segunda-feira, 11 de março de 2013

Cego se forma em direito e quer dar exemplo de superação em Piracicaba

Wander Viana Santos, de 42 anos, perdeu a visão após doença em 2008.
'É tudo muito difícil, mas eu toquei a vida em frente', disse novo bacharel.

Do G1 Piracicaba e Região

 

Deficiente visual se formou em Direito e usa computador adaptado para trabalhar (Foto: Luiz Felipe Leite/G1)Deficiente visual se formou em direito e usa computador adaptado para trabalhar (Foto: Luiz Felipe Leite/G1)

O funcionário público Wander Viana Santos, de 42 anos, se formou em direito na Universidade Metodista de Piracicaba (SP) na noite da última quinta-feira (7). O diferencial do novo bacharel em relação aos colegas de faculdade é o fato de ele ser deficiente visual. Formado, apesar das dificuldades, ele pretende agora montar uma consultoria jurídica e ser professor universitário.

Santos falou ao G1 sobre os obstáculos que a cegueira impõe, principalmente em relação à dependência de outras pessoas. “Antes de ficar cego, em 2008, após uma herpes ocular que infeccionou minhas retinas, eu era completamente independente. Hoje, apesar das adaptações, preciso de outras pessoas para fazer certas coisas, como ir à padaria comprar um doce, por exemplo”, disse.

Servidor público há 22 anos no setor de compras da Prefeitura de Piracicaba, Santos começou o curso de direito em 2002, mas parou três anos depois por falta de condições financeiras. “Eu quis fazer o curso por lidar com assuntos relacionados a licitações na Prefeitura. Quero abrir uma consultoria em direito público e esse já era um dos meus sonhos antes mesmo de eu ficar cego. A ideia nova é ser professor universitário", disse.

 

Depressão e apoio
O bacharel em direito disse que chegou a ficar oito meses dentro de casa, devido à dificuldade de retomar a vida profissional após a cegueira. “Não tinha vontade de fazer nada. Eu estava me recuperando, me informando sobre minhas condições, mas demorava a voltar ao trabalho. Aí desanimei e acabei ficando dois anos afastado”, contou.

Santos também disse que recebeu apoio da família e de amigos, mas ainda assim percebeu que havia um certo preconceito de outras pessoas sobre sua deficiência. “Diretamente não percebia nada, mas notava que algumas pessoas me desprezavam de alguma maneira. Muitos não sabem lidar com uma pessoa cega, aí surge o preconceito. É falta de informação.”

Retomada e sonhos
O funcionário público contou que a "virada" aconteceu após ele fazer terapia, voltar a namorar, estudar e retornar ao trabalho. “Foi tudo muito rápido, em um período de seis meses. No começo de 2011 voltei para a Prefeitura, uma semana depois conheci a Karolina, que atualmente é minha noiva. Em julho do mesmo ano voltei a estudar”, relatou.

Após a graduação, Santos disse que quer continuar a estudar, para poder ajudar outras pessoas no futuro, cegas ou não. “Quero dar um exemplo para a sociedade. Foi um baque no começo, quando perdi a visão. É tudo muito difícil, mas toquei a vida pra frente”, encerrou.

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