sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Perseguição que Vem do Interior de Nossas Igrejas

Everth Queiroz Oliveira


Ecclesia Una










Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo.


É assim que são classificados aqueles que desejam renunciar às suas vaidades para tomar a Cruz sob suas costas: fundamentalistas.

Essa palavra, em seu sentido original, faz alusão a uma forma errônea de leitura da Sagrada Escritura. O mesmo Cardeal Ratzinger, antes de ser eleito papa, em entrevista concedida a Peter Seewald, explicou de maneira clara o significado dessa palavra: “A interpretação histórico-crítica da Bíblia, que tinha se desenvolvido depois do Iluminismo, retirou à Bíblia a evidência que tinha tido e tinha sido a condição do princípio protestante Só a Escritura. O princípio Só a Escritura, de repente, já não oferecia bases claras. Como faltava um magistério, significava uma ameaça mortal para essa comunidade na fé. Acrescentou-se a isso a teoria da evolução, que não punha apenas o relato da criação e a fé na criação em questão, mas que tornava Deus supérfluo. O ‘fundamento’ tinha desaparecido. A essa concepção opôs-se o princípio estrito da interpretação literal da Bíblia, segundo o qual o sentido literal era considerado imutável.” (O Sal da Terra, pp. 110-111; Imago, 2005).
 
Fundamentalismo bíblico nada tem a ver com catolicismo. É certo que em algumas comunidades aparentemente católicas, a leitura pessoal da Bíblia acabou conduzindo as pessoas a certo literalismo, mas definitivamente não é assim que a Igreja interpreta as Sagradas Escrituras. Não é de maneira fundamentalista – no sentido real do termo – que um católico deve se comportar.
 
Hoje, no entanto, a palavra fundamentalismo tomou um significado diferente.
 
Antes de começarmos a explicar o sentido dessa palavra hoje, partamos a um trecho do Evangelho de S. Lucas, no qual Nosso Senhor dá regras básicas de como segui-Lo. Suas palavras são fortes:

 
Citando:

“Se alguém quiser vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á.”

 
- Evangelho de São Lucas, 9, 23-24

 
Desse trecho retiramos muitíssimas conclusões. O próprio São Luís de Montfort escreveu um documento sobre esse trecho da Escritura. No entanto, o que interessa para a nossa reflexão nesse momento são os trechos destacados: “renegue-se a si mesmo” e “quem quiser sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á”. Está mais do que claro que o Cristianismo é a religião do compromisso e da renúncia. Compromisso porque o ato de “tomar cada dia sua cruz” exige um comprometimento total com a obra de Nosso Senhor; renúncia porque o homem que quer seguir a Cristo renega-se a si, i. é, renuncia a muitíssimos aspectos de seu comportamento. São Tiago, em sua carta, fala sobre esse mesmo assunto. Suas palavras também são duras: “Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4, 4).

 
Então, exige-se do cristão uma tomada definitiva de decisão.
 
Não é isso, porém, o que se vê em nosso meio. Vivemos em um mundo de catolicismo self-service. Alguns valores pregados por Jesus, como, p. ex., o amor, são geralmente aceitos. Outros, no entanto, que envolvem renúncias, são totalmente deixados de lado. Em suma, o “renegue-se a si mesmo” não está sendo cumprido por aqueles que se dizem seguidores de Jesus Cristo.

Mas, muitos fazem mais que não seguir. Não se contentam em viver um “Cristianismo sem renúncias” – como se isso fosse realmente possível – e querem impor esse modo de vida aos cristãos que desejam tomar a Cruz de cada dia e seguir a Nosso Senhor.
 
Por isso, chamam os que querem ter uma fé clara, “segundo o Credo da Igreja”, de fundamentalistas. Na verdade, esses cristãos que seguem os preceitos bíblicos, renunciam às suas vontades para dar lugar aos ensinamentos da Santa Igreja, não estão fazendo nada mais que sua obrigação. Como pessoas que se compromissaram a guardar a fé no Sacramento do Batismo, devem realmente vivenciar muitas renúncias. Devem ser, portanto, fiéis ao que diz o Cristo. Mas como o “normal” é acomodar-se, quem não se acomoda é classificado como fundamentalista, simplesmente porque faz o necessário.
 
Eis o significado que a palavra fundamentalismo tomou nos dias de hoje. Ela se tornou flecha que busca atingir os que seguem o Crucificado. Se tornou lema dos mornos, dos quais fala o Apocalipse: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te” (Ap 3, 15-16).

 
“Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo”. Aqueles que seguem ao Cristo serão perseguidos. De fato, eles representam um incômodo para aquela multidão de católicos ‘só de nome’. Resistam, no entanto, os fiéis e fortaleçam, com sua fé, os infiéis. Guie a conversão dos impiedosos Maria Santíssima, Refúgio dos Pecadores.
 
obs: as ideias contidas neste artigo pertecem ao seu autor apenas.
A frase é do Cardeal Joseph Ratzinger, em Missa pro Eligendo Romano Pontifice, no dia 18 de abril de 2005.

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