Cerca de 98% dos pacientes tratados com terapia combinada de antidepressivos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na cidade de Porto Feliz utilizaram os medicamentos fluoxetina e diazepam por um período de tempo maior do que o recomendado pelos guias terapêuticos e protocolos nacionais e internacionais, segundo estudo realizado no Mestrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso).
A pesquisa esbarra em um problema mundial. A promoção do uso racional medicamentos, isto é, quando há prescrição, dose e período de utilização adequados às condições do paciente constitui hoje uma das preocupações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e também uma das diretrizes da política nacional de assistência farmacêutica. No estudo, foram analisadas 4.183 prescrições, além de prontuários médicos, e realizadas entrevistas à equipe clínica do Município, no período de 2008 e 2009. Foi constatado que em metade das prescrições os pacientes consumiram os medicamentos por mais de 360 dias ininterruptamente, sendo que a terapia combinada só deve ser ministrada por até quatro semanas, de acordo com os padrões recomendados. Como não há benefícios comprovados após quatro semanas, além do tratamento ser dispensável, seu prolongamento pode trazer riscos à saúde do paciente, como dependência, desenvolvimento de tolerância ao medicamento e aumento do risco de quedas entre os idosos.
A pesquisa faz parte da dissertação de Mestrado "Uso de antidepressivos e benzodiazepínicos no Sistema Único de Saúde de Porto Feliz", defendida no final do ano agora encerrado por Izabela Fulone e que rendeu à autora uma apresentação na 3ª Conferência Internacional sobre Uso Racional de Medicamentos/ICIUM 2011, realizada na Turquia, em novembro. De acordo com Izabela Fulone, o estudo evidencia principalmente a falta de critério no uso dos medicamentos, que pode ser ocasionada por vários motivos, como a falta de um serviço adequado de psicoterapia e de atendimento diferenciado ao paciente com distúrbio psiquiátrico, entre outros problemas enfrentados pelo sistema de saúde pública no Brasil. "Os resultados sugerem a necessidade de reavaliação do tempo de terapia combinada, além de medidas educativas voltadas aos pacientes e maior capacitação dos prescritores e dos serviços prestados, incluindo a reavaliação da psicoterapia oferecida pelo Município, assim como uma revisão da Remume (Relação Municipal de Medicamentos Essenciais)", afirma Izabela.
O estudo foi orientado pela professora Luciane Lopes, coordenadora junto ao Ministério da Saúde das comissões responsáveis pela elaboração da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) e do Formulário Terapêutico Nacional (FTN), que fornecem aos profissionais da saúde a base para a prescrição dos medicamentos mais utilizados pela população. A Rename e o FTN são instrumentos valiosos para a gestão da assistência farmacêutica no País.
fonte: http://www.diariodesorocaba.com.br/site2010/materia2.php?id=220706
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