O papa Bento 16 pediu "respeito à vida" apesar dos "novos desenvolvimentos tecnológicos", ao inaugurar um centro beneficente para crianças com necessidades especiais em Barcelona neste domingo, pouco antes de encerrar o segundo e último dia de sua visita à Espanha.
O papa abençoou a pedra fundamental de uma nova sede do Instituto Nen Deu (Menino Deus, em catalão), que atualmente atende a crianças com síndrome de Down, autistas, que sofrem de epilepsia grave ou problemas de comportamento. O centro levará o nome de Bento 16.
O pontífice saudou e beijou várias crianças e jovens com necessidades especiais, cumprimentou as religiosas que trabalham no local, rezou perante um retábulo e em seguida voltou a se dirigir aos pequenos pacientes.
Em seu breve discurso, disse que "é imprescindível que os novos desenvolvimentos tecnológicos no campo médico nunca vão em detrimento do respeito à vida e à dignidade humana", antes de abençoar a pedra fundamental do estabelecimento.
Ao finalizar o ato, o papa rompeu o protocolo e se aproximou da multidão, levando ao delírio aqueles que o aguardaram durante mais de quatro horas.
Embora simples, a cerimônia em Nen Deu talvez tenha sido a mais emocionante que o papa viveu em sua visita a Barcelona, sobretudo pela intervenção de crianças e jovens especiais, que dedicaram pontífice algumas palavras e uma canção, que cantaram acompanhados de violões.
"Embora sejamos diferentes, nosso coração ama como o de todos", disse uma menina ao papa, lendo com dificuldade um breve e emocionante discurso.
Falando em catalão, Bento 16 agradeceu às autoridades e entidades assistenciais de iniciativa privada pela ajuda que dão a esta escola especializada, "neste momento em que muitos lares enfrentam sérias dificuldades econômicas".
Na terça-feira, o porta-voz da Igreja espanhola, Isidro Catela, disse que o número de crianças trissômicas (com três cromossomos) havia diminuído porque boa parte deles "são eliminados antes de nascer".
Antes, a Conferência episcopal já tinha condenado que, em nome do "bem-estar", "aquele que vai nascer possa ser tratado como um obstáculo à qualidade de vida, razão pela qual sua eliminação pode ser legal".
Os bispos condenaram mais uma vez a lei sobre a liberalização do aborto, votada em fevereiro pelo Parlamento espanhol, segundo a qual as mulheres podem abortar livremente até as 14 semanas de gravidez e até as 22 semanas, em caso de "risco para a saúde" da mãe e/ou de "graves anomalias no feto".
O papa, que celebrou uma missa solene de consagração da catedral da Sagrada Família, também disse que os Estados deveriam se esforçar "para que se defenda a vida dos filhos como sagrada e inviolável desde o momento da sua concepção".
Mais cedo, o papa, que passou por um beijaço gay em Barcelona, defendeu a família tradicional em clara crítica às leis liberais do governo socialista espanhol de José Luis Rodríguez Zapatero.
"A Igreja se opõe a todas as formas de negação da vida humana e apoia quanto se promove a ordem natural no âmbito da instituição familiar", recordou Bento 16, durante a missa celebrada na então consagrada basílica da Sagrada Família de Barcelona.
Bento 16 chegou a Barcelona procedente de Santiago de Compostela. A visita tem como objetivo reacender a fé em uma das principais nações católicas do mundo. O pontífice afirmou neste sábado que o anticlericanismo sentido hoje na Espanha remete aos anos 30, quando a Igreja Católica sofreu uma onda de violência e mal-estar em meio à guerra civil.
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