domingo, 25 de abril de 2010

Os traços do rosto franciscano



Nós temos um rosto, rosto conhecido, com traços acentuadamente evangélicos, traços admiráveis em si e admirados por meio mundo. É o nosso rosto franciscano. Ninguém de nós, possivelmente, quererá mudar de rosto. Temos orgulho dele, embora sintamos necessidade de retocá-lo, de tempos em tempos, diante dos espelhos da nossa casa.

Sem nos ocuparmos com o rosto dos outros, que podemos aplaudir mais ou menos, sentimo-nos felizes com o rosto teológico-espiritual-existencial que temos. Este rosto tem muita história, vem lá do fundo dos tempos, e teve um primeiro escultor: São Francisco de Assis, a quem Pio XI chamou de "um quase Cristo redivivo". Em sua cola, seguiram-se muitos outros escultores, que foram aprimorando os traços do nosso rosto, sempre fiéis à inspiração original. Ele foi tomando sempre mais o jeito do rosto de Cristo. Poderíamos perguntar-nos se não houve deformações, se não se acrescentaram traços estranhos? Não seria o caso de negá-lo.
Mas o rosto continua aquele, que nos encanta e fascina, que nos desafia e provoca. Hoje, com um esforço que já tem seis anos, estamos tentando resgatar os traços deste rosto para nossa ação evangelizadora. Como franciscanos, qual é a nossa vocação? Nossa vocação, e razão de ser na Igreja e no mundo, é seguir Jesus Cristo, vivendo encantados por ele, como fraternidades evangelizadoras. Na base deste encantamento vocacional, já não existem, em verdade, perguntas para uma definição, mas tão-somente tentativas de respostas para uma adesão mais superlativa. Para nós, viver é Cristo. Cristo é a nossa vida. Cristo é nossa vida e morte, é o ar que respiramos, é o chão que queremos pisar.

A qualquer franciscano, pede-se apenas que saiba ler o evangelho vivo que é Jesus, porque Jesus é a palavra que devemos entender e a vida que mais prezamos e desejamos partilhar com todas as pessoas. Nenhum outro projeto pode, por conseguinte, tomar o lugar de Cristo. Cristo é a forma minorum, o projeto matriz da nossa forma vitae . Por definição, somos arautos do Grande Rei, a ele pertencemos numa aliança de vida e morte. Ele é o tesouro onde deve estar nosso coração.

Como ninguém é avaro e vive só para si, à vocação segue-se o imperativo da missão evangelizadora que é nosso modus vivendi. Vivemos para o Reino, como frades e como fraternidade. O mundo é nosso convento. A evangelização é o nosso apanágio. Como frades, somos chamados a semear, a ir aos areópagos, a não ter outra missão senão a de pregar o evangelho, curar os doentes e leprosos e expulsar os demônios. Esta é a nossa missão em sentido amplo. Num sentido estrito, nossa missão tem um endereço certo e obedece a uma inequívoca opção: a vida e a casa dos pobres, dos mais pobres. Estes são, como desde o início foram para São Francisco, os novos e privilegiados areópagos da missão franciscana. Como Cristo, os pobres são o tesouro do nosso coração evangelizador.

Mas para bem evangelizarmos os pobres, temos que evangelizar, primeiro, as nossas pobrezas, mudando e curando as raízes do nosso eu. Isto inclui evangelizar nossos medos e aversões, evangelizar nosso modo pecador de ser e o barro de nossa vida. Em outras palavras, importa ser, fazer-se e sentir-se menor. E este minorismo que, purificando-nos de ambições e vontades pessoais, de sonhos plausíveis mas não de grupo, dará força para sermos fraternidades evangelizadoras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe o seu comentário!

Seja bem vindo!
Pascom Porto Feliz