quarta-feira, 18 de julho de 2012

A figura histórica de Jesus

 

Quem é Jesus? Que sabemos dEle? O autor deste artigo define a figura de Cristo como “uma pedra de escândalo para a razão”.

Nos anos que marcam o começo do terceiro milênio parece que se tem despertado no mundo um interesse especial por Jesus de Nazaré. Na realidade, os livros escritos nos últimos anos sobre sua figura e sua pessoa, mesmo que nem todos positivos, põem em relevo a atualidade e a transcendência do Filho de Deus feito homem, e o atrativo de sua vida.
De fato, em sua comunhão com o Pai, Jesus se faz presente hoje diante de nós. E o que traz Jesus, que dá ao mundo? A resposta é Simples: Deus[1].
Aviva a tua fé. – Não é Cristo uma figura que passou. Não é uma recordação que se perde na história. Vive! "Jesus Christus heri et hodie: ipse et in saecula!", diz São Paulo. Jesus Cristo ontem e hoje e sempre![2]
A pregação da Igreja primitiva apresenta sempre Jesus Cristo como Filho de Deus e único Salvador. A proclamação do Mistério Pascal levava consigo um paradoxal anuncio de humilhação e de exaltação, de vergonha e de triunfo: nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. Mas para aqueles que são chamados,tanto judeus como gregos,ele é o Messias, poder de Deus e sabedoria de Deus[3].
Não foi fácil para os primeiros cristãos superar o escândalo da cruz, a realidade da crucificação e morte do próprio Filho de Deus. Daí a tentativa dos docetistas e dos gnósticos de negar que Jesus tivesse um corpo real e passível, ou o de Nestório, dois séculos mais tarde, de afirmar a existência em Jesus Cristo de duas pessoas, uma humana e outra divina.
A nenhum estudioso sério escapa, sem dúvida, o feito histórico de Jesus de Nazaré. Mesmo que não haja uma grande quantidade de dados extra-bíblicos sobre sua pessoa e sua missão, são suficientes para afirmar, sem dar lugar a dúvidas, sua passagem pela terra. É substancialmente aceito, por exemplo, o testemunho de Flávio Josefo. Em um de seus livros, este historiador judeu do século primeiro se refere a Jesus como “homem sábio (...); Ele realizou obras extraordinárias, sendo um mestre de homens que acolhem a verdade”[4]. Mais adiante escrevem sobre Jesus, durante o império de Trajano, Plínio o jovem e Tácito; e depois o fará Suetônio, secretário de Adriano.
Junto a essas referencias, os evangelhos constituem “o testemunho principal da vida e doutrina da Palavra encarnada, nosso Salvador” [5]; são as fontes que proporcionam uma visão detalhada de sua personalidade.
A Tradição da Igreja, sob a inspiração do Espírito Santo, reconheceu nestes escritos a configuração autêntica e segura da figura histórica do Senhor, uma figura histórica que possui um caráter divino.
O valor dos evangelhos como fontes primárias para conhecer a Jesus não foi posto em dúvida por cristãos até finais do século XVIII. Neste momento, surgiram alguns autores que pretenderam analisá-los com critérios historiográficos e positivistas, eliminando as narrações que consideravam inaceitáveis para o homem moderno; isto é: os milagres e as profecias, só explicáveis pelo caráter extraordinário da intervenção divina na história. Tratava-se da primeira tentativa de estudar os evangelhos só como livros de história, sem considerar seu conteúdo sobrenatural, um projeto que abordava os textos excluindo a fé na divindade de Cristo.
A partir de então, abundaram as “vidas de Jesus” nas quais Cristo aparecia como um de tantos candidatos a messias; um fracassado condenado a morte pela autoridade romana que, esta sim, possuía uma indubitável autoridade moral.
Deste modo, com frequência, estas pretensas biografias históricas retratavam mais o caráter de quem as escrevia que de Jesus Cristo.
Posteriormente, o avanço dos estudos exegéticos levou a uma forte reação contra este planejamento: passou-se a considerar os evangelhos como textos escritos com fé sincera, mesmo que desvinculados das coordenadas da história; não se superou o ceticismo sobre a divindade da figura histórica de Cristo. Nos últimos decênios, os novos critérios metodológicos têm permitido uma leitura teológica da Bíblia mais de acordo com a fé [6].  A verdade proclamada pela Igreja sobre o Filho de Deus, que depois de vinte séculos continua sendo uma pedra de escândalo para a razão, é a de uma Pessoa ante a qual cada um deve comprometer sua própria vida através de um ato de fé; porém não uma fé puramente confiada ou beatona, mas uma fé que se apóia em que o próprio Deus falou e atuou na história; uma fé que crê na vida e obras reais do Filho de Deus feito homem, e que encontra nEle a razão de sua esperança.
A importância da realidade histórica da mensagem evangélica se fez patente desde os primeiros instantes do cristianismo; como assinala São Paulo, se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm [7].

[1] Cfr. Joseph Ratzinger – Bento XVI, Jesus de Nazaré, cap. 1 e 2.
[2] Caminho n. 584.
[3] 1 Cor 1, 23s.
[4] Cfr. Flávio Josefo, Antiquitates Judaiae, 18, 3, 3.
[5] Conc. Vaticano II, Const. dogm. Dei Verbum, n. 18.
[6] Cfr. Joseph Ratzinger – Bento XVI, Jesus de Nazaré (I), Introdução.
[7] 1 Cor 15, 14.
[8] Cfr. Mt 13, 18; Mc 6, 50.
[9] Catecismo da Igreja Católica, n. 515.
[10] Amigos de Deus, n. 216.
[11] Cfr. Lc 11, 20.
[12] Mc 14, 36.
[13] Mc 1,1.
[14] Mc 15, 39.
[15] Lc 23, 46.
[16] Jo 20, 31.
[17] Jo 8, 54.
[18] Jo 20, 17.
[19] Cfr. Jo 21, 25.
[20] Cfr. Joseph Ratzinger – Bento XVI, Jesus de Nazaré (I), cap. 4.
[21] É Cristo que passa, n. 107.
[22] É Cristo que passa, n. 107.

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