Colocadas estas duas premissas - vocação e missão -, podemos nos voltar para a identidade e elencar os valores do nosso modus vivendi e operandi. Podemos perguntar-nos: De onde nasceu a inspiração franciscana para nosso viver e agir? As Fontes testemunham que o móvel de ser e de agir de Francisco lhe veio, em verdade, de dois exemplos: o de Cristo: crucificado, fora dos muros de Jerusalém, e o dos leprosos execrados, fora das muralhas de Assis.
O primeiro se fez, para Francisco, ordem irrecusável, quando o mandou reconstruir Sua Igreja. E os leprosos, os homens das dores da Idade Média, cobraram-lhe a gratuidade de um beijo, que lhe foi, inicialmente, penoso, mas que, finalmente, lhe encheu a alma de gozo e doçura. Estes dois encontros abriram-lhe a alma para os grandes valores de nossa espiritualidade: a providência de Deus e o amor pela signora e donna povertá: o relacionamento casto com Clara e com todas as mulheres; a convivência benévola com os irmãos e estranhos, ladrões e sultões, prelados da Santa Igreja e pobres de todas as pobrezas; a cordialidade para com todas as criaturas, lobos e cotovias, riachos congelados e pessegueiros em flor.
Exortava os irmãos a que pregassem a Paz e ensinava-lhes que a única tristeza possível seria a do pecado. Rezava e queria que rezassem. Ele mesmo foi feito uma sarça ardente de oração, porque não só se ajoelhava diante de Deus, como reverenciava até mesmo os indignos ministros do sacratíssimo Corpo do Senhor. Mesmo sem castelos, foi cavaleiro e tinha um espirito repassado de cortesia. Cultivou dois locais emblemáticos para a espiritualidade franciscana: viveu no estábulo de Rivotorto e na capelinha da Porciúncula. No primeiro tinha a companhia de animais; no segundo, a dos anjos que esvoaçavam em tomo à Santíssima Virgem.
A cada ano, fazia questão de levar dois peixinhos do riacho que corria junto à igrejinha para o Abade de Monte Subásio, deixando claro que a Porciúncula continuava sendo dele, mesmo sendo o berço da Ordem e o lugar afetivo em que cortara as tranças da Irmã Clara. Tinha entranhada devoção filial à Santa Mãe de Deus e ardente paixão pela humanidade de Jesus. À moda de conclusão, não ignorando as muitas falhas desta sumária lista de valores, diríamos que a identidade franciscana tem as seguintes caraterísticas que lhe dão um rosto inconfundível: ela é casta e livre, é de serviço e de companhia, é misericordiosa e universal, é alegre e de paz. É vertical e horizontal, como uma cruz que é de vida e morte.
Francisco não teve vaidades, jamais foi arrogante, embora a graça de Deus o trabalhasse generosa e visivelmente. Não alimentou sentimentos de inferioridade diante de reis e príncipes, nem foi mesquinho e insensível frente aos necessitados, mas só sentia inveja de irmãos que pudessem ser mais pobres do que ele. "Ao chegar aos pobres, não se contentava em dar-lhes o que possuía. Desejava dar-se a si mesmo e, quando já não tinha mais dinheiro, entregava suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as às vezes para as distribuir" (LM 1,6). Foi firme com os gananciosos e desarmado diante dos poderosos. Paciente nas tribulações e doenças, não apreciava títulos e honrarias e queria que todos fossem simplesmente irmãos. A si mesmo se considerava menor, pecador e indigna criatura do Deus Altíssimo.
Por isso, "seu modo de vida o transformou radicalmente: nas idéias e sentimentos, nas vestes e no comportamento" (LM 2,1). Como arauto do Grande Rei, morreu deixando para a história a imagem de um crucificado e colocando nas mãos de seus seguidores a bandeira da Paz e do Bem.
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