quinta-feira, 25 de junho de 2009

Michael Jackson




A Irmã Morte

Frei Nilo Agostini

Ano de 1226. Francisco se acha muito debilitado. Seu estômago não aceita mais alimento algum. Chega a vomitar sangue. Admiram-se todos como um corpo tão enfraquecido, já tão morto, ainda não tenha desfalecido. Transportado de Sena para Assis, Francisco ainda encontra forças para exortar os que acorrem a ele.

E aos irmãos diz:

"Meus irmãos, comecemos a servir ao Senhor, porque até agora bem pouco fizemos".

Ao chegar a Assis, um médico se apresenta e constata que nada mais resta a fazer.

Ao que Francisco exclama:

"Bem-vinda sejas, irmã minha, a morte!"


E convida aos irmãos Ângelo e Leão para cantarem o Cântico do Irmão Sol, ao qual Francisco Acrescenta a última estrofe em louvor a Deus pela morte corporal.



Aproximando-se a hora derradeira, Francisco deseja ser levado para a capelinha de Nossa Senhora dos Anjos, na Porciúncula, onde tudo havia começado. Lá, num gesto de despojamento, de identificação com o Cristo crucificado e de integração com o Pai, pede que o deixem, nu, sobre a terra e diz aos frades:

"Fiz o que tinha que fazer.
Que Cristo vos ensine o que cabe a vós".


Despede-se de todos os irmãos; abençoa-os; lembra-lhes que

"o Santo Evangelho é mais importante que todas as demais instituições".

Anima o seu médico, dizendo-lhe:

"Irmão médico, dize com coragem que a minha morte está próxima. Para mim, ela é a porta para a vida!"


E, então, canta o Salmo 142. Francisco parte cantando, cortês, hospitaleiro e reconciliado com a morte.




O canto de Francisco está baseado em uma percepção realista da morte:

"Nenhum homem pode escapar da morte".

Mas como pode ser irmã aquela que engole a vida, que decepa aquela pulsão arraigada em cada um de nós, fundada em um "desejo" que busca triunfar sobre a morte e viver eternamente?

Francisco acolhe fraternalmente a morte. Nele realiza-se, de forma maravilhosa, o encontro entre a vida e a morte, em um processo de integração da morte.





Francisco acolhe a vida assim como ela é, ou seja, em sua exigência de eternidade e em sua mortalidade. Tanto a vida como a morte são um processo que perdura ao longo de toda a vida.

A morte faz parte da vida.

Como e despertar e o adormecer, assim é a morte para o ser humano. Ela não rouba a vida; dá a esse tipo de vida a possibilidade de outro tipo de vida, eterna e imortal, em Deus.

A morte não é então negação total da vida, não é nossa inimiga, mas é passagem para o modo de vida em Deus, novo e definitivo, imortal e pleno.


Francisco capta esta realidade e abriga a morte dentro da vida. Acolhe toda limitação e mostra-se tolerante com a pequenez humana, a sua e a dos outros.


A grandeza espiritual e religiosa de Francisco no saudar e cantar a morte significa que já está para além da própria morte; ela, digna hóspede não lhe é problema;

ao contrário, ela é a condição de viver eternamente, de triunfar de modo absoluto, de vencer todo embotamento do pecado que a transforma em tragédia.


Francisco soube mergulhar na fonte de toda a vida.

"Enquanto Deus é Deus, enquanto Ele é o vivente e a Fonte de toda a vida, eu não morrerei, ainda que corporalmente morra!" (L. Boff).





Paz e Bem!!!


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