quarta-feira, 22 de julho de 2009

série fraternidade e minoridade

Fraternidade e Minoridade

Por Fr. Almir Guimarães, ofm

21. Donald Spoto, no seu Francisco de Assis. O Santo Relutante (Objetiva, 2003) afirma, com razão, que o leproso foi o lugar da manifestação, da epifania de Cristo para Francisco. Depois do famoso encontro relatado pelo próprio Francisco e repetido mil vezes pela hagiografia, o Poverello ficou diferente. Começou a “deixar o mundo”, a fazer penitência, a mudar o coração, a ser um penitente de Assis. O cuidado pelos leprosos não significou para ele apenas colocação de gestos de benevolência ou de “caridade”. Spoto compreendeu bem. “Com este único ato de caridade, Francisco, aparentemente transformou-se, pois ao chegar à Umbria não apenas retomou a restauração de São Damião, mas começou também a cuidar dos leprosos, tarefa raramente empreendida por quem quer que fosse. Para isso precisava não apenas mendigar comida em nome deles e alimentá-los, mas também levá-los a um regato ou fonte próxima para lavar as feridas. Em nome de Deus, servia a todos eles com grande amor. Lavava a imundície e até mesmo limpava o pus de suas chagas. Seu carinho, em outras palavras, significava mais do que simplesmente não demonstrar aversão. Significava a disposição de ficar em companhia deles justamente porque eram rejeitados. Significava tomar com estrita literalidade o ensinamento do Evangelho de que cuidar dos necessitados era o mesmo que cuidar do Cristo solitário, moribundo e nu” ( P. 101-102). Francisco não experimenta doçura apenas na oração, mas de modo especial, quando cuida das chagas dos leprosos. Indo na direção dos leprosos, Francisco se dirige a um “santuário” de Cristo, onde ele está presente. Não vai tanto para dar, quanto para receber. Não vai praticar boas obras de caridade, mas se aproxima da fonte da dor de Cristo que mora no leproso.


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