Dr. Frei Antônio Moser, OFM (*)
O presente ano de 2009 foi escolhido pela CNBB para ser o Ano Catequético Nacional. Até certo ponto a escolha dessa temática pode parecer surpreendente, uma vez que para um grande número de cristãos "catequese" equivale à preparação para a primeira Eucaristia e ponto. Ou seja: catequese seria coisa para criança.
E, no entanto, quem se der ao trabalho de tomar em mãos o texto-base oferecido pela CNBB irá perceber logo que "catequese" tem tudo a ver com gente grande. O texto inspirador é o do encontro do Cristo Ressuscitado com os discípulos no caminho de Emaús, encontro magistralmente desenvolvido pelo evangelista São Lucas ( cap. 24). Fica até difícil de se escolher o ângulo da abordagem: se o do encontro, o da pedagogia de Jesus, o da força perene da Palavra de Deus, ou se o da missão decorrente de quem encontra o mestre e ouve sua palavra. Talvez o melhor mesmo é ficar com a trajetória sugerida pelo título acima: o que se aprende caminhando com Jesus.
Caminhando com Jesus, mesmo sem reconhecê-lo de imediato, se aprende que a evangelização hoje mais do que nunca exige que caminhemos com o Mestre e observemos sua maneira de proceder. Ele não chega provocando ruído, nem carregando em sua bolsa respostas prontas para perguntas que quase ninguém mais se faz. Ele simplesmente "se aproxima" e "escuta". Isso nos leva a pensar que muitas dificuldades no processo evangelizador decorrem de uma pedagogia ultrapassada, e que seguramente não é a de Jesus.
Antes de falar ele "escuta". E escutando compreende quais são as questões que angustiam justamente as pessoas que deveriam estar mais seguras.
Só depois de auscultar as angústias é que Jesus vai buscar nas Escrituras uma resposta iluminadora. Com isso ficam claras ao menos duas coisas. A primeira é a de que as Escrituras não são uma caixinha de respostas prontas para qualquer problema humano. Certamente elas apresentam respostas, mas nem sempre aquelas que nos pareceriam ser as mais acertadas. Ou seja: as Escrituras exigem não apenas uma interpretação hermenêutica, como também e sobretudo a disposição de ser surpreendido por uma interpretação inesperada e até mesmo paradoxal.
Fica claro também que a hermenêutica que os discípulos de Emaús faziam das Escrituras e até mesmo dos fatos era a de que o Messias só poderia ser um vencedor no estilo dos que são considerados vitoriosos aos olhos do mundo. Não lhes passava pela cabeça que há vitórias aparentes e derrotas que se transformam em vitórias. A lógica dos discípulos era a lógica do mundo, que não comporta nem o sofrimento e muito menos a morte. Outra é a lógica de Deus: vencedores mesmo são aqueles que, como Jesus já assegurara nas Bem aventuranças, são perseguidos e até eliminados, em decorrência de sua fidelidade aos projetos de Deus.
Ora, é justamente esse paradoxo que se constitui no cerne do Evangelho, ou seja, da boa notícia: existem aparentes derrotas que são vitórias e aparentes vitórias que são derrotas. As verdadeira vitórias não podem ser medidas pela intensidade dos aplausos do mundo. E é essa a missão nada fácil que cabe aos que descobriram o Cristo glorioso: num mundo sedento de glórias passageiras e de alguns minutos fugazes nas telinhas, só é realmente vitorioso quem refaz o caminho de Jesus, que passa pela cruz. Isso nada tem a ver com uma atitude sado-masoquistas de quem encontra prazer no seu sofrimento e no sofrimento dos outros. Até pelo contrário: o prazer resulta do empenho em aliviar o peso da cruz dos outros.
O cristão também não é aquele que está sempre em busca de novos caminhos. Pelo contrário, cristão é aquele que já encontrou o único caminho da realização: o mesmo caminho de todos, mas feito com um novo espírito. É esse novo espírito que faz brilhar até mesmo em rostos marcados pelo sofrimento o sorriso alegre dos verdadeiros vencedores.
(*) PROF. DR. ANTÔNIO MOSER - É frade da Província Franciscana da Imaculada Conceição, teólogo, professor do ITF e assessor da CNBB para assuntos de Bioética.
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