domingo, 24 de fevereiro de 2013

Um Papa fraco tão FORTE!

 

 

Vivemos num mundo que cultua heróis hollywoodianos dotados de poderes extraordinários e de imortalidade. Num mundo onde os holofotes estão sempre sobre os vencedores! Num mundo onde os fortes prevalecem, e isso nem sempre de forma ética. Num mundo onde demonstrar fraqueza é motivo de vergonha...

Num mundo onde os poderosos se devoram por sede de poder, como já dizia o velho Pe. Antônio Vieira: “Peixes sois de vos comer uns aos outros onde os grandes comem os pequenos”.

Até Fernando Pessoa, em um de seus poemas: Poema em Linha Reta, utilizando-se do heterônimo de Álvaro de Campos bem retratava, ainda que de forma irônica, o homem de nossos tempos que tanta dificuldade tem de chorar e de admitir fraqueza:

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo (...)

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida(...)

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?”

No entanto, neste mundo de “semi-deuses” como dizia Pessoa, os cristãos, de forma audaz e inédita acreditam num Deus que morre! Num Deus que morre de uma morte vergonhosa, num Deus que morre crucificado. Sabemos que era comum nos primeiros anos do cristianismo a representação do Deus dos cristãos como um asno crucificado nos banheiros romanos.

Os cristãos acreditam que só vai experimentar a luz, quem antes de forma honrada passar pela cruz. Heróis hollywoodianos não morrem e tampouco podem demonstrar fraqueza, enquanto os cristãos repetem o refrão bíblico “é na tua fraqueza que a minha força se manifesta” (IICor12,7)

Neste mundo dito “moderno” a senilidade é motivo de vergonha, de chacota. Só os sarados e os que estão “com tudo no lugar” podem pousar para os holofotes! A ausência de rugas no rosto não consegue esconder as rugas da alma deste homem moderno!

É neste contexto, de um Hugo Chávez, por exemplo, que com uma grave enfermidade não consegue passar o bastão para a frente, de presidentes que não conseguem largar a presidência, mesmo cientes de que já passaram, que Bento XVI nos ensina com sua renúncia que o poder só faz sentido na perspectiva do serviço!

É preciso ser muito homem e muito santo para chegar diante do mundo e admitir fraqueza e afirmar que alguém que possua mais vigor físico esteja em melhor condição de guiar a barca de Pedro. É preciso ser muito forte para admitir que se é fraco, ainda mais publicamente!

Bento XVI está fazendo como que a última de suas belíssimas pregações como Pontífice, mas desta vez, o Papa está pregando em silêncio. Ele está querendo dizer a todos nós: Se algum dia você subir ao mais alto grau, sirva! Presidentes, Reis, Padres, Bispos, não fiquem preocupados com que cargo vão lhes dar, mas somente lembrem-se que o poder é passageiro, e que como já nos disse o Mestre, “a quem muito foi dado muito será cobrado” (Lc12,48).

A espada de Dâmocles tem de ser utilizada com sabedoria. É preciso reconhecer que o poder tem de ser partilhado e que um dia, outro estará em seu lugar! E mais, nunca se ache insubstituível, porque ninguém o é, a não ser o Senhor Jesus!

Bento XVI nos diz, desta vez sem dizer: Não tenham medo de admitir fraqueza, cansaço. No palco da vida sejam fiéis a Deus e às vossas convicções, não traiam Deus nem vossa consciência! E não saibam que não nenhum problema em sentir-se fraco, afinal, só Deus é fortaleza!

Obrigado Forte Papa Bento XVI! Obrigado por seus belíssimos escritos grande santo e intelectual! Obrigado por mostrar ao mundo que o Papa é humano e que só Deus é Divino!

Sua bênção Bento XVI! Reze por nós!

Com carinho,

Pe. Wagner Lopes Ruivo (Arquidiocese de Sorocaba)

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