quinta-feira, 19 de julho de 2012

OS MILAGRES E A AUTORIDADE DE JESUS

 

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Nos evangelhos relata-se que Jesus faz milagres. No Antigo Testamento já se narravam prodígios realizados por profetas como Elias e Eliseu, para não falar dos protagonizados por Moisés ou Josué. Também na leitura antiga, tanto judaica como helenística, encontram-se portentos de alguns personagens.
Os que buscam negar a veracidade dos milagres de Cristo – e, em geral, de todos os que aparecem na Escritura -, costumam apoiar-se nestes últimos para afirmar que os relatos de atos milagrosos implicam em um gênero literário de ficção, talvez dirigido a exaltar um personagem histórico.
Porém as semelhanças dão rapidamente lugar a profundas divergências, que constituem sinais da credibilidade e da autenticidade dos evangelhos. Em primeiro lugar, os milagres de Jesus surpreendem por sua verossimilhança. Os evangelhos falam, sim, de portentos; porém nada há de exagerado em como os descrevem.
Um cego recobra a vista; um coxo começa a andar... Observa-se, na simplicidade do relato, que se está muito longe de pretender exaltar uma figura; são relatos alheios a toda teatralidade, e nos quais se refletem a vida cotidiana dos protagonistas.
Também chama a atenção a autoridade que Jesus exerce quando os realiza. Os prodígios narrados na literatura rabínica se obtém depois de longas orações. Ele, diferentemente, os faz com seu próprio poder, com uma palavra ou um gesto, e o efeito se segue quase sempre de modo imediato.
Outra característica única é a discrição de Jesus: raramente toma a iniciativa, mostra-se reticente, manda que não se divulgue... Inclusive em ocasiões, diz o texto sagrado, que não pode fazer milagres[8], porque não encontrou nos interessados as disposições espirituais adequadas.
Por último, é importante notar como os milagres de Cristo possuem sempre um sentido que transcende o mero efeito físico. O Senhor não cede ao gosto dos homens pelo maravilhoso, ou à curiosidade: busca a conversão da alma, quer testemunhar sua missão. Jesus faz ver que não são simples prodígios; para realizá-los, exige a fé em sua Pessoa, na missão que o Pai lhe confiou. Partem da fé e levam à fé. De tudo isso se conclui que os evangelistas se propuseram para o alcance de todos os fatos históricos, para que pudessem ser transcendidos pela fé; testemunharam que “tudo na vida de Jesus é sinal de seu mistério. Através de seus gestos, seus milagres e suas palavras, revelou-se que “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”[9].
Daí a centralidade, na vida do cristão, do conselho de são Josemaria: Saboreai as cenas comoventes em que o Mestre atua com gestos divinos e humanos ou relata com modos de dizer humanos e divinos a história sublime do perdão, do Amor ininterrupto que tem pelos seus filhos. Esses traslados do Céu renovam-se agora também, na perenidade atual do Evangelho: apalpa-se, nota-se, pode-se afirmar que se toca com as mãos a proteção divina[10]
A autoridade de Jesus, sem dúvida, não se manifesta só em seu modo de fazer milagres. Aparece porém mais claramente em seu modo de dispor da lei e da tradição: as interpreta, aprofunda e corrige. Este é outro traço diferenciador, que não se encontra em nenhum outro testemunho da época. A originalidade desta atitude, patente nos ensinamentos recolhidos nos evangelhos, só se explica pelo caráter único do Mestre, por sua forte personalidade e doutrina.
Este poder sobre a Lei se percebe quando se examina como Ele a cumpre fielmente. De um lado, nesse cumprimento Cristo mostra umas exigências que vão até o mais profundo do coração, mais além de qualquer sinal de formalismo.
É certo que Jesus manteve a lei, porém a interpreta segundo um espírito inovado que, ao mesmo tempo que a cumpre, a supera; traz um vinho novo que recusa composições com os odres velhos. De outro modo, isto o faz como um legislador que fala em nome próprio, superando Moisés. O que Deus havia dito através de Moisés, o seu Filho Unigênito aperfeiçoa.
Jesus inaugura uma nova era, a do Reino Anunciado já há muito tempo pelos profetas: destrói o Reino de Satanás expulsando os demônios pelo dedo de Deus[11]. O messianismo de Jesus não pode ser uma invenção de seus discípulos concebida depois da Páscoa: a tradição evangélica contém tantas recordações sólidas e harmônicas de sua vida pública que não é possível repeli-las dizendo simplesmente que se trata de uma criação póstuma, fruto de uma suposta ideologia apologética. Os ensinamentos de Cristo são inseparáveis da autoridade com que as proclama.

[1] Cfr. Joseph Ratzinger – Bento XVI, Jesus de Nazaré, cap. 1 e 2.
[2] Caminho n. 584.
[3] 1 Cor 1, 23s.
[4] Cfr. Flávio Josefo, Antiquitates Judaiae, 18, 3, 3.
[5] Conc. Vaticano II, Const. dogm. Dei Verbum, n. 18.
[6] Cfr. Joseph Ratzinger – Bento XVI, Jesus de Nazaré (I), Introdução.
[7] 1 Cor 15, 14.
[8] Cfr. Mt 13, 18; Mc 6, 50.
[9] Catecismo da Igreja Católica, n. 515.
[10] Amigos de Deus, n. 216.
[11] Cfr. Lc 11, 20.
[12] Mc 14, 36.
[13] Mc 1,1.
[14] Mc 15, 39.
[15] Lc 23, 46.
[16] Jo 20, 31.
[17] Jo 8, 54.
[18] Jo 20, 17.
[19] Cfr. Jo 21, 25.
[20] Cfr. Joseph Ratzinger – Bento XVI, Jesus de Nazaré (I), cap. 4.
[21] É Cristo que passa, n. 107.
[22] É Cristo que passa, n. 107.

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