sábado, 17 de dezembro de 2011

Portugueses 'redescobrem' o Brasil atrás de oportunidades profissionais

 

Da BBC News em São Paulo

Salvador S. Almeida, português que trabalha no Brasil

Salvador S. Almeida tem recebido o CV de amigos portugueses que querem vir ao Brasil

Estudos em consultoria em golfe já haviam levado o português Miguel Palhota à Espanha e aos EUA, mas ele nunca imaginou que encontraria suas melhores oportunidades profissionais no país do futebol. No Brasil desde janeiro, Miguel e seu irmão, Paulo, que chegou há três meses, estão entre os portugueses que desembarcaram aqui atraídos por um mercado de trabalho aquecido, num momento de grave crise econômica em Portugal.

“Nunca pensei em vir trabalhar na América do Sul; sempre achei que meu caminho seria trabalhar em Portugal, em outro país europeu ou nos Estados Unidos", diz Miguel, de 30 anos, à BBC Brasil.

"(Mas) grande parte dos investidores está olhando para o Brasil como destino de investimentos. Isso pode abrir oportunidades que no momento não temos em Portugal." Depois de se formar em educação física em sua terra natal e cursar consultoria em campos de golfe na Espanha e nos Estados Unidos, ele acabou se tornando gerente de um clube de golfe em São Paulo.

"Atualmente, o Brasil pode me oferecer o que Portugal não pode: estabilidade", diz ele. Seu irmão Paulo, geógrafo de 27 anos, está trabalhando em uma operadora de turismo.

"O Brasil nos dá uma oportunidade de evoluir e crescer, e ainda há a vantagem de, em breve, podermos presenciar a Copa do Mundo (de 2014) e as Olimpíadas (de 2016)", diz. "A piadinha sobre portugueses é inevitável, mas a receptividade brasileira é maior do que isso."

 

Crise e adaptação
Um dos países mais afetados pela atual crise europeia, Portugal precisou recorrer neste ano a um pacote de resgate financeiro externo para conseguir pagar suas dívidas e enfrenta riscos de recessão econômica em 2012.

Miguel Palhota

Consultor em golfe, Palhota nunca pensou que encontraria oportunidades no país do futebol

Os altos índices de desemprego e as duras medidas de austeridade – exigidas pelos credores europeus em contrapartida ao pacote de resgate – têm aumentado os impostos, cortado benefícios e estimulado parte da população a buscar oportunidades fora do país. O Brasil é um destino lógico por conta da expansão de sua economia e do mesmo idioma, o que facilita o processo de adaptação. O português Salvador Simões Almeida, de 27 anos, morou pela primeira vez no Brasil em 2006, quando ainda era estudante. Hoje trabalha como corretor de um banco de investimentos em São Paulo.

"Em Portugal, as conversas, as histórias que me contam e as notícias giram em torno da crise, e por aqui o clima é totalmente oposto", afirma. Segundo Almeida, os salários que as empresas portuguesas se propõem a pagar não são bons para pessoas bem qualificadas, ao contrário do que está acontecendo no Brasil. "Todos os dias eu recebo currículos de amigos que querem vir para cá", diz.

Além do idioma, "o bom clima do Brasil e atmosfera alegre atraem estrangeiros ao país", afirma o headhunter Robert Wong. "O Brasil é um país em crescimento, mas há falta de especialistas, especialmente em áreas técnicas, informática e até marketing. Para pessoas com esse perfil, vir para cá é uma grande oportunidade."

Robert Wong, headhunter

Para headhunter, país tem atrativos para mão de obra estrangeira

Para ele, há espaço para a vinda de estrangeiros sem que se crie um clima de "disputa por empregos" com a população local - "se o brasileiro souber entender que (o estrangeiro) vem para complementar, e não para agredir", agrega.

 

Caminho de volta
Wong destaca que o bom momento político e econômico do Brasil também tem trazido brasileiros de volta ao país – alguns deles vindos justamente de Portugal.

A publicitária Larissa Kitahara, 28 anos, morou quatro anos em Portugal e voltou em dezembro de 2010. "Percebi que lá dificilmente haveria uma projeção de crescimento salarial ou profissional, o que me desmotivava", conta. "No Brasil, vejo como as pessoas estão numa fase mais empreendedora, porque têm ambição e pensam em tirar proveito dessa situação boa."

*Colaborou Jessica Fiorelli, da BBC Brasil em São Paulo

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