segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Dislexia afeta até 15% da população, diz especialista de Sorocaba, SP

Distúrbio interfere na agilidade de leitura e escrita.
Autoestima da criança é afetada e ela passa a rejeitar a escola.

Notas baixas, tarefas incompletas e resistência em ir à escola são fatos frequentemente associados à preguiça. Mas, o que muitos pais não sabem, é que os sintomas podem indicar que a criança apresenta um quadro de dislexia, distúrbio que altera a capacidade de associação do som ao símbolo - no caso, as letras. Mais comum do que se imagina, a dislexia atinge cerca de 10% a 15% da população mundial, sendo que aproximadamente 4% apresentam dificuldades acentuadas no aprendizado, de acordo com a psicopedagoga Adma Calux, de Sorocaba, interior de São Paulo.

Os primeiros sintomas aparecem durante a alfabetização. A demora na aquisição da leitura e da escrita e a grafia incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de fonemas, são os primeiros indícios de que a criança pode apresentar o distúrbio. "Podemos suspeitar de um quadro de dislexia quando, apesar de inteligência adequada e oportunidades de ensino e aprendizagem, a pessoa apresentar alguns desses sinais", afirma a especialista.

Até os primeiros dias de escola, a criança não aparenta nenhum comportamento anormal, salvo por eventuais confusões relacionadas ao tempo ou à direção, que podem acabar passando despercebidas. Mas, o contato com as primeiras letras traz à tona um problema que permanecia oculto. A partir daí, ela começa a se sentir infeliz e diminuída. "Eu me sentia atrasado, meio burro. Meus amigos aprendiam e eu não saía do lugar", conta Christiano Golob, hoje com 22 anos.

Por causa das dificuldades com as letras, a tendência é que a maioria acabe preferindo a área de exatas. "Sempre fui melhor em matemática e, principalmente, em física, porque eram coisas que eu aplicava na prática", lembra o estudante.

Eu me sentia meio burro. Meus amigos aprendiam e eu não saía do lugar"

Christiano Golob, 22 anos, estudante

Ele afirma que, na 1ª série do ensino fundamental, a professora percebeu que tinha algo de diferente com ele, mas não investigou as causas mais a fundo. O distúrbio só foi descoberto na 5ª série, equivalente ao 6° ano de hoje, quando, após passar por quatro psicólogos, a família encontrou uma especialista na capital do estado que conseguiu explicar o problema. "A dislexia não era muito difundida naquela época, ninguém sabia o que era", justifica Christiano.

Segundo Adma, a criança disléxica precisa de atendimento especializado, motivação, estabilidade emocional e ensino apropriado. "É necessária a estreita cooperação entre especialista, professores e pais. As crianças disléxicas aprendem de maneira diferente, mas podem acompanhar o ensino convencional se tiverem apoio necessário para contornar suas dificuldades específicas", explica. Ela recomenda, ainda, que o professor utilize o ensino multissensorial, ou seja, que explore diferentes sentidos. O método deu certo com Christiano, que utilizava a audição como forma de estudo alternativo: "Eu levava um gravador na sala de aula. Depois, em casa, ouvia e repetia tudo até entender ou decorar".

Mesmo disléxico, o estudante nunca repetiu uma série. "A única diferença é que eu sempre precisei estudar muito mais do que os outros", explica. Ele conseguiu superar o problema com a ajuda da psicóloga de São Paulo e de uma fonoaudióloga, que trabalhou com exercícios de leitura. Depois, passou a ler auxiliado por uma régua, para evitar trocar as linhas e, por fim, as atividades em grupo, mais dinâmicas, completaram o aprendizado alternativo.

Hoje, completamente adaptado às dificuldades, ele garante que leva uma vida normal: "Até me esqueço que tenho dislexia. Só me lembro quando ouço alguém falar", declara. Apesar da afinidade com números, o estudante acabou optando pela área de humanas na faculdade. Em 2012, ele vai cursar o 5° e último ano de direito - curso famoso pela quantidade de livros a serem estudados.

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