Bento XVI participa do quinto dia de retiro quaresmal no Vaticano
Da Redação, com Rádio Vaticano
No quinto dia dos Exercícios Espirituais do Papa e da Cúria Romana no Vaticano o presidente do Pontifício Conselho da Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, centrou suas reflexões sobre os temas: reconciliação e penitência, a ausência de Deus e o nada. O cardeal é o responsável pelos Exercícios Espirituais para a Quaresma deste ano, iniciados no último domingo, 23.
O Cardeal propôs uma meditação sobre o delito, o castigo e o perdão. “O pecado é um ato pessoal e nasce da liberdade humana”. Segundo ele, é uma rebelião, uma revolta, um desviar a meta, mas, sobretudo, um afastar-se de Deus.
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“O pecado é uma realidade, antes de tudo, e sobretudo, teológica; pode ter também aspectos psicológicos, mas é teológica. Por isto, não poderá nunca ser equiparado – o Sacramento da Reconciliação – a uma sessão psicanalítica, porque é absolutamente fundamental a consciência de Deus que o pecador tem”.
O Cardeal destacou ainda que é na conversão que se encontra o caminho correto, no mudar a rota e também no mudar a mentalidade – como pregava Jesus – deixando para trás as coisas às quais o homem se apega. Um percurso que, conforme explicou o purpurado, implica o cansaço. E no percurso cansativo para o perdão não falta a tensão, a espera, o “suspiro profundo”, disse o Cardeal Ravasi, para chegar a ser homens novos.
“Na sociedade nem sempre se dá a possibilidade de recomeçar: alguns são agora marcados, mesmo se é verdade que, na legislação, há tentativas de reconstruir e revitalizar na sociedade uma pessoa que errou. Porém, permanece sempre esta espécie de selo sobre a pessoa que foi – talvez com motivo – considerada pecadora. Isto, na Bíblia, não existe; no Profeta Isaías, sobretudo, há aquela imagem de que Deus lança atrás de teus pecados, de modo que não se olhe mais para eles, para que não haja mais”.
Dando continuidade às suas reflexões, o Cardeal falou sobre a ausência e o nada: o homem sem Deus. Um tema, como destacou o purpurado, que está presente de modo repetido nos Salmos 14 e 53. Entra-se assim no mundo do ateísmo prático. Ausência e nada: dois termos que, conforme explicou, não são sinônimos; simplesmente o primeiro é a nostalgia de Deus enquanto o nada é o verdadeiro mal da cultura de hoje.
“É a indiferença, é a superficialidade, é a banalidade. É por isto que eu continuo a pensar como se pode ter qualquer influência neste tipo de névoa, em uma espécie de mucilagem, é algo suave, mas que não tem nostalgia alguma, é o vazio, o nada, não o vazio com a espera. Aqui, nós, pastoralmente, encontramos com mais frequência, infelizmente, esta segunda forma de ateísmo”, disse.
Depois, sobre o silêncio de Deus, o purpurado recordou as tantas vezes que um crente sente este horizonte. “Pensemos também em nós mesmos, todas as vezes que experimentamos, talvez através da fragilidade, do desânimo, o silêncio de Deus, a ausência. (…) Eu gostaria que todos nós, que somos bispos, a maioria de nós, pensássemos um pouco no clero, em muitos sacerdotes que vivem esta experiência e talvez não têm aquela capacidade de elaboração que deveriam ter, que nós tínhamos que dar a eles. Acredito que sobretudo quantos de vós sois bispos de Igrejas, pastores de Igrejas, este testemunho vós podeis dar”.
Ele destacou ainda a figura do salmista, que depois de ter experimentado o silêncio de Deus, consegue exclamar – na conclusão do Salmo 22: “Tu me respondestes!”. Assim, ele enfatizou que a oração transforma-se um hino de agradecimento que é sinal de confiança depois das horas vazias, porque as súplicas não caem nunca no nada.
Na pregação da tarde do dia anterior, Cardeal Ravasi falou sobre dor e isolamento. “A sociedade contemporânea criou nas nossas cidades uma multidão de solidão”, disse o cardeal. Ele também falou sobre a visão cristã da dor, um visão que desperta escândalo: Deus em Cristo inclina-se para o homem – disse- e assume o sofrimento, o limite. Jesus atravessa toda a gama escura da dor: medo, solidão, isolamento, traição, sofrimento físico, silêncio, morte.
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