Vivemos no Ocidente um período de grave crise de identidade. Basta olhar para nossas cidades, outrora vilas, como a de São Vicente que iniciou este país, cujo primeiro nome foi Terra de Santa Cruz, para percebermos como o Cristianismo está entranhado à nossa história. No Centro de qualquer cidade brasileira, altaneira está a Cruz, pois a Cidade se desenvolveu em torno da Igreja. Assim, o primeiro monte avistado recebeu o nome de “Pascoal” porque fora avistado na Páscoa Cristã, um de nossos estados recebeu o nome de Santa Catarina, e o estado do Sudeste que é coração econômico deste país, homenageia o Apóstolo São Paulo, por isso o homônimo.
Por que faço ao estimado leitor esta reflexão? Porque hoje, esquecendo-se do passado, muitos de nossos representantes teimam em abolir a Cruz das repartições públicas, até pensam, em Sorocaba, em retirar o tótem que traz a mensagem “Sorocaba é do Senhor Jesus Cristo”, mas não hesitam em ceder ao imperialismo norte-americano com seus símbolos e folclores como um sinal de superação e de progresso. Hoje, uma abóbora com uma carranca pitoresca (símbolo do Halloween) é mais aceita do que a Cruz, símbolo pilar da Civilização Ocidental.
Por que valorizar um costume estrangeiro como se fosse mais nobre, se temos tantas riquezas culturais e nossa identidade própria, bem como nossos famosos “causos” contados a nós por nossos pais à luz de vela, quando a energia elétrica findava por alguns instantes, ou mesmo antes desta existir?
O Halloween chegou-nos dos Estados Unidos da América e, hoje, é celebrada em toda a Europa no 31 de Outubro. Esta comemoração veio dos antigos povos bárbaros Celtas, que habitavam a Grã-Bretanha há mais de 2000 anos. Estes povos realizavam as colheitas nesta época do ano e, segundo um antigo ritual, para eles os espíritos das pessoas mortas voltariam à Terra durante essa noite, e queriam, entre outras coisas, alimentar-se e assustar as pessoas. Então, os Celtas costumavam vestir-se com máscaras assustadoras para afastar esses espíritos. Este episódio era conhecido como o “Samhaim”. Com o passar do tempo, os cristãos chegaram à Grã-Bretanha, e os povos que aí viviam converteram-se ao Evangelho, transformando este ritual pagão numa festa religiosa.
Em lugar de se honrar espíritos e forças ocultas, este povo começou a honrar os santos, então, a Festa (pela influência dos irlandeses) ganhou o nome de “All Hallows Evening”, em bom inglês ipsis literis: “Todos os Santos da tarde”, ou seja das vésperas da Festa Cristã de Todos os Santos. Com o tempo, a festa popular voltou a enaltecer os chamados “espíritos decaídos” ou “condenados”.
Atualmente, o Halloween é celebrado no dia 31 de Outubro também no Brasil, justamente na véspera da Festa Católica de Todos os Santos. A Primeira é a “Festa dos Mortos”, onde pessoas se vestem de vampiros, bruxas ou zumbis, ou se formos mais francos, de “fracassados”. Vide o fato de que “zumbi” é uma espécie de morto-vivo cujos membros em putrefação caem do corpo, vampiros são seres (segundo a lenda) amaldiçoados pelo demônio…(muito sintomático o fato de nossos adolescentes se identificarem tanto com eles e seus romances contemporâneos) e por aí vai o disparate “cultural”.
Já a festa paralela “De todos os Santos” é a Festa de homens e mulheres que de tão bons que foram em tudo o que fizeram nao viram seu nomes desaparecerm nem mesmo com a morte. Até hoje são lembrados, estimados, valorizados porque não fracassaram diante dos desafios da vida, mas foram vencedores. Assim, caro leitor, o pai e a mãe podem escolher se realmente desejam que seu filho se vista de um “morto-vivo”, um “amaldiçoado”, ou um santo vitorioso que nos incentiva com a vida e a morte a irmos além.
Quem dera que vestíssimos nosso filhos de santos, ou de verdadeiros heróis, e não de decadentes. Se quem sabe, seguíssemos aquela antiga música brasileira que cantarolávamos: “meu filho vai ter nome de Santo”… utopia? Talvez!
Nossos irmãos, os colonizadores patrícios, tem um saudável costume nesta época. Em Portugal, no Dia de Todos os Santos as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos grupos para pedir o Pão por Deus de porta em porta. Em tempos, as crianças, quando pediam o Pão por Deus, recitavam versos e recebiam como oferenda pão, broas, bolos, romãs, frutos secos, nozes, amêndoas ou castanhas, que colocavam dentro dos seus sacos. É costume, em algumas regiões, os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Em algumas povoações chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’. Mas hoje, caro leitor, vivemos num tempo em que bons costumes não pegam!
Em suma, hoje infelizmente perdemos a cada dia nossa identidade, nossa história, nosso folclore e preferimos o Halloween: Festa da morte, e não o “Todos os Santos”: Festa da Vida.
Padre Wagner Lopes Ruivo
Pároco da Paróquia São José Operário
Bacharel em Filosofia e Teologia
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