Em uma reunião a portas fechadas, na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recebeu nesta quinta-feira o Dalai Lama, em uma visita cercada de polêmica.
O presidente americano e o líder espiritual tibetano se reuniram na chamada Sala dos Mapas.
Logo após o encontro, a Casa Branca divulgou um comunicado em que afirma que “o presidente manifestou seu forte apoio à identidade religiosa, cultural e linguística únicas do Tibete e à proteção dos Direitos Humanos para os tibetanos na China”.
O texto diz ainda que Obama elogiou a estratégia do Dalai Lama de evitar a violência e buscar o diálogo com o governo chinês.
Também afirma que “o presidente e o Dalai Lama concordaram sobre a importância de uma relação positiva e cooperativa entre os Estados Unidos e a China”.
Antes da reunião, assessores do Dalai Lama disseram que ele iria pedir a Obama ajuda na busca de uma solução para a questão do Tibete que seja benéfica tanto para os tibetanos quanto para os chineses.
Em uma entrevista ao sair da Casa Branca, o Dalai Lama afirmou estar honrado com o encontro e disse que discutiu com Obama questões relacionadas à promoção da paz e da harmonia religiosa.
Pressão
O fato de a visita não ter sido pública ou televisionada e não ter ocorrido no Salão Oval, onde geralmente são recebidos líderes mundiais, é visto como uma tentativa do governo americano de aplacar as críticas da China.
O governo chinês considera o Dalai Lama – que vive exilado na Índia há meio século, desde a ocupação chinesa, e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1989 – um líder separatista e pressionou os Estados Unidos a cancelarem a visita.
No início do mês, o governo chinês chegou a advertir que, caso a visita realmente ocorresse, iria “prejudicar muito as fundações das relações políticas entre os Estados Unidos e a China”.
No ano passado, pouco antes de sua primeira visita a Pequim, Obama já havia adiado um encontro com o líder religioso.
Desta vez, o governo americano defendeu a decisão de receber o Dalai Lama e afirmou que trata-se de “um líder religioso respeitado internacionalmente”.
Antes da visita, um porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que as relações entre os Estados Unidos e a China são maduras o suficiente para discordar sobre alguns temas ao mesmo tempo em que buscam posisões comuns em questões internacionais.
Agenda
O Dalai Lama chegou aos Estados Unidos na quarta-feira. Logo após o desembarque em Washington, o líder religioso foi para um hotel, onde participou de uma cerimônia em comemoração ao Ano-Novo tibetano.
Nesta quinta-feira, ao chegar à Casa Branca, o líder espiritual foi recebido por apoiadores com bandeiras do Tibete e dos Estados Unidos.
A agenda do Dalai Lama inclui ainda um encontro com a secretária de Estado, Hillary Clinton.
O líder espiritual tibetano já esteve nos Estados Unidos outras vezes, em visitas que também provocaram reações da China.
Em 2007, o então presidente George W. Bush enfureceu os chineses ao não apenas receber o Dalai Lama na Casa Branca em um encontro público, mas também participar de uma cerimônia em que o líder religioso recebeu a Medalha de Honra do Congresso.
Tensões
A polêmica em torno da visita do Dalai Lama é apenas mais um capítulo nas recentes tensões entre os Estados Unidos e a China.
No início do mês, Obama irritou os chineses ao afirmar que iria adotar uma política mais dura para garantir a abertura do mercado chinês às exportações americanas.
Na mesma ocasião, Obama disse que iria garantir que países não levem vantagens desleais sobre o dólar ao desvalorizar suas moedas.
A China é criticada pelos Estados Unidos por manter o yuan artificialmente desvalorizado, o que daria vantagens competitivas a suas indústrias.
Em janeiro, o anúncio de que os Estados Unidos pretendem vender armas a Taiwan também provocou reações da China, que considera a ilha uma província rebelde.
Logo após o anúncio, a China disse que caso a venda, no valor de US$ 6,4 bilhões (cerca de R$ 11,7 bilhões), fosse levada adiante, haveria “repercussões que nenhum dos dois países quer ver”.
Internet
Antes disso, os comentários de Hillary Clinton de que a China restringe a liberdade na internet provocaram reclamações por parte de Pequim.
As declarações da secretária de Estado foram feitas após denúncias do site Google, que disse ter sofrido ataque de hackers da China.
Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da China disse que os Estados Unidos deveriam “parar de fazer acusações sem fundamento” contra o país.
Apesar dos pontos de fricção, os Estados Unidos não têm interesse em um confronto com Pequim, especialmente no momento em que precisam do apoio da Chinano Conselho de Segurança da ONU para impor sanções contra o Irã, em razão de seu programa nuclear.
BBC
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