcais: os cristãos falam porque sabem que sua mensagem tem uma importância para o mundo; e isso não lhes pode ser tirado.

Política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. «Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambigüidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana» (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17-IX-2010). Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56), ensina o Papa, numa defesa contundente do Reinado Social de Cristo.

Para fecundar e fermentar a sociedade, a Igreja ensina ao homem sua dignidade de filho de Deus. Por ser filho de Deus, não podemos tolerar que a dignidade do homem venha a tripudiada e com isso ficarmos calados. Podem apreender panfletos, mas não calar nossas bocas!

Sua Santidade vem dizer-nos que os leigos têem uma missão na linha de frente nesta luta pelos valores cristãos e pela ordem natural:

O dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29).

Aos Bispos afirma: é dever dos Pastores ensinar suas ovelhas, inclusive orientando-as em questões polítcas, quando se fizer necessário ao bem comum e à defesa dos direitos do homem, de Deus e da Igreja:

O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. GS, 76).


Que dirão agora Bispos como D. Demétrio Valentini, que rasgaram as vestes diante da corajosa atitude de D. Luiz Gonzaga Bergonzini, de D. Beni, ao denunciarem o abortismo do PT? Que dirão estes Bispos, que sempre usaram a religião para promoção do comunismo, e que agora criticam estes Pastores por "uso eleitoral da religião", quando não fizeram nada mais que relembrar o óbvio: católico não vota em abortista?

Está dado o recado do Papa: D. Luiz está certo e D. Demétrio errado! Da próxima vez façam como D. Luiz!

Bento XVI vem dizer que é dever da Igreja, é missão sua, orientar seus fiéis, inclusive em questões políticas, quando assim o exija a defesa dos direitos de Deus e do homem.

Sobre o direito fundamental à vida, contra o aborto e demais mazelas da cultura de morte, Sua Santidade vem relembrar-nos que não é possível defender o crescimento econômico, a erradicação da pobreza, ou qualquer outra coisa se não se defende, antes de tudo e em primeiro lugar, o direito inalienável de todo ser humano à vida. Ora, se não for garantido o direito mais fundamental, o direito à própria vida, o que mais se garantirá? Sem vida não há nada. Assim, não é possível justificar os fins pelos meios: nenhum bem pode vir se não há compromisso primeiro com a vida humana. Nenhuma política se justifica quando já traiu o próprio compromisso com a vida humana.

Seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático - que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana - é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitae, 74).


Bento XVI como que sacode os Bispos omissos, aqueles que se calam ou, ao invés, ostentam discursos flexíveis ou neutros demais, com medo da perseguição e da impopularidade. Ora, o Cristianismo é uma opção radical por Cristo e não pelo mundo, não pela fama, não pelos respeitos humanos: assim ensinou Nosso Senhor. Na defesa de Deus e do homem, não devemos temer as perseguições e a impopularidade: se Cristo foi impopular junto aos seus a ponto de o matarem, que farão a nós? Queremos elogios?

Contra a omissão e a vergonhosa neutralidade diante da injustiça, Bento XVI profere palavra de apoio aos Bispos como D. Luiz Gonzaga Bergonzini e D. Beni: não devemos temer o mundo se estamos com Cristo.

Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem, 82), diz o Papa.

Bento XVI conclamou ainda à educação dos leigos na Doutrina Social da Igreja - não Teologia da Libertação! - e defendeu a educação religiosa nas escolas públicas. Poder-se-ia até dizer que o Papa fez uma defesa da Concordata do Brasil com a Santa Sé, que, como sabemos e foi amplamente noticiado, foi ameaçada pelo Presidente se os Bispos não parassem de se opor à candidatura oficialista.

Sua Santidade fez a defesa dos símbolos religiosos na vida pública: já dissera que Deus não pode ser excluído e relegado à vida privada; agora vem dizer-nos que os símbolos de Deus também não o podem. Deus não pode ser tirado do Preâmbulo da Constituição, o Cristo Redentor não pode ser demolido. A presença de Deus na vida pública é lembrança de nossa responsabilidade moral uns para com os outros diante de qualquer injustiça: tudo que fazemos está diante dos olhos do Supremo Juiz. Outrossim, como relembra o Papa, no caso do Brasil a religião católica é parte integrante da cultura e da história; nossas raízes cristãs, que nos fundaram e fundamentam-nos, não podem simplesmente ser apagadas como se nunca tivesse existido. O Estado é laico, mas não é ateu e o povo é religioso, em sua maior parte, católicos.

Quase se diria que o Papa fez um Syllabus contra o PNDH-3!

Sobre a responsabilidade moral do católico no momento que se aproxima, Bento XVI exorta: o católico não pode usar de seu voto para colaborar com projetos políticos contrários à dignidade do homem; já denunciou o Papa que todo projeto político que não tenha compromisso com a vida é traiçoeiro desde o princípio. O católico, pois, em sua ação política - não somente com seu voto, que é apenas parte dessa ação -, deve trabalhar por um projeto político comprometido com os valores cristãos, com a dignidade do homem e com os direitos de Deus e da Igreja, em prol do bem comum; lembra também o dever dos Bispos de alertar os fiéis quanto a isso (e agora, Dom Demétrio Valentini?):

Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).

Por fim, o Pastor Angélico confiou o Brasil à Mãe de Deus e Nossa, a Virgem Aparecida, Rainha desta Terra de Santa Cruz. Quiçá já tenha chegado ao Papa a notícia da Campanha Salvem o Brasil, para que goze das bênçãos do Supremo Pastor!

O discurso de Bento XVI é um alento encorajador a todos quanto lutam contra a iniqüidade e pela restauração da Civilização Cristã nesta Terra de Santa Cruz. Que, encorajados pelo Pontífice, possamos seguir em frente! E o Papa ainda deu uma bênção apostólica "todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência". Se lutamos pela vida, nos incluímos entre os destinatários. Deus seja louvado!

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