Àquela altura, já estava apaixonada por quem acreditava ser um garoto. A decepção veio mais de um ano depois, quando ela descobriu que "Bruno" era, na verdade, uma paulista de 17 anos.
- Fiquei mais de um ano apaixonada pelo Bruno. Ele me entendia, tinha as mesmas brincadeiras que eu, gostava das mesmas músicas, coisas em comum que você encontra num amigo ou num namorado. Com o tempo, ficamos tão próximos que, só pelo modo de escrever, já sabíamos como o outro estava: rindo, chorando, com raiva... - explica Daniella. - No fake, brincávamos de ir ao cinema, sair para comer. Sonhava com o dia em que eu poderia conhecê-lo.
A garota que se apresentava como Bruno até tentou contar a verdade antes, mas Daniella parecia não querer acreditar. Para satisfazer as vontades da carioca, a paulista mandou uma foto de um amigo e agitou uma conversa telefônica entre ele e Daniella. Depois, inventou que Bruno tinha uma irmã com seu nome verdadeiro.
- Fiz o fake para passar o tempo quando não tinha o que fazer. Escolhi um perfil masculino por indução de uma amiga, para ver como era o outro lado. Mas a Dani se apegou tanto que, mesmo que eu odiasse mentir, não conseguia fazê-la largar do meu pé, nem inventando mil motivos de brigas. Começou pela curiosidade e, depois, foi difícil falar tchau. Tinha medo da reação dela por considerá-la uma grande amiga - justifica a menina, cuja mãe preferiu que seus nome e rosto não fossem revelados nesta reportagem.
- Minha mãe me pegava chorando na frente do computador e mandava desligá-lo, dizia que me fazia mal. Ela não sabia que eu gostava do Bruno e que sentia ciúmes até quando ele ficava com meninas no perfil fake do Dougie. Parei com essa vida de fake, tenho que estudar para o vestibular. Eu era muito boba, e essa história me fez amadurecer muito - reconhece Daniella.
Para Carla Leitão, doutora em psicologia clínica pela PUC-Rio, a adolescência é uma fase de experimentação de papéis na vida física, real, "off-line", e isso pode se estender à internet, desde que de maneira saudável e controlada.
- Na web, essa experimentação pode ser mais forte, mais integral, pois não há pistas físicas como limitações, o que permite a uma menina se passar por menino. Enganar o outro não é legal, mas isso tem muito mais a ver com as características da personalidade de cada um do que com a mídia em que isso ocorre. O risco é ser sugado por esse papel e não conseguir sair - explica Carla, que também é pesquisadora da interação humano-computador do departamento de informática.
A especialista alerta que o papel dos pais é tentar compreender o que está se passando e não vigiar ou punir:
- Aprendi isso com a minha filha, que tem dois perfis no Twitter, um com o nome dela e outro com um personagem de "Crepúsculo". Um grande passo é ter humildade: temos que nos sentar junto e aprender com eles. Se há algo de errado nas relações cotidianas, isso vai ser potencializado na internet.
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Pascom Porto Feliz