sábado, 7 de abril de 2012

Adolescente de 14 anos cria projeto voluntário em escola de Boituva, SP

 

A adolescente de 14 anos auxilia em diversas atividades. A ação voluntária ocorreu depois que a casa dela foi destruída por fogo.

Do G1 Itapetininga e Região

Igreja Matriz Boituva

Uma adolescente de Boituva (SP) resolveu criar um projeto para ajudar a escola onde estuda. Natália Franciele Rodrigues, de 14 anos, apresentou a proposta chamada de "Aluno Amigo da Escola"  ao diretor da unidade onde está matriculada, a escola municipal Professora Branca Sellas Agostinho, no bairro Vila Aparecida. O projeto da garota trazia a ideia de que alunos participassem como voluntários auxiliando os professores.

A proposta foi aceita e a primeira inscrita no projeto foi a própria autora. Desde o início de março, Natália é uma 'Aluna Amiga da Escola'.

Natália conta que estuda de manhã. Já no período da tarde vai à escola para ajudar nas tarefas que ficou responsável. "Saio da aula às 12h20 e vou para casa. Ajudo minha mãe. Por volta das 13h30 retorno para a escola. Venho sem almoço de casa, porque deixo para comer na própria escola. Eu fico até o fim do período da tarde", conta.

A jovem diz que as funções que assumiu como voluntária são: ajudar na conferência de frequência dos alunos; cuidar das pastas com as atividades deles; ajudar na organização da quadra, além de outras ações é indicada. "Às vezes, até ajudo os professores na sala", conta orgulhosa.

Para o diretor da escola, Itamar Gomide Mariano, 29 anos, a ação da jovem acaba incentivando outras pessoas. "Já temos outras duas meninas interessadas em participar do projeto", diz. O diretor conta ainda que todos os professores elogiam ela, que se mostra muito prestativa. "Ela organiza fila, auxilia os professores, ajuda na sala de informática e biblioteca e bate um papo com os alunos do período da tarde, que acabam passando para ela suas necessidades. Além disso, ela ajuda com ideias, sugerindo outras atividades", explica.

De acordo com o diretor, este tipo de ação ajuda a buscar a identidade da escola junto ao aluno. "Isso fortalece o envolvimento da escola com a comunidade. Faz com que o aluno goste de usar o uniforme da escola, que diga que aquela escola é legal, faz sentir orgulho disso", conta Mariano. O educador afirma ainda que quer fazer da escola um ponto de referência social para os jovens do bairro. Ele aponta que faltam ações sociais na Vila Aparecida e que, quando estão fora da escola, a opção para os jovens se resume em televisão e rua.

Itamar conta também que a atitude de Natália dá ânimo para os gestores e cria novas possibilidades. "Estamos com algumas ideias, como criar o grêmio escolar e incluir atividades aos sábados. Encontramos um professor de capoeira que se ofereceu para dar aulas de graça na escola", conta o diretor animado.

O gestor explica que a aluna fica na escola em período inverso ao que estuda e que as atividades, apesar de parecerem simples, têm grande valia para os professores.

O início
A estudante conta que resolveu ajudar depois de passar por um período difícil. Natália relata que morou em Boituva dos três aos 12 anos, quando em 2010, a família se mudou para a região do Vale do Ribeira (SP). "Nesse mesmo ano, nossa casa pegou fogo. Tudo o que um adolescente tem, eu tinha, mas perdi tudo no incêndio. Depois disso, voltamos para Boituva".

A jovem comenta que, ainda abalados com a perda da casa, em 2011, sua avó paterna morreu. Como era muito apegada a ela, ficou depressiva. "Minha avó era a minha segunda mãe. Fiquei muito mal com isso. Não comia direito e comecei a ter crises como a de me achar gorda. Cheguei a ficar dias sem comer", conta.

Ainda em 2011, Natália assistiu um filme e resolveu mudar sua vida. "Não lembro o nome do filme. Só lembro que era de uma garota que resolveu mudar de vida. Ela queria ser lembrada, fazer história. Ao ver o filme senti a mesma emoção. Também quero fazer a minha história, ajudar as pessoas, ser lembrada. Foi aí que surgiu a ideia do projeto", revela.

Para a mãe da garota, Bernadete Rodrigues Werneq, 32 anos, a mudança da garota é notável. Ela diz que a filha está bem diferente. "Ela está bem mais alegre. É muito bom. Acho que foi por causa do projeto".

Bernadete diz que, tanto ela, quanto o marido, apoiaram a ideia da filha em ajudar na escola. "Assim ela não fica na rua e ocupa o tempo ocioso. Fico mais tranquila em saber que está na escola ajudando outras crianças. É mais seguro para ela", desabafa a mãe. Quando a filha diz que quer ser professora, a mãe até se exalta. "É o sonho de muita gente. Espero que consiga. Até eu estou pensando em voltar a estudar", diz.

Crescimento
A jovem conta que usava muitas gírias e que se comunicava mal. Depois que começou a fazer esse trabalho voluntário, passou a ter mais contato com outras pessoas e melhorou muito seu vocabulário. Ela também confessa que nem se preocupava com a profissão que iria seguir. "Hoje já decidi que quero ser professora de artes. Depois que comecei no projeto, passei a observar mais o trabalho da professora de artes e gostei", conta a possível futura educadora.

Natália afirma que está gostando do trabalho voluntário. Ela diz que, enquanto suas amigas passam à tarde na Internet, ela está ajudando outros na escola e afirma que gosta disso. "Perdi meu computador no incêndio. Mas não sinto a falta dele. Me ocupo com o projeto". Natália está no último ano do ensino fundamental e conta que a escola não tem ensino médio. "Mesmo tendo que ir para outra escola, pretendo continuar ajudando a qual passei bastante tempo estudando. Tenho uma ligação muito forte com essa escola", finaliza.

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