sábado, 31 de março de 2012

Avenida de Votorantim lembra a data

 


Antes da ditadura militar, a principal via da cidade chamava-se Rua do Comércio. Depois ganhou duas pistas e o novo nome em alusão à data histórica - Por: Fábio Rogério

Daniela Jacinto
daniela.jacinto@jcruzeiro.com.br

Em uma data como hoje, há exatos 48 anos, 31 de março de 1964 entraria para a história do Brasil como o dia em que os militares tomaram o poder. João Goulart foi afastado da Presidência da República e a partir daí vieram os Atos Institucionais, a suspensão da Constituição, a dissolução do Congresso Brasileiro, a supressão da liberdade e a permissão ao Exército e à polícia militar de prender "suspeitos".
O tempo passou, o país conseguiu finalmente estabelecer um regime democrático, porém os resquícios daquele período perduram. Às vezes em forma de homenagem. Um exemplo disso é que desde aquela época o Brasil herdou e ainda convive com nomes de ruas e avenidas em alusão à data. Em Votorantim, por exemplo, a principal avenida da cidade recebe o nome de 31 de Março. Apesar de não ser um orgulho para o prefeito Carlos Augusto Pivetta (PT), que é um dos que se opunha à ditadura, a maioria dos moradores não se importa e na verdade nem faz ideia do motivo dessa data ser o nome da avenida.
É o caso de Raquel das Neves Gonçalves, 18 anos, que trabalha em um escritório de contabilidade naquela avenida. Ela afirma que não faz nem ideia do que significa o nome da avenida. "Já tive curiosidade, mas não pesquisei", comenta. Assim como ela, o motorista Carlos Alves de Oliveira, de 49 anos, não soube dizer. "Pra falar a verdade, nunca tive nem vontade de saber", confessa ele, que mora em Votorantim há 35 anos.
O comerciante Sílvio Miguel, de 55 anos, também nunca se importou com o nome da avenida. Ao saber pela reportagem que é uma referência à ditadura militar, não viu problema em ser uma alusão à data. Igualmente a dona de casa Dilma dos Santos Galli, de 50 anos, que mora na avenida há 25 anos, disse que nunca procurou saber o motivo do nome da avenida ser esse. "Meu marido é mais ligado a essas questões de história, mas eu não dou muita bola não", disse.
Thiago Vinícius Vieira Ruivo, 21 anos, que trabalha como atendente em um Chaveiro, também disse não ter ideia do nome. Ao ficar sabendo, argumentou. "Hoje em dia as pessoas não associam mais ao golpe e, na época, elas não sabiam a proporção que isso ia tomar. As pessoas não tinham muita informação dos crimes e de tudo o que aconteceu. Sei que em Votorantim teve uma época que tentaram mudar o nome da avenida, mas pelo jeito não conseguiram".
"Não dá orgulho nenhum"

O prefeito de Votorantim, Carlos Augusto Pivetta, afirma que o nome da avenida não é motivo de orgulho. "Não dá nenhum orgulho para uma cidade ter uma avenida com esse nome, sobretudo para mim, que vim da luta contra a ditadura militar e sempre lutei pelas liberdades civis", disse.
De acordo com Pivetta, porém, é preciso entender que do ponto de vista prático, mudar o nome da avenida prejudicaria o comércio, que teria de providenciar a mudança de toda a documentação dos imóveis. "Também precisaria ver se a lei Orgânica do Município permite essa alteração, mas embora eu tenha vontade de mudar o nome, nunca houve na cidade um grande movimento nesse sentido. Esse tipo de coisa não pode partir do prefeito, de uma ou outra pessoa, tem de ser uma discussão ampla da sociedade para dar legitimidade a isso", pondera.
Pivetta lembra que um vereador já teve a iniciativa na década de 90, quando Airton Senna morreu e a ideia foi homenagear a avenida com seu nome. A proposta virou projeto de lei, encabeçado pelo vereador José Carlos de Souza, o Zega, porém a discussão não foi levada para frente e ele mesmo retirou da pauta. "Enquanto movimento mobilizado, com entrega de documentos e tal, eu nunca recebei a proposta de mudança de nome. Quando surge alguma oportunidade as pessoas comentam, e fica só no campo de debate conceitual, não há uma ação de forma sistematizada, organizada".
Pivetta lembra que não é apenas a avenida 31 de Março que faz alusão à ditadura, mas diversas ruas, avenidas e até mesmo rodovias espalhadas pelo país lembram o nome de militares que governaram naquele período, como é o caso da rodovia Castello Branco, que leva o nome do marechal que foi o primeiro "presidente" do golpe.

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