segunda-feira, 12 de março de 2012


No dia internacional da mulher, trazemos aqui uma grande mulher do século XX.  Personalidade polifacética e inspiradora, tem sido o ícone e o símbolo da vida de muitos.  Lamentavelmente na América Latina é praticamente desconhecida, não tendo quase nenhuma de suas obras traduzidas ao espanhol e português.
Trata-se de Dorothy Day, jornalista norte-americana de grande idealismo que a certa altura teve um encontro profundo com o Deus de Jesus Cristo e tornou-se uma grande líder católica.  Sua pessoa é referência obrigatória quando se trata de pensar a doutrina social da Igreja pois ela a viveu e pôs em prática de maneira gigantesca e impressionante.
Dorothy Day nasceu em Nova York em 1887.  Passou a maior parte de sua infância em Chicago, onde foi aluna da Universidade de Illinois em Urbana Champaign durante dois anos antes de retornar a Nova York com sua família em 1916.
Ao se mudar para Nova York, Dorothy encontrou um trabalho como repórter do jornal The Call, o único jornal socialista da cidade.  Depois disto trabalhou para a revista  The Masses, que fazia oposição ao envolvimento dos EUA na guerra que acontecia na Europa e foi fechado em setembro de 1917.  Em Novembro deste mesmo ano, Dorothy Day foi para a prisão pelo fato de ser uma das quarenta mulheres diante da Casa Branca a protestar contra a exclusão das mulheres do direito de votar.  Chegando a casa de detenção , as mulheres foram tratadas com brutalidade, respondendo com uma greve de fome. Foram finalmente libertadas por ordem presidencial.
Em Nova York, Dorothy levou uma vida muito agitada e boemia.  Teve um caso com um jornalista, engravidou e fez um aborto.  Depois, teve uma união civil com outro homem, um botânico, com quem teve uma filha.  Sua conversão ao Catolicismo seguiu-se ao nascimento de sua filha.  E seu próprio Batismo foi seguido pela ruptura da relação com seu parceiro, que não aceitava sua opção religiosa.
Logo após, encontrou Peter Maurin, filósofo e pedagogo francês, discípulo do personalismo de Emmanuel Mounier, com quem aprendeu a teologia e a doutrina que seguia apenas por intuição. .  Nele, Dorothy Day encontrou um cristão  e um reformador com quem experimentava comunhão de mente e de sentir. Em 1933, em plena Grande Depressão norte-americana,  ambos deram inicio ao movimento Catholic Worker, que não apenas publicou um jornal influente, mas fundou uma quantidade de casas de acolhida para servir aos desabrigados e desempregados que o “crack”da Bolsa de Nova York em 1929 havia multiplicado exponencialmente. Dorothy Day fez-se pobre para servir os pobres e todo infeliz e necessitado passou a encontrar uma maternidade em seu generoso coração.
.  Se tentarmos definir o perfil dessa mulher, podemos dizer que  era certamente uma revolucionaria, mas desejando sempre fazer uma  “ revolução do coração” . Ela é também certamente uma mística, mas uma mística fora do comum.  Nos anos 60 foi apreciada e louvada pelos lideres da contra-cultura, como Abbie Hoffman, que a caracterizou como a primeira “ hippie” , uma descrição que ela aprovou e da qual gostou.  Escreveu apaixonadamente sobre os direitos da mulher nos anos 10, mas não estava de acordo com a revolução sexual dos anos 60, tendo observado como observou em sua própria pessoa e ao redor de si os efeitos devastadores da mesma nos anos 20.
Era alguém que conseguia combinar uma atitude progressista na direção dos direitos sociais e econômicos com um sentido muito ortodoxo e tradicional da fé e da piedade católicas.  No entanto, sua devoção e obediência a Igreja não eram cegas ou acríticas. Por exemplo, ela condenou publicamente o líder falangista espanhol Francisco Franco durante a Guerra Civil Espanhola, o que lhe valeu a oposição de muitos católicos norte-americanos, clérigos ou leigos.  E teve que mudar o nome de seu jornal (Catholic Worker), “ “ostensivamente porque a palavra “católico” implica uma conexão eclesial oficial, quando este não era o caso. “ Suas principais lutas foram por justiça e paz.  Por isso viveu e morreu.  Sua peregrinação terrestre terminou em Maryhouse, em New York City, em 29 de  novembro de 1980, onde ela morreu no meio dos pobres. 
Dorothy Day dizia sempre: “ O maior desafio de hoje e: como fazer acontecer a revolução do coração, uma revolução que tem que começar com cada um de nos” ? Que no Dia Internacional da Mulher ela possa inspirar-nos – sobretudo a nós, mulheres -  essa revolução sempre necessária e hoje talvez mais que nunca.  No dia em que a mulher se “esquecer”do coração, a humanidade certamente estará em maus lençóis.

Autor: Maria Clara Bingemer

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