sexta-feira, 9 de março de 2012

Um texto interessante!


Dia da Mulher

Certa vez fiz um comentário num programa de rádio do qual participava citando o verso de uma canção de Pepeu Gomes que diz “ser um homem feminino não fere o meu lado masculino...”. O assunto surgiu por causa de outra música, cuja letra analisávamos, “Super Homem, a canção”, onde Gilberto Gil diz: “um dia, vivi a ilusão de que ser homem bastaria. Que o mundo masculino tudo me daria, do que eu quisesse ter...”.
Os homofóbicos de plantão na mesa do debate do programa riram de lado e, no intervalo, fizeram as costumeiras e previsíveis piadinhas de sempre.
Deixei prá lá. Passei da idade de me preocupar com a mediocridade preconceituosa, tão presente entre nós. Mas o episódio me fez pensar sobre minha relação com os gêneros.
Vivi e vivo uma contradição. Venho de uma família masculina. Somos seis irmãos, dos quais sou o mais velho. Esperei cinco vezes por uma irmã, que não veio. Quando for pai, pensei, tiro a diferença. Qual nada. Parei no terceiro filho, desconfiado de que, na minha genética não há cromossomo X.
Na vida profissional, outra realidade. Professor convive o tempo todo com um ambiente de trabalho marcado pelo universo feminino. Entro na sala do café e sou saudado com alegria: Chegou o bendito fruto entre as mulheres!
Essa é a minha rotina. Tal qual o Sílvio santos, vivo rodeado pelas minhas colegas no trabalho, um professor que está sempre aprendendo com elas que novos tempos estão chegando ou chegaram de vez. E não foi só no calendário. As pessoas estão mudadas. O ritmo de vida é outro.
Às vezes me pergunto se as mudanças são pra melhor ou pra pior. Quando ligo o computador e tenho o mundo ao alcance das mãos, em tempo real, num click, fico pensando como conseguia trabalhar antes de existir essa maravilha. Saio e pego meu carro, ou melhor, sou pego pelo engarrafamento, ouço no rádio os programas policiais vespertinos, acompanho na TV as manchetes que anunciam o último crime e suspiro desanimado.
Certamente algumas coisas que vieram com os novos tempos não são bem vindas. O trânsito caótico, a violência, a corrupção escancarada, o consumismo desenfreado. Doenças antigas foram erradicadas e voltaram a nos assustar. Outras, novinhas em folha, desafiam a Ciência e seus muitos recursos. Na verdade, a gente pode até navegar na Internet e falar com um amigo, na Austrália, mas ainda morre de picada de pernilongo.
É, realmente os novos tempos são bem contraditórios e confusos.
Mas, em meio a tudo isso, uma mudança parece que veio pra ficar. E pra ficar melhor: o papel, o lugar e o valor da Mulher. Quase erradicamos a Amélia.  Sabe quem é ela, a Amélia original?
Não a conheci. Na verdade imagino que nenhum dos leitores dessa crônica a conheceu. Mas o Brasil inteiro já ouvir falar dela. Eu explico. Amélia era a empregada do compositor Ataulfo Alves, que inspirado nela compôs (junto com Mário Lago) o samba “Ai que saudades da Amélia”. Amélia, portanto, era alguém de carne e osso e não apenas uma licença poética.
A “mulher de verdade que achava bonito não ter o que comer” já havia morrido há tempos, assassinada pelas feministas. Mas se morreu a “Amélia”, um outro personagem surgiu, não para substituí-la, mas para complementá-la: o homem companheiro.
Nos novos tempos o homem teve que aprender a dividir tarefas para que fosse possível multiplicar a presença e os cuidados com a casa, o lar, os filhos, a família. Se a mulher teve que sair de casa para assumir-se mais inteira, como profissional, como cidadã, o homem teve que encontrar o caminho das prendas domésticas. O ideal seria que isso acontecesse sem culpa ou vergonha para nenhum dos lados. Nem feministas, nem machistas, o que vale agora é a sensibilidade generosa que complementa o outro. O resultado pode ser fantástico quando homens e mulheres se encontram como companheiros.
Rubem Alves criou uma imagem genial para definir as exigências desse novo modo de “ser companheiro”. Ele diz que certos casamentos podem ser como um jogo de tênis. O tênis, pela sua concepção, é um CONTRA o outro. Cada jogador procura jogar a bolinha onde o outro não alcance. O que consegue criar mais dificuldades para o adversário acaba saindo vencedor.
A outra comparação é com um jogo comum em nossas praias: o frescobol. Apesar do nome, é um jogo bem interessante, que exige muita habilidade, onde se vê o contrário do tênis. A idéia é jogar a bola de maneira a facilitar a devolução do outro. Não há adversários, mas companheiros. O sucesso de um é a vitória do outro e de ambos. Valoriza-se a capacidade de atirar a bola com precisão, para que o outro possa responder da mesma forma. Quanto mais toques sucessivos na bola, melhor a dupla, mais bonito o jogo.
Há muitos casais jogando tênis um contra o outro...
Escondem o jogo, fingem um toque, usam sutilezas e ardis para jogar a bola onde o outro não possa chegar. Comemoram o tombo do adversário e sua humilhação diante da previsível e inevitável derrota. Nas quadras o tênis é até bonito e tivemos o Guga como um dos nossos raros e genuínos orgulhos na área esportiva. Mas quando se trata da vida a dois, o resultado é desastroso.
Na vida a dois, é essencial o aprendizado da partilha, da tolerância, do respeito às diferenças. Facilitar a vida do outro, encorajá-lo, incentivá-lo, fazer com que brilhe. Ao final, todos ganham. E se a bola cair, e ela sempre cai, a gente dá um sorriso de incentivo, pede desculpas, “foi mal, na próxima vou caprichar mais”, e recomeça o jogo. Como no frescobol.
Nos novos tempos, onde vive essa nova Mulher, é preciso deixar nascer um novo Homem. Livre do peso de não poder chorar, de ter que aguentar todas as barras, de ser durão quando a vontade é correr para o colo da mãe, o Homem vai, finalmente, descobrir a beleza de ser companheiro, de deixar a sensibilidade falar mais alto que as máscaras repressoras do machismo.
Por tudo isso, proponho que nesse Dia da Mulher ELAS nos dêem um presente. Pode ser uma flor, uma caixa de bombons, um cartão carinhoso. Que nos convidem para um jantar a dois, que abram a porta do carro, puxem a cadeira, cubram-nos de gentilezas e atenção.
Afinal, toda mulher sabe o quanto é frágil e carente o homem que ela tem ao seu lado.

SEGURAR DEUS NO COLO E CHAMÁ-LO “MEU FILHO...” SÓ MESMO UMA MULHER...

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