quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Faleceu Bruno di Giusti

 

Matéria do jornal Cruzeiro do Sul

 

'In Memoriam': Bruno di Giusti deixa iconografia sacra na Catedral como legado

Artista plástico ítalo-sorocabano faleceu ontem, perenizando sua obra em dezenas de igreja

 


Durante os mais de 50 anos que residiu em Sorocaba suas obras se espalharam por inúmeras outras cidades do Brasil (Foto: Arquivo DS)

Faleceu dia 29, cedo, o artista plástico ítalo-sorocabano Bruno di Giusti, que por problemas de saúde e idade avançada (ia fazer daqui um mês e meio 91 anos de idade) estava há algum tempo residindo com a filha e seus familiares na cidade de Garça (SP). Em Sorocaba, sua obra está perenizada na igreja da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte. Italiano nato, nasceu em Lau Michele di Ramera a 13 de outubro de 1920. Desde cedo vocacionado para a pintura, estudou na Escola de Belas Artes de Veneza e, mesmo em meio à 2ª Guerra Mundial, fez suas duas primeiras telas sacras mais significativas, uma Santa Rita de Cássia e uma família orando diante de uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, para a igreja paroquial de Santa Luzia, na cidade de Piave.

Terminada a guerra e com a Itália semi-destruida, a família de Di Giusti também partiu para o Brasil, em busca de novos horizontes. Aqui o destino o trouxe logo para Sorocaba, descoberto pelo então pároco da Catedral, monsenhor Antônio Francisco Cangro, o `padre Chiquinho´, que procurava então um pintor sacro para decorar a Sé local, há pouco restaurada e ampliada, ganhando os altares laterais. Foi seu coadjutor, padre João Martins, quem encontrou-se com o jovem recém-chegado artista plástico italiano nos corredores da Cúria Metropolitana de São Paulo.

Um catálogo de pintores cadastrados na cúria das dioceses italianas de Travesso e de Vitorio Veneto com o seu nome ajuda na decisão de padre Chiquinho e do bispo dom José Carlos de Aguirre de entregar a decoração da igreja da Catedral. Corria o ano de 1948 e logo que radicado em Sorocaba manda também buscar na Itália a esposa e a filha recém-nascida.

Assim, a decoração das oito capelas laterais da igreja da Catedral de Sorocaba, além de outras telas ali existentes, como “A multiplicação dos pães” e a “Ceia dos discípulos de Emaús” na Capela do Santíssimo, e os quatro evangelistas sobre o Presbitério, foram as primeiras obras de Di Giusti no Brasil. Nenhuma outra igreja local contou com seus préstimos, mas durante os mais de 50 anos que residiu em Sorocaba suas obras se espalharam por inúmeras outras cidades do Brasil, com destaque, porém, a cidades da região, de outras partes do interior de São Paulo e mesmo na Capital, onde ainda na década de 90 passou anos ficando ali a semana toda, decorando com suas telas sacras a igreja paroquial de Nossa Senhora Aparecida, na região nobre do Ibirapuera.

Um destaque interessante, aliás, da obra de Bruno di Giusti é que, além de ler muito as passagens bíblicas que ia reproduzir com seus pincéis e estudar a fundo a vida dos santos que iria retratar, como aconteceu com os altares laterais de nosso Catedral, usava feições humanas conhecidas. Assim, o negro escravo do altar de Nossa Senhora Aparecida da Catedral local, lembrava sempre, retratava um andarilho da cidade na época; um dos anjos ao lado do Evangelista, por outro lado, reproduzia as feições do menino sobrinho de monsenhor Antônio Francisco Cangro que vivia na igreja a observar seu trabalho, o ex-prefeito e hoje vereador licenciado e secretário municipal de Governo e Relações Institucionais, Paulo Francisco Mendes.

Na região, a cidade onde as obras de Di Giusti mais se sobressaem é Porto Feliz, com telas sacras na igreja matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens e também trabalhos relacionados à história da cidade, no Museu das Monções. Em Tietê, na igreja matriz da Santíssima Trindade, o enorme painel retratando o passado e o presente da tradicional procissão fluvial pelo rio Tietê marcando o pouso do Divino, que pintou inclusive usando como atelier as tribunas da igreja da Catedral de Sorocaba, onde está o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra,perpetua, por outro lado, a figura do bispo da ocasião, o então terceiro bispo diocesano e primeiro arcebispo metropolitano, dom José Lambert.

Obras suas também são encontradas na igreja matriz de São João Batista, na cidade de Rio Claro; na igreja do Senhor do Bonfim, em Campinas; em Piedade, Buri, Marília,Bragança Paulista, Salto e até na Basílica de Santa Terezinha, no Rio de Janeiro, dentre outras. Um de seus derradeiros trabalhos, agora entre 2005 e 2006, foi para a Paróquia de Vila Arens, na cidade de Jundiaí, onde ao pintar os 15 quadros da Via-Sacra inovou uma vez mais, atualizando seus personagens, além de retratar pessoas conhecidas da cidade. Na estação referente à condenação de Jesus, por exemplo, Pôncio Pilatos aparece vestido com toga, lembrando os juízes de Direito da atualidade, e os soldados usando uniformes de policiais militares...

EXÉQUIAS – Trasladado de Garça (SP), onde vinha residindo com a filha e a segunda esposa, o corpo do artista plástico Bruno di Giusti foi velado na Ofebas, de onde o féretro saiu às 15 horas, para o Cemitério da Saudade. (José Benedito de Almeida Gomes)

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