SÃO PAULO - O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, defendeu nesta quinta-feira a livre manifestação de padres e até bispos, como dom Luiz Gonzaga Bergonzini, de Guarulhos, que, nas últimas semanas, têm pregado o voto contra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, alegando que ela é a favor do aborto.
" Eles (padres e bispos) são livres para se manifestar "
- Eles (padres e bispos) são livres para se manifestar - argumentou o cardeal de São Paulo.
Mesmo lembrando que a posição oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é não indicar partido ou candidato, dom Odilo afirmou que não cabe punição ou qualquer tipo de reprimenda ao bispo de Guarulhos. Dom Odilo defende a pluralidade de posições e garantiu que não há divisão no clero.
Somos mais de 400 bispos católicos no Brasil, membros da CNBB. Nós temos cabeças diferentes e muitas vezes posições diferentes
- Evidentemente, nós somos mais de 400 bispos católicos no Brasil, membros da CNBB. Nós temos cabeças diferentes e muitas vezes posições diferentes. Porém, a posição assumida pela CNBB, aquela da Assembleia Geral, ela vale, foi votado, portanto não há divisão - disse.
O cardeal, que já foi secretário-geral da CNBB, disse ainda que a polarização do debate sobre aborto na campanha presidencial não é boa, uma vez que outros assuntos não são abordados. Ele defendeu, no entanto, o direito dos eleitores conhecerem a posição dos candidatos sobre outros temas importantes para o país.
- Acho que é uma das questões que os eleitores devem saber o posicionamento dos candidatos. É uma das questões sim que os candidatos devem manifestar. Não só, evidentemente. A polarização em torno do assunto não é boa porque existem muitos assuntos que devem também ser levados em consideração. Porém, a questão é importante e os candidatos devem se manifestar claramente a respeito daquilo que é a sua posição em relação a esse ponto, como de tantos outros que interessam aos eleitores - disse.
O cardeal deixou clara a posição dos bispos brasileiros sobre a eleição.
- A posição da CNBB está muito clara, de não indicar partidos nem candidatos, mas apontar critérios e princípios em relação à escolha que depois é de livre e autônoma responsabilidade dos próprios eleitores - afirmou.
Para dom Odilo Scherer, que defende a posição da Igreja Católica em favor da vida, a questão do aborto no país merece consideração política.
- Acredito que é bom que a questão do aborto seja também levada em consideração dentro dos debates políticos. É questão que merece consideração política. Ou a vida humana seria tão desprezível que não merece atenção da discussão política? Então, é importante que a questão em torno do aborto mereça a atenção política e um posicionamento claro daqueles que se propõem a governar e a legislar.
Entidade divulga nota defendendo liberdade de escolha do eleitorado
Na véspera, a Comissão Brasileira Justiça e Paz, ligada à CNBB, divulgou nota com recado direto para setores da Igreja que estão pregando voto contra Dilma e não fazem referência à posição do candidato tucano, José Serra.
Na nota, a comissão se diz "preocupada com o momento político na sua relação com a religião" e, sem citar nomes, a comissão informou que grupos têm usado o nome da CNBB, "induzindo erroneamente os fiéis a acreditarem" que a Igreja tenha "imposto veto a candidatos nessas eleições". O texto faz defesa da liberdade de escolha do eleitorado brasileiro para presidente da República.
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Pascom Porto Feliz