domingo, 28 de novembro de 2010

Esperança no Rio de Janeiro

27/11/2010 21h57 - Atualizado em 27/11/2010 21h57

‘No tiroteio, pessoas se refugiaram aqui’, diz padre de Igreja da Penha

Ele abrigou fiéis durante os confrontos entre traficantes e a polícia.
Santuário fica perto do conjunto de favelas da Penha, Zona Norte do Rio.

Carolina Iskandarian Do G1 RJ
Igreja da Penha 2Igreja da Penha fica perto da favela Vila Cruzeiro. (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
O padre português Serafim Fernandes dividiu seu refúgio com um grupo de fiéis que procurou o Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Penha, na Zona Norte do Rio, nos últimos dias, para fugir do tiroteio no conjunto de favelas da Penha. O local é um dos principais alvos da polícia, que conta com a ajuda do Exército e da Marinha para prender criminosos. O padre garantiu que as missas deste domingo (28) estão mantidas.

 
“Durante os tiroteios, várias pessoas se refugiaram aqui. Eu confesso que, na quarta (24) e na quinta (25), enquanto estavam acontecendo os tiroteios, eu fiquei dentro do santuário rezando por todos. Não saí daqui um dia”, disse neste sábado (27) Fernandes, que, aos 54 anos, é reitor da Igreja da Penha, um dos cartões postais do Rio, “há 13 anos e dez meses”. De acordo com ele, os fiéis o procuraram também “para falar de seu sofrimento”. Eram mães preocupadas com seus filhos.
Construída no alto do morro há 375 anos, completados agora em 2010, o templo pode ser visto de diversos pontos da Penha. Ele fica próximo à favela Vila Cruzeiro, uma das ocupadas pela polícia, principalmente, pelo Batalhão de Operações da PM (Bope). A onda de ataques no estado começou no domingo (21), com arrastões, cabines da polícia metralhadas e veículos queimados.
Pregando a esperança
Igreja da Penha 4Cartaz na entrada da Igreja da Penha pede paz.
(Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
 
O padre contou que, durante as missas que celebrará às 7h e às 10h (estão ainda programadas celebrações às 8h30 e às 16h) deste domingo, vai pregar a esperança. “Para nós, cristãos, amanhã [domingo] é dia de ano novo. E ano novo é vida nova. É a esperança de que toda essa fase difícil de sofrimento vai passar.”

Questionado sobre suas impressões a respeito da ação da polícia – os tiroteios deixaram mortos e feridos – o religioso fez uma pausa. “É um misto de preocupação e esperança. Fico preocupado com a vida das pessoas. Tudo o que está acontecendo é um aprendizado. Tenho esperança de que dias melhores virão.”

Nascido em Portugal, Fernandes chegou ao Rio com 14 anos. Disse não ter tido medo em nenhum momento desde que os policiais ocuparam a região e conta com igreja cheia para as missas de domingo. “Eu não tenho medo porque ele anda na contramão da confiança.”

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