domingo, 4 de abril de 2010

Cataclismos indicam que a Terra está passando por uma Páscoa

LEONARDO BOFF

A Páscoa é uma festa comum a judeus e cristãos e encerra uma metáfora da atual situação da Terra. Etimologicamente, significa passagem da escravidão para a liberdade e da morte para a vida. O planeta está passando por uma severa Páscoa. Estamos dentro de um processo acelerado de perda. Assistimos a terremotos no Haiti e no Chile. Quando as perdas vão parar? Ou para onde nos poderão conduzir? Podemos esperar, como na Páscoa, que irrompa sempre nova vida e ressurreição?

Precisamos de um olhar retrospectivo sobre a história da Terra para lançar alguma luz sobre a crise atual. Terremotos e devastações são recorrentes na história geológica do planeta. Existe uma "taxa de extinção de fundo" que ocorre no processo da evolução. Espécies existem por milhões de anos e depois desaparecem. É como o indivíduo que nasce, vive por algum tempo e morre. A extinção é o destino dos indivíduos e das espécies. Também da nossa.

Mas, além desse processo natural, existem as extinções em massa. Segundo os geológico, a Terra teria passado por 15 grandes extinções. Duas foram especialmente graves. A primeira ocorreu há 245 milhões de anos com a ruptura de Pangéia, continente único que se fragmentou e deu origem aos atuais continentes. Foi tão devastadora que teria dizimado entre 75% a 95% das espécies de vida. Por baixo dos continentes continuam ativas as placas tectônicas, se chocando umas com as outras, se sobrepondo ou se afastando, num movimento de deriva continental, responsável pelos terremotos.

A segunda ocorreu há 65 milhões de anos, causada por alterações climáticas, eventos provocados por um asteroide de 9,6 km caído na América Central. Provocou incêndios, maremotos, emissão de gases venenosos e longo obscurecimento do Sol. Os dinossauros desapareceram totalmente, bem como 50% das espécies vivas. A Terra precisou de 10 milhões de anos para se refazer. Mas o fenômeno provocou uma radiação de biodiversidade como jamais antes na história. Nosso ancestral, que vivia nas árvores, por medo dos dinossauros, pôde descer à terra e fazer o percurso que culminou no que somos hoje.

Cientistas sustentam que está em curso uma outra grande extinção, que se iniciou há uns 2,5 milhões de anos, quando extensas geleiras começaram a cobrir parte do planeta, alterando os climas e os níveis do mar. Ela se acelerou com o surgimento do ser humano, através de sua sistemática intervenção no sistema Terra, particularmente nos últimos séculos. Peter Ward, em "O Fim da Evolução", diz que essa extinção em massa se nota claramente no Brasil, que nos últimos 35 anos está extinguindo quatro espécies por dia. "Um gigantesco desastre ecológico nos aguarda".

O que causa crise de sentido são os terremotos, que destroem tudo e dizimam milhares de pessoas. Humildemente, temos que aceitar a Terra assim como é, ora mãe generosa, ora madrasta cruel. Ela segue mecanismos cegos de suas forças geológicas. Ela nos ignora. Mas nos passa informações. Nossa missão é descodificá-las. Os animais captam tais informações e, antes de um tsunami, fogem para os lugares altos. Outrora, talvez, nós sabíamos captá-las e nos defendíamos. Hoje, perdemos essa capacidade. Mas, para suprir nossa insuficiência, temos a ciência. 

Como somos a própria Terra, estamos na fase juvenil. Estamos ingressando na fase adulta, aprendendo a manejar as energias da Terra e do cosmos. 

A Terra pende da cruz. Temos que tirá-la de lá e ressuscitá-la. Então, celebraremos uma Páscoa verdadeira, e nos será permitido desejar feliz Páscoa.


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