sábado, 20 de fevereiro de 2010

Espiritualidade Carmelita - parte 1

A CONQUISTA DO MONTE









O Carmelo, que significa jardim, é uma cadeia de colinas que termina por um promontório perto de Haifa em Israel, lugar de culto desde a antiguidade, citado pelo profeta Isaías (o esplendor do Carmelo) entre os dons de Deus a seu povo.






Cinco Séculos depois de Moisés, Elias, homem de Deus, morou aí em solidão, vestido com uma larga cintura de pele e de uma peliça, como posteriormente João Baptista no tempo de Jesus.






A Bíblia conta-nos nos Livros dos Reis que no tempo de Elias, o povo escolhido, dividido em dois reinos separados, põe em risco perder a sua alma: a fidelidade ao único Deus verdadeiro. O culto fenício de Baal é introduzido como alternativa ao pacto de Moisés com Aquele que é. Elias e os seus discípulos defendem o monoteísmo. O profeta repreende duramente o rei que traiu a Aliança, e vive depois escondido perto da torrente de Kerit só em comunhão com Deus; finalmente desafia os profetas de Baal no monte Carmelo, diante do povo: «Até quando sereis vós coxos de ambos os pés? Se o Senhor é Deus, Segui-O. Se, pelo contrário, é Baal, segui-o!» O poder de Deus manifesta-se, e Elias pensa ter vencido definitivamente; mas teve de fugir ameaçado de morte pelos fiéis do Deus pagão. Ele esconde-se no deserto e aí deseja morrer: «Agora basta, Senhor! Toma a minha vida porque eu não sou melhor que meus pais».






É a prova da sua fé; não é fácil possuir a Deus e ser defendido por Ele; quando os meios humanos desaparecem fica somente a fidelidade nua. Mas um anjo convida-o a comer e a beber: «o caminho é muito longo para ti». Elias, depois de 40 dias e 40 noites, chega ao monte de Deus, o Horeb, onde Javé se tinha manifestado a Moisés: «Eu sou o Senhor teu Deus». Agora Deus pergunta ao seu profeta: «Que fazes tu aqui, Elias?» «Estou cheio de zelo - respondeu ele - pelo Senhor dos exércitos, porque os Israelitas abandonaram a tua Aliança, derrubaram os teus altares e mataram à espada os profetas. Fiquei só e eles atentam contra a minha vida » Mas Deus ordenou-lhe: «Sai e pára no monte na presença do Senhor.» Onde estará Deus? «Houve um grande furacão tão forte que fendia as montanhas e quebrava as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no furacão. Depois do furacão, um tremor de terra, mas o Senhor não estava no tremor de terra. Depois do tremor de terra um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo houve o murmúrio duma brisa suave». Inesperadamente Deus está nesta brisa suave, repetindo-lhe a pergunta: «Que fazes tu aqui, Elias?» E ele, intransigente, duro como a rocha: «Estou cheio de zelo pelo Senhor dos exércitos».






Mas Elias aprendeu a suportar a derrota aparente da religião do seu Deus esperando sem impaciência o triunfo, que ele não verá durante a sua vida sobre a terra; a subir à montanha sem tomar posse dela, como Moisés viu mas não habitou a terra prometida. Os pensamentos de Deus estão para além dos seus pensamentos; permanecem incompreensíveis, eles inflamam o seu amor ardente.






É por isso que Jesus, no Tabor, aparece na sua glória em colóquio com Moisés e Eias, os Santos da expectativa; a passagem para a glória definitiva da Ressurreição deve reencontrar a Cruz, a experiência da fé pura já vivida por Elias e revivida por João Baptista; o zelo deve tornar-se no filho do homem, a fidelidade sem apoio, no triunfo aparente do mal. É o único caminho que conduz à conquista do monte, do Carmelo, do Horeb, do Calvário; o caminho de Elias, de Jesus e o nosso, onde corremos o risco de não ouvir Deus que passa suave sobre a montanha da alma e aí eleva a sua cruz de amor.

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